Filosofando...



(...) A verdade é que ninguém colhe o que não semeou. As grandes transformações históricas são como um fruto e precisamos respeitar o seu tempo de maturação. Não basta o fruto brotar, é preciso que ele esteja maduro para que possamos saboreá-lo. E antes da colheita do fruto vem o cuidado com a árvore que o abriga, um cuidado que precisa iniciar antes mesmo do nascimento do fruto. Antes do nascimento do fruto também vem o cuidado com a semente. Antes que a árvore possa produzir frutos deve existir o cuidado com o solo, de afastar as plantas “invasoras”. Além do cuidado de semear a árvore na estação correta.
O fruto pode até nascer e morrer por si mesmo, sem que precisemos meter-lhe o bedelho. O clima, o solo, a planta, tudo perfeito para o nascimento do fruto. O fruto pode estar nascido, pode estar ali à vista de todos; uma verdadeira obra-prima, que até parece ter brotado pela mão dos anjos. Mas e se as pessoas que rodeiam a árvore e seus frutos estiverem interessadas mesmo, em comer carne, se elas são carnívoras? Nós que enxergamos o fruto e conhecemos o seu sabor, também nos tornaremos carnívoros ou vamos ficar sentados ao pé do fruto, xingando a todos que se desviam da sua direção, dizendo: “hei, seu idiota, vem degustar o fruto da vida. Como podes passar pelo fruto da vida sem reparar na sua beleza e sem querer te nutrir com as suas proteínas?” O que fazer? Nos fartamos sozinhos do fruto; aprendemos a gostar dos sabores proibidos ou tratamos de conhecer melhor o caminho que nos levou a gostar de frutos, e os outros que estão a nossa volta, a se deliciarem com o gosto amargo das carnes? Deste encontro não pode brotar um outro alimento, menos proibido?
Ou seja, temos a imprescindível urgência, a incontornável obrigação de não dançar conforme a música, de mudar o rumo do barco, de escrever uma nova história. Mas nós não somos os únicos a fazer história e por ela ser feitos. Não somos os únicos a querer puxar a brasa pro nosso assado. Temos que prestar atenção no tempo, mas não podemos perder de vista à direção dos ventos e eles não tem soprado a nosso favor. Não basta ter coragem, é preciso ter cara e corpo. Não basta ter a alma aberta, o corpo precisa estar liberto e nunca estivemos tão acorrentados como nos dias correntes. Acorrentados em nossas próprias amarras, sem dúvida, mas não apenas nelas. Resolver nossos problemas e contradições não significa resolver as contradições e problemas insuportáveis da vida egoisticamente globalizada, embora este possa ser um passo importante nesta direção.

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