Achados, perdidos e breve proposta de republicanização



Penso que o Partido dos Trabalhadores do RS teve a sabedoria e a virtude de saber se reinventar. O que é diferente de simplesmente camuflar-se ou, pior, trajar-se com outras cores. Não, depois de muitos reveses e de uma longa pregação no deserto, os petistas vestiram-se com o manto da humildade e passaram a perceber algumas coisas essenciais. Entre elas: é preciso analisar interna e profundamente as causas das derrotas, ao invés de apenas acusar histericamente a suposta malandragem dos adversários; não basta se apresentar como arauto dos pobres, e ao mesmo tempo verter o fel da empáfia ou empunhar a bandeira do desprezo a quem sabe empreender economicamente.
Infelizmente não se pode dizer o mesmo sobre o Partido Democrático Trabalhista em Herval. Nessas poucas e porcas linhas não cabem um apanhado histórico mais preciso. Mesmo assim, me arrisco a dizer que o maior partido local, e mais do que isso, o partido que sempre escudou as lutas do povo pobre desta terra, parece ter perdido seu endereço na história, embrenhando-se perigosamente numa mata escura de histeria, miopia e malandrices. Suas principais lideranças, a quem se deve sempre respeitar, insistem em preferir o mito à realidade; à mística ao trabalho; a soberba à humildade. E isto não é de hoje.
Desta forma, o debate e a construção partidária perdem seu horizonte maior, político e politizador, restringindo-se ao culto incessante a feitos e líderes do passado, a tentativa absurda de defender o indefensável e finalmente ao jogo mesquinho de interesses pessoais. Assim, o partido além de perder a dimensão do seu dever histórico, perde também a identidade e a dinâmica que sempre o caracterizaram como partido.
Ou seja, o partido deixa de ser partido e se converte em religião da qual, quem dele se afasta, passa ser acusado de impuro, infiél ou traidor da causa (uma causa, neste caso, indefinida ou que busca saciar apetites particularistas). O partido perde também força ou mesmo a condição para agregar grupos ou sujeitos sociais em torno de uma visão clara e cristalina, de um projeto dignificante e civilizatório de sociedade, servindo apenas como vitrine para expor vaidades pessoais ou escudo para a pregação enfadonha e besta de que Herval só é Herval quando é ou tornar a ser administrado por um membro desta agremiação partidária.
Não tenho procuração do PDT para escrever sobre os casos e coisas desse partido e por tudo o que expus aqui é provável que minha pena seja tomada como golpe ou afronta, e não como alerta fraterno. Neste caso, lembro apenas que já alertei antes e, além de não ser ouvido, foi marcado na paleta como inimigo. Mas não tenho a pretensão de ser dono da verdade. De repente, o míope, histérico e incoerente seja eu. No entanto, meu compromisso e as marcas do povo pobre que carrego no corpo me convidaram a “meter o bedelho onde não sou chamado”.
Entendo que o partido em questão precisa olhar mais atentamente para si mesmo e, ao mesmo tempo, para o momento atual da disputa pelo poder local. Não se trata de rasgar a bandeira ou jogar no lixo sua história. Bem ao contrário. Trata-se apenas, como fez o PT no estado, de despir-se da prepotência e das ilusões, de respeitar as virtudes dos adversários e de traduzir na prática o insistente e estridente discurso de “liberdade, igualdade e fraternidade”. E, em termos políticos, empunhar forte e concretamente a bandeira republicana, como caminho na busca da reinvenção partidária e horizonte para o desenvolvimento da terra do Herval. Mas este é um assunto para outro momento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Todos contra o Herval que dá certo?

Responsabilidade com a saúde

Um ano de sucesso e vontade de fazer ainda mais!