Pensar é preciso!
OS GOLPISTAS ENCABULADOS
Por Moisés Mendes
O Brasil não será o mesmo depois
das passeatas desta semana. A primeira, do dia 13, anuncia-se
como uma mobilização pela Petrobras e pelas conquistas sociais. A segunda, do
dia 15, se propõe a combater a corrupção e, no que está subentendido, mas não
fica claro, também pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O Brasil se divide ao meio de
novo, mas algumas coisas devem ser melhor explicitadas. Nomes que refugam a
tese do impeachment já mostraram a cara, sem volteios. Falo de reputações acima
de partidos, como Bresser-Pereira, Ricardo Semler, Luis Fernando Verissimo,
Leonardo Boff.
Mas quem, do outro lado, defende o
impeachment, além de Bolsonaro e de militantes das redes sociais? Quem, entre
intelectuais, jornalistas, articulistas conhecidos – entre os tais formadores
de opinião – diz claramente que é pela interrupção do segundo mandato de Dilma?
Quem, sem subterfúgios, sem
enrolação, sem atribuir pontos de vista aos outros, sem medo de correr riscos,
sem a conversa fiada de que é contra tudo o que está aí, diz abertamente que
defende o impeachment e a passeata do dia 15 pelo fim deste governo?
É difícil. Há, entre os
articuladores do impeachment, um acovardamento que envergonharia os
lacerdistas, seus ancestrais golpistas dos anos 50. É constrangedora a falta de
desprendimento dos que deveriam dizer que não suportarão os quatro anos do
segundo mandato e que o grande sonho do revanchismo é fazer o governo sangrar
até o impeachment ou a renúncia de Dilma.
O golpe está apenas nas
entrelinhas do discurso. Por isso, esta é uma semana para não esquecer. É agora
que os indecisos, se é que existem, escolhem a sua passeata, ou ficam em casa
vendo a banda passar.
Surge, então, aquele temor de que
em algum momento, ou por um dia, ou para sempre você poderá estar, diante de
uma questão essencial, alinhado a uma certa gente estranha. São os riscos das
livres escolhas.
Posso estar errado, mas erro com
convicção. Decidi seguir a turma dos já citados lá no começo, com os quais
nunca teria grandes estranhamentos.
Estou com Bresser-Pereira,
Leonardo Boff, Luis Fernando Verissimo e Ricardo Semler. Não cheguei (e espero
não chegar nunca) a uma situação extrema que me faça alinhado com o Bolsonaro.
Publicado originalmente no jornal Zero Hora
Comentários