Ato político
Reivindicar é legítimo e necessário. Reivindicar perdendo a noção do possível, a capacidade de diálogo e a dimensão processual que toda mudança requer, é sectarismo desvairado que nega o papel e o caráter educativo do magistério.
Como defendia e
exemplificou o professor Osmar Hences, é preciso demandar mais e melhor
remuneração salarial, mas também é preciso ter claro que apenas o reajuste
salarial não assegura a melhoria da educação sonhada pelos verdadeiros
educadores e acalentada pela nossa sociedade. Junto com a luta salarial é
preciso brigar por melhores condições de trabalho, compromisso que vem sendo
honrado pelo governo Tarso Genro.
Além disso, é preciso
valorizar os avanços em termos salariais assegurados pelo atual governo
estadual, o qual vem revertendo a situação de abandono, truculência e desinvestimentos
na categoria magistério e na área educação promovidos pelos últimos governos
conservadores no RS.
Ou seja, é preciso
perseguir o sonho, sem nunca tirar o pé do chão. É preciso querer mais, mas
sempre valorizar as conquistas e os avanços alcançados. Pior que não levar
tudo, é ficar parado ou voltar para trás.
Também como exemplificava
o “Sor” Osmar, é justo e necessário almejar boa remuneração e condições de
trabalho, porém essas conquistas sozinhas não constroem um bom educador ou
educadora. O bom educador é aquele ou aquela que não faz da sua profissão um
sacerdócio nem utiliza o papel educativo como moeda de troca. É aquele e aquela que enquanto luta politicamente para fazer acontecer, segue cumprindo sua tarefa pedagógica da melhor forma possível, sem cruzar os braços ou cobrar do poder público as virtudes que ele mesmo não demonstra.
Isto é, o bom educador sabe
da sua importância social e luta permanentemente pela valorização da sua categoria, mas não abre mão do seu bom desempenho profissional para cair
na posição cômoda e contraditória do tipo: “só farei o melhor quando atenderem tudo que
reivindico, até lá vou fazendo de conta que ensino e ficar afundado (a) num mar de
lamentações, considerando tudo e todos farinha do mesmo saco”.
Se o Osmar estivesse entre
nós, por certo estaria pedindo mais salário e uma escola cada vez mais alegre e
bem cuidada. No entanto, tenho certeza que ele saberia separar o joio do trigo em termos políticos; daria valor aos avanços alcançados pelo magistério no RS; reconheceria o esforço do atual governo para atender reivindicações históricas dos professores e da comunidade escolar e estaria
preparando suas aulas com o mesmo entusiasmo e comprometimento de sempre, em
respeito a seus alunos e à tarefa educativa, que pede que eduquemos os outros
educando a nós mesmos.
Neste mês de novembro, os professores
gaúchos receberão reajuste salarial de 6,5%, já aprovados na Assembleia. Em
maio de 2014, terão outro reajuste de mais 6,5% e em novembro de 2014, mais
13,5%, ou seja, no acumulado, em um ano, o reajuste será de quase 30% sobre o
salário atual e com uma inflação estimada em torno de 7% no período. Se
considerarmos os primeiros anos do governo Tarso, o reajuste alcançará no
quadriênio 76,6%. Um ganho real de mais de 45% em quatro anos.
Podemos afirmar que nenhuma categoria
ligada ao magistério alcançou esse reajuste salarial no país. A recente greve
dos bancários, paralisação nacional de mais de um mês, conseguiu um acordo de
8,5% de reajuste nominal. Um ganho real de 2,0% num setor com ganhos e lucros
elevados.
Essa prática salarial é um exemplo do
compromisso governamental na defesa da educação e do magistério gaúcho, apesar
da posição sectária da diretoria do Cpers que se opôs a essas propostas quando
os projetos de lei foram votados na Assembleia Legislativa.
O governo que defende os professores e
mantém o plano de carreira da categoria não investe só em salários. O gasto em
Educação, previsto em 35% da Receita Líquida de Impostos e Transferências no
RS, vem recuperando sua participação no Orçamento do Estado. Durante o governo
Yeda o gasto em Educação caíra para 25,6% em 2008. E ficou nesse patamar até
2010. Sua recuperação já prevê para 2014 alcançar os 30%, ainda aquém do
preceito constitucional mas, claramente, em recuperação e aumento real.
Isso se expressa na recuperação física
das escolas e sua modernização tecnológica. A implantação de um plano de obras
que prevê o investimento de 500 milhões de reais na modernização e qualificação
em mais de 500 escolas, com reformulação física completa dessas instituições. A
atenção especial ao Ensino Médio – maior carência de oferta nessa faixa etária
– determinou a construção de novas escolas e ampliação de prédios para um maior
atendimento.
A demanda no Ensino Médio não é apenas
de mais vagas, mas também por uma profunda reestruturação curricular. Desde
2011 mais de 1000 escolas vem mudando o Ensino Médio com muito debate com a
comunidade escolar, visando assegurar a permanência do aluno na escola. Os
índices de evasão e repetência superiores a 30% no Ensino Médio eram
inaceitáveis e a mudança curricular uma necessidade educacional e de não
desperdício dos recursos públicos gerados por esses indicadores.
