Ato político



Diante do escrito de Emir Sader que ora reproduzo, o qual dá um choque de realidade nos tantos ou tontos que embarcaram na onda das fake news, só me resta fazer coro com o canto de Humberto Gessinguer e os Engenheiros do Hawaii: Ah... vida real!



É o Estado, imbecil

Desde o momento em que Ronald Reagan disse que: "O Estado deixou de ser solução, para ser problema", as grandes disputas políticas e os maiores debates de ideias sobre o Estado passaram a ocupar o centro do mundo contemporâneo. O neoliberalismo diabolizou o Estado – acusado de ineficiente, corrupto, burocrático, excessivamente tributador, expropriador de liberdade dos indivíduos -, para melhor abate-lo, ou melhor, colocá-lo na situação de Estado mínimo, diante da promovida centralidade do mercado.
Do que se tratava era de liquidar o caráter de regulação do mercado que o Estado havia assumido desde o fracasso espetacular do liberalismo na crise de 1929. A isso se dedicou o neoliberalismo nas últimas décadas do século passado e nas primeiras deste: liquidar o patrimônio estatal, terminar com as políticas sociais com que o Estado temperava a selvageria do mercado, acabar com a proteção dos mercados internos e com os Estados nacionais.
Como efeito dessas políticas, aumentaram as desigualdades entre os países, entre as regiões do mundo e entre as classes sociais dentro de cada pais. Mas, além de tudo, o primado do mercado rebaixou os níveis de crescimento econômico a seus piores níveis em muito tempo, aumentaram o desemprego e a precarização das relações de trabalho, adotaram a exclusão dos direitos sociais como políticas de Estado. O mundo se tornou mais injusto, quanto mais o liberalismo voltou a primar. Justo essa ideologia que pretende afirmar a igualdade de todos diante da lei, é quem mais promove a desigualdade e a exclusão social.
Mais recentemente Donald Trump, diante dessa realidade, introduziu novas formas de fazer política, inventando um mundo irreal, onde buscar os bodes expiatórios, para os quais pretende desviar a atenção das pessoas em relação ao fracasso da nova versão do liberalismo. O Estado continuou a ocupar o centro da lista de bodes expiatórios com que a direita pretende governar, até ter que se enfrentar com o mundo realmente existente.
Trump achou que resolveria na violência conflitos como aqueles que os EUA têm com países como a Síria, o Irã, entre outros, métodos que já haviam fracassado estrepitosamente em países como o Iraque e o Afeganistão, destruídos pela ocupação militar estadunidense, mas de onde, ainda assim, os EUA não conseguem sair, porque o conflito militar nunca termina.
Trump achou que manteria o mundo sob a dominação unilateral norte-americana, a começar pelos seus aliados, a Europa em primeiro lugar, assim como submeteria a Rússia e a China com suas ameaças. Fracassou de novo, os EUA estão num grau de isolamento como nunca antes haviam estado.
O mundo se rebela contra a falsa imagem que Trump projeta dele e lhe devolve derrotas, de que as mais recentes foram a reabertura do governo sem os recursos para a construção do muro na fronteira com o México, e a falta de maioria nem na OEA, nem na ONU, para condenar o governo da Venezuela.
Os que seguem as trilhas de Trump, já como farsa, como é o caso do Bolsonaro, também se esborracham, rapidamente, contra a realidade que se negavam a reconhecer, escondida sob o manto das suas "fakenews" e do mundo fantasioso que pretendiam que existisse. Em menos de um mês a realidade voltou como bumerangue e deixa seu governo em palpos de aranha, desmentindo rotundamente palavras pelas que jurava e em base às quais montou sua milícia para governar o pais.
O desastre anunciado da represa de Brumadinho fez com que ele e alguns dos seus principais assessores, se encarregassem de desmentir rapidamente aqueles preceitos pelos quais juravam. Iam liberar geral as obras que interessasse, considerando que havia uma indústria de multas, mas tiveram todos que se render à necessidade de rigor maior na concessão das licenças, aplicar multas à empresa e prender a 5 executivos, enquanto o vice-presidente articulava a substituição da direção atual da Vale.
Na hora da crise, como acontece com os governos liberais, apelam para o Estado e desmentem seu próprio receituário. É hora da esquerda recolocar com força o debate sobre o Estado, resgatar o seu papel regulador, demonstrar que catástrofes como essa não existiam quando a Vale era estatal e só podem vir a ser prevenidas no futuro, com uma enérgica ação do Estado. Porque disso se trata: do Estado e do mercado, da regulação estatal ou a selvageria desenfreada provocada pela centralidade do mercado.

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