Ato político


Como já revelei em outras oportunidades, não assino embaixo de tudo que Juremir Machado da Silva pensa, fala ou escreve.

No entanto, respeito suas posições acerca da política nacional, sobretudo nesse momento de turbulência, porque essas costumam enxergar os dois lados, além de serem sóbrias, respeitosas e embasadas. Longe da histeria ou das opinionites de quem não conhece a história ou os grupos que disputam historicamente o poder no país e saem por aí externando de público toda sua estupidez ou meramente repetindo os jargões da grande mídia e daqueles que sempre abafaram a corrupção e jogaram o Brasil para baixo e agora posam de vestais e salvadores da pátria.

Gente digna de pena, desde sempre desinformada, mal intencionada, hipócrita ou incompetente que aposta no quanto pior melhor e no famoso “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”!

Estou e sempre estive aberto ao debate franco, fundamentado e sério das ideias, mas não cedo espaço nem me curvo diante dessa turma sem lenço, sem documento, sem escrúpulo e, a julgar por seus atos insanos na cena atual do país, sem nada na cabeça.

Não é o caso de Juremir, pois mesmo que não concorde com tudo, reconheço que ele tem forma, conteúdo, muito a dizer e sempre merece ser ouvido ou lido.

  
Pedaladas e falácias econômicas


Eu pergunto sinceramente: deveria ter sido pedido o impeachment do governador Tarso Genro por ter pedalado o pagamento do piso do magistério, estabelecido por lei federal? Eu me pergunto com a mesma sinceridade: deveria ser pedido o impeachment do governador José Ivo Sartori por pedalar o pagamento completo do funcionalismo, descumprindo a Constituição estadual, e por deixar de pagar a parcela da dívida com a União, descumprindo o contrato, embora absurdo, assinado antes?
Eu me pergunto se pedalar não é uma necessidade.
Todos são ciclistas.
Eu me pergunto se não seria o caso de pedir o impeachment de Dilma por bloquear os repasses ao Rio Grande do Sul deixando hospitais sem recursos para recolher dinheiro de juros (por que a União cobra juros dos entes da Federação) a ser enviado a banqueiros estrangeiros. Não é um crime de lesa-pátria? Que tipo de lei um governante pode descumprir?
As pedaladas me fazem pensar numa família condenada porque o pai adiantou o pagamento da comida dos filhos com o dinheiro da empresa familiar. O bloqueio feito pela União me faz pensar numa família em que o pai deixa a filharada sem comida para pagar os juros do cartão de crédito. Claro que sou um ingênuo e não compreendo tanta complexidade.
A crise do governo Dilma tem a ver, em parte, com a corrupção do PT. Outra parte é fruto da crise econômica internacional. O que resta, cada vez mais forte, é pressão da oposição, inconformada com a derrota eleitoral, que tenta transformar o impasse econômico em profundo enrosco político para pegar um atalho e, quem sabe, chegar ao poder antes de 2018. É a política do quanto pior, melhor. As chances de o projeto se realizar, sem ser golpe, dependem das manifestações de rua (o PSDB está incentivando na tevê) e, juridicamente, da rejeição das contas da campanha de Dilma pelo Tribunal Superior Eleitoral.
A outra hipótese, a das pedaladas fiscais, crime praticado desde Getúlio Vargas, depende do Tribunal de Contas da União, que tem três membros tão enrolados quanto o PT.
Os que apostam na queda disputam o espólio. Michel Temer prefere a destituição pelas pedaladas fiscais. O poder cairia no seu colo. Outro dia, sorrateiramente, aumentou o tamanho da crise e afirmou que o país necessita de alguém que o unifique: ele mesmo. Aécio Neves prefere a queda pela recusa das contas. Assim, Dilma e Temer desabariam juntos e poderia haver nova eleição. Aécio saltaria na frente em relação aos seus concorrentes internos, José Serra e Geraldo Alckmin, que teria de renunciar ao governo de São Paulo. Para Aécio, o melhor é agora. Para Alckmin, ideal é que Dilma sangre até 2018 e Lula seja carneado até lá, de preferência com uma prisão. Para José Serra agora é cedo demais e 2018 certamente será tarde. Os principais interessados na ampliação da crise são o PMDB e o PSDB.
O economista Pedro Paulo Zahluth Bastos, professor da Unicamp, em entrevista ao jornal Valor Econômico, garante que o Brasil não sai da crise com o ajuste fiscal de Joaquim Levy e que Dilma erra ao adotar o programa de governo dos tucanos: “Ela certamente capitulou diante de uma enorme pressão, que tem como centro principalmente o mercado financeiro. Claro que essa pressão reduziu-se muito depois dessa virada para a ortodoxia do governo. O problema é que hoje, como aconteceu com os países europeus e aconteceu várias vezes na história, o reforço da austeridade exigido pelos credores da dívida pública com muita frequência acaba piorando a trajetória da dívida pública”. Em outras palavras, não é por aí. O que é preciso fazer?
Há alternativa? Bastos acha que sim e receita: diminuir a meta do ajuste fiscal, taxar grandes fortunas e “reduzir desonerações, mesmo porque a apreciação cambial já melhorou muito a proteção da indústria”. O que mais? “Eventualmente ampliar as tarifas alfandegárias, para ampliar a proteção contra as importações que estão muito grandes. E aí você faz também ajuste fiscal porque hoje elas estão abaixo do que é permitido pela OMC, no caso brasileiro”. Palpitante, não? Dilma está embretada. Perdeu a base. Cedeu aos opositores. Viu seu partido atolar-se na lama. Comprou por certo o que é duvidoso. Aceitou como verdadeiro o discurso do adversário. Enterrou-se. Para ela cair só falta que lhe descubram um crime.

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