Ato político
Excelente
reflexão do querido e competente Zelmute Marten.
Nesses
tempos que os ambientes e relações virtuais se tornaram o chão ou céu almejado
por tanta gente, é importante lembrar e reafirmar nossa condição humana.
“O
mundo inventado ou em redes” tem suas virtudes, porém precisa ser visto e
vivido como ferramenta ou caminho, e não um fim em si mesmo.
Somos
humanos, vale insistir, com o bom e as coisas ruins que isso representa. Se no
passado, o risco talvez fosse resvalarmos demasiadamente para a animalidade que
habita em todos nós, hoje o risco talvez seja transformarmo-nos em personagens
virtuais com pouca ou nenhuma sensação de pertencimento à vida como ela é ou
deve ser.
Ou
como canta Humberto Gessinguer, “Ta com tudo, mas ta carente, indiferente nada
satisfaz. Cadê, cadê, o espelho que ninguém vê? Cadê, cadê a humanidade em você?"
A tenuidade
do limite entre o verdadeiro e o falso
O atual momento
histórico, caracterizado pelas relações líquidas e pelas denominadas redes
sociais, que desassociam e cultivam o caos; impôs profundas alterações e
provoca uma relação limítrofe entre o verdadeiro e o falso. A dinâmica virtual,
a instantaneidade dos acontecimentos, a realidade estabelecida por um padrão de
convívio que aniquila, gradativamente, a relação face a face, que favorece o
“fake news” e as ondas de versões inverídicas, parciais, geralmente incompletas
e generalistas, constituem elementos responsáveis pelo avanço dos
comportamentos movidos pelo ódio e pela intolerância.
Nesta
ambiência, os direitos caminham para a falência. Os sentimentos vão se tornando
inabitual. Conceitos são desvalorizados. Os discursos se dissociam das
práticas. A normalização de todo tipo de desrespeito evidencia uma postura
ofensiva, movimentada pela impaciência, onde o saber ouvir vai se fazendo raro.
O modelo relacional, baseado na premissa original de construção coletiva,
embora não totalmente ausente nos inflamados discursos, caminha para a
extinção. Este ensejo alimenta a desesperança e promove deletérias deformações,
capazes de arruinar até mesmo aqueles que percebem a importância de uma atuação
ética, estratégica e competitiva.
Estamos
diante de profundos retrocessos. Nossas contradições foram alimentando nossos
antagonismos. A velocidade dos acontecimentos, os mapas dos algoritmos, as
fazendas formadas por robôs, foi nos arrastando para o canto do ringue. A busca
infrutífera por justificativas que apontem para as causas responsáveis por
todas as mazelas desconsidera a questão primária, de origem, fundada na
filosofia antropológica de formação do Brasil, para lembrar Marilena Chauí.
Precisamos
resistir. O padrão de indignação social exige a nossa ressignificação. Nossas
reações não podem seguir o padrão comportamental e relacional de nossos antagonistas,
sob pena de aderirmos, ainda que de forma pouco consciente, aos seus padrões de
conduta. Nossa motivação deve resgatar a capacidade de construção de um modelo
baseado na justiça social. Para tanto, é inaceitável atitudes movidas por
injustiças, indelicadezas e desprezo pelo sentimento alheio. É fundamental
restabelecer os vínculos com o genuíno, com o verdadeiro, abandonando as
destrutivas premissas do falso, que nos direciona à perigosa e restritiva via
da concentração da razão e das oportunidades.
Zelmute Marten
Jornalista
Chefe de Gabinete – Deputado Estadual Zé Nunes
Publicado
originalmente em: http://portal.ptrs.org.br/2018/06/a-tenuidade-do-limite-entre-o-verdadeiro-e-o-falso/
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