O paraíso dos maus políticos


O genial Marcos Rolim escreveu certa feita que “não há democracia sem representação”. E acrescentou: “a ausência de representação política é mesmo inconcebível em sociedades modernas. Na verdade, mesmo muitos povos indígenas, organizados socialmente em estruturas não complexas, fazem uso de formas variadas de representação”.
Rolim referia-se, evidentemente, à representação legítima. Aquela em que o eleitor sente-se abraçado pelas ações e palavras (para "o bem ou para o mal") do eleito. Não é o critério que vêm determinando a eleição do Parlamento Hervalense. Contamos, por certo, com representantes legítimos das vontades (para o bem ou para o mal, repito) do seu eleitorado, mas na maioria dos casos, o que há é a usurpação do direito e do dever de representar e ser representado.
Mas isto não ocorre apenas pela demagogia e o oportunismo de alguns políticos, mas também pelo “analfabetismo político” de grande parte da população apta a votar, que acaba trocando o direito de se fazer representar numa instituição tão importante como a Câmara de Vereadores por alguma vantagem eventual ofertada durante o período eleitoral. Ou seja, a população cobra legitimamente do poder público o atendimento dos seus direitos, como saúde, educação, estradas, acesso à informação sobre os atos administrativos, mas não raro vota em candidatos sem nenhum compromisso com a efetivação desses direitos. Resultado: é choradeira na certa onde deveria haver CIDADANIA.
O mais comum é as pessoas votarem em troca de um favor, uma porta, uma janela, o pagamento de uma conta de água, luz ou gás, uma promessa de emprego temporário ou coisa parecida. Tem gente que vota apenas em troca de um sorriso, um abraço, um aperto de mão, um tapinha nas costas dado pelo (a) candidato (a)... Pior ainda, tem gente que se julga esclarecida politicamente que vota num (a) candidato (a) levando em conta apenas os laços de amizade, vizinhança ou parentesco, o que é louvável, mas não serve como parâmetro seguro para a escolha de uma boa representação política.
Temos também o chamado “voto de compromisso”, no qual o eleitor se amarra logo de cara na promessa de votar num (a) candidato (a), sem antes analisar a forma e o conteúdo geral da disputa eleitoral. O pior é quando trancam os pés e se recusam a voltar atrás nesta sua escolha, mesmo diante de uma outra candidatura mais afinada com suas visões e visivelmente mais preparada para a tarefa representativa. Retidão de caráter ou outra forma de analfabetismo político? Uma tola mesquinharia, penso eu. E o que não falta é gente “altamente politizada” disposta a sacrificar o interesse público na intenção de honrar sua palavra nem sempre empenhada num momento de lucidez.
Analisemos o desempenho dos eleitos ou postulantes a um mandato eletivo, mas também vigiemos o nosso comportamento como eleitores (as). A mudança para melhor da realidade política, cultural, econômica, social e ambiental do nosso município não começa nem termina no voto, mas certamente passa por ele. Reclamar ajuda, mas é pouco diante do enorme desafio de aperfeiçoar as instituições públicas e semear a colheita de um futuro melhor para a nossa gente.

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