Ato político
Ato político serve-se hoje do tino impressionante e indispensável de Emir Sader. Quando crescer quero ter a mesma capacidade do grande mestre de enxergar o desenrolar da cena pública para além das aparências e das urgências.
No mundo das ilusões da
velha mídia
Imaginemos alguém que só
lesse, escutasse ou visse a velha mídia. Que visão teria do Brasil e do mundo?
Em primeiro lugar, não poderia entender por que um governo – corrupto,
incompetente, com a economia à deriva, nomeando ministros como troca-troca
eleitoral, que cobra muitos impostos, que está atrasado na entrega de todos as obras, do PAC, do Mundial e das Olimpíadas, que tem
politica exterior aventureira, etc., etc. – tem 75% de apoio do povo.
Não entenderia como um líder como o Lula – que tem 80% de referências negativas
na mídia – consegue que 69,8% dos brasileiros queiram que ele volte a ser o
presidente do Brasil em 2014.
Não poderiam entender como o PT – partido corrupto, protagonista do maior
escândalo da historia do Brasil – sai fortalecido das eleições municipais,
eleja mais prefeitos e mais vereadores e ameace tirar dos tucanos a prefeitura mais importante do Brasil, a de São Paulo – tão bem administrada
pela competência dos tucanos.
Não saberiam por que a economia brasileira não naufraga, se leem todos os dias
que tudo vai mal, que o governo faz tudo errado, que a economia não cresce. Por
que o governo continua a estender as políticas sociais, sem os recursos que a
economia deveria lhe dar.
Não entende por que o FHC dá seu apoio e participa da campanha do candidato
tucano no Rio – junto com o Aécio e o Álvaro Dias -, mas o candidato tem apenas
2,47% dos votos. Como os tucanos e o DEM perderam 332 prefeituras, sendo os
mais preparados para governar.
Leem numa revista semanal que a Argentina é “governada por autoridades cada vez
mais repressoras”, que “bloqueiam as liberdades individuais, como o acesso à
livre informação, a bens de consumo e ao capital”. Que o governo “já tem o
controle autoritário de 80% (sic) dos canais de radio e tv do país”. Que “na
ilha de Cristina, os cidadãos só leem o que ela quer”.
Que as grifes “Escada, Armani e Yves Saint-Laurent fecharam suas lojas no
país”, assim como a Vuitton e a Cartier. Que a “Avenida Alvear está com ares de
fim de feira”. Que “na ilha de Cristina os investidores são tratados como
piratas”.
E, no entanto, a Cristina é reeleita no primeira turno. Como entender isso,
vendo a velha mídia?
Como entender que a Venezuela está se desfazendo, entre a ineficiência da sua
economia, a corrupção e a violência, mas o Hugo Chavez é reeleito para um
quarto mandato?
Que a América Latina vai bem enquanto os EUA e a Europa vão mal?
Tudo parece de cabeça pra baixo, o mundo parece absurdo, incompreensível, para
quem depende da velha mídia, dos seus jornais, das suas revistas, dos rádios e
das suas TVs.
Por Emir Sader
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