Do mais fundo de mim mesmo



Estive afastado de tudo e de todos. Durante algum tempo entranhei-me numa viagem longa e profunda ao interior do meu ser convulso. Quando se passa dos trinta é preciso cuidar mais atentamente da vida, ou coisa parecida, como adverte Belchior.

Exatamente por isso, andei pelechando um pouquinho nos últimos tempos...

O que não quer dizer que eu tenha jogado meu antigo ideário no lixo. Não é isso. Não me julgo nem melhor nem pior que antigamente, apenas diferente e com sede de navegar por águas mais calmas.

Na verdade, o meu contato mais intenso com a realidade que me cerca, além de alguns reveses e frustrações muito minhas, me conduziram na direção desta viagem pelos meus “interiores”.

De repente percebi que os meus óculos embaçados não mais me ofereciam uma visão clara das coisas que aconteciam a minha volta, e especialmente dentro de mim mesmo. O Toninho que andava no mundo e o mundo que andava no Toninho estavam separados por um abismo, e erguer uma ponte entre esses dois mundos já não era mais possível servindo-me de antigas interpretações.

Diante de mim, a vida seguia seu curso por estradas completamente diferentes daquelas indicadas pelos “mapas de bordo” por mim traçados para percorrê-la e eu perdido, a procura de “um trem que não passa por aqui, que não passa de ilusão”. E eu parado a pedir carona na estrada da vida, “com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”.

Por conta disso, fui empurrado para um longo e profundo mergulho ao mais fundo de mim mesmo, e aos poucos começo a emergir novamente. Mas as águas deste mergulho acabaram me lavando por inteiro e levando consigo um mar de antigas certezas...

É como seu eu tivesse sofrido um acidente de graves proporções, que ao invés do meu corpo, lesionou minha alma. Desta forma, me vi obrigado a nascer novamente para a vida, conservando intactas as velhas memórias e tendo que carregar sobre as costas a bagagem pesada das minhas vivências viciadas.

Muito lentamente venho reaprendendo a andar por este mundo. Disposto a seguir por novas rotas e guiado por novas bússolas. Como diria o poeta Thiago de Mello, “não, eu não tenho um caminho novo, o que eu tenho de novo é o jeito de caminhar”.

Comentários

Unknown disse…
Sempre que posso dou uma passada por aqui. Gosto das coisas que escreves.Te acho uma pessoa muito inteligente e interessante.
Parabéns!
É bom saber que temos pessoas com tu aqui na nossa pequena Herval.
Magda

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