Essa reformulação busca a adoção da
politecnia como princípio organizador do Ensino Médio, aproximação do aluno do
mundo do trabalho, implantação dos seminários integrados e a utilização da
pesquisa e da interdisciplinaridade como princípios pedagógicos.
Esse projeto completa-se com a formação
continuada e com a distribuição de ferramentas (netbooks e tablets) para
milhares de professores. A concepção que rege essa política educacional visa
também a democratização da escola, seu papel de formação da cidadania.
Desde o inicio do governo da Unidade
Popular pelo Rio Grande foram aprovadas medidas e mudanças na lei da Gestão
Democrática para seu aperfeiçoamento e consolidação. Da mesma forma, essa
orientação incentivou a participação estudantil com a organização de grêmios em
centenas de escolas e a ampliação da autonomia financeira para contratação de pequenas
obras e serviços, bem como, para a formação do quadro docente da escola.
Como já vimos, a valorização dos
trabalhadores em Educação é uma constante do governo Tarso Genro além do ganho
real para professores e funcionários em índice singular neste mandato. Além
disso, os professores tiveram a implementação de um terço da carga horária para
o estudo, preparação e planejamento das atividades.
O compromisso com a formação continuada
expressa-se em mais de 300 seminários realizados no RS com uma participação
estimada em mais de cem mil trabalhadores em educação (professores,
funcionários, gestores e especialistas).
Outra reivindicação antiga do
magistério era a retomada das promoções. No último dia 04/11 o governador Tarso
Genro anunciou o calendário para publicação de dez anos de promoções dos
professores, de 2003 a 2013. Já foram publicadas no dia 05/11 8.341 promoções
referentes ao ano de 2003. Em abril de 2014 serão promovidos 9.752 professores
relativos a 2004, 2005, e 2006 e em novembro de 2014 serão promovidos 3.444
referentes ao período 2007 a 2012. Cada promoção significa em torno de 10% de
reposição no básico de cada professor. Somadas a promoções feitas em 2011 o
governo Tarso está promovendo 33 mil professores colocando em dia o passivo
deixado pelos governos anteriores.
Mesmo sem o julgamento do STF da Ação
de Inconstitucionalidade que Estados e Municípios movem pela mudança do
indexador para a correção monetária anual da Lei do Piso Nacional, o governo
honra seu compromisso e hoje nenhum professor no RS recebe menos que o valor
estabelecido pelo critério da variação do custo-aluno no ensino fundamental.
Cada vez mais fica evidente o equívoco
do Congresso em alterar a lei original do Piso e substituir o INPC por um
índice que não mede a inflação, nem custo de vida e por isso se transforma em
algo impagável e impraticável pelos gestores federados nos Estados e
Municípios.
Na última Assembleia da Famurs em Porto
Alegre (31/10), a Confederação dos Municípios, através de seu presidente,
defendeu publicamente que a saída para o impasse é o INPC e a correção da
emenda colocada pelo Senado que alterou a lei, tornando-a impraticável para
Estados e Municípios.
No ensino superior, a UERGS voltou a
ter atenção do governo. O orçamento duplicou e projeta para 2014 um gasto de R$
71 milhões. O Plano de Cargos e Salários foi implantado em 2012 e um convênio
com a CEEE garante, finalmente, uma sede central definitiva e condizente com um
campus universitário. Foi ampliado o corpo docente e este ano foram abertas mais
mil vagas na universidade.
Infelizmente, o sindicato da categoria
encontra-se sob uma direção que não está à altura da luta sindical do
Magistério. Ausente em todas as conquistas e vantagens que o governo atual vem
garantindo aos professores, a atual diretoria está dominada por um falso
esquerdismo economicista que não consegue agitar além do maior índice de
reajuste, sem capacidade de dialogar, negociar e construir alternativas como
outras categorias fizeram.
Estreita em sua visão economicista, a
Diretoria não distingue as enormes diferenças entre este e outros governos,
nesta e em outras políticas (como o piso regional, por exemplo). Sectarizada
por uma disputa partidária contra o governo não consegue ter ganhos sindicais
para a categoria nem incorporar à consciência sindical dos professores as
conquistas e avanços garantidos pelo governo da Unidade Popular.
As políticas governamentais e da nossa
bancada regem-se pela defesa dos interesses comuns do conjunto dos
trabalhadores e assim queremos ser julgados ou criticados. Temos plena
consciência de que o conjunto dos projetos aprovados – salariais, mudanças curriculares,
democratização da gestão, etc – estão determinados por essa orientação, são
altamente favoráveis aos professores e com ela queremos manter o diálogo e a
construção efetiva de conquistas e novas reivindicações do magistério gaúcho.
* Deputado Estadual e presidente do
PT-RS
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