Apesar de você a primavera sempre chega I
Trago à tona novamente uma estória deprimente que escrevi há alguns meses. Compartilho tal estória mais uma vez e aqui, desta feita dividida em duas partes. Qualquer semelhança com lugares ou personagens da vida real é mera coincidência. Espero que apreciem, com moderação, é claro.
Tenho um velho amigo mais velho que
sempre conta as histórias de um caudilho político, um forasteiro ambicioso e
despudorado que criou raízes nesta terra. O detalhe é que as histórias de
caudilhos são sempre deprimentes, deprimentes como os próprios caudilhos. Uma
história marcada por intrigas, boatarias, vilanias, apadrinhamentos, nepotismo,
pilantragens, desvios, despotismos, pilhagens, faz de conta, apropriações
indébitas, falsidades ideológicas, propagandas enganosas, promoções pessoais
permanentes, improbidades administrativas, e por aí se vai a extensa lista de
adjetivos também deprimentes...
Voltando ao famigerado caudilho, conta
esse amigo que ele adorava encher a cara e dar vexames em público, porque
achava que isso era ser popular. Que ele também adorava encher a bola de si
mesmo, uma bola muy murcha, por isso a sua necessidade obsessiva por rebaixar
tudo e todos, só assim ele podia alardear alguma grandeza e justificar sua
própria existência. Sua luz definitivamente não brilhava e o jeito era tentar
apagar o brilho alheio.
Ele conta também que o tal caudilho não
suportava as opiniões contrárias, a imprensa e as ideais só eram livres se
fossem a favor dele. Do contrário, deveriam ser proibidas, censuradas, e
aqueles que se atrevessem a discordar ou noticiar coisas contrárias a seus
propósitos deveriam ser ridicularizados, de modo a esconder os ridículos do
caudilho. Como quase não possuía feitos próprios para propagandear, chegou a
criar um veículo particular de comunicação com a missão de inventar virtudes
que ele não possuía, além de detonar as virtudes dos que não faziam parte da
sua trupe. E adivinhem, inaugurou tal veículo explorando a boa-fé do povo e
usando o nome da comunidade em vão, para transformar o dito veículo de
comunicação em palanque e propriedade familiar.
Segundo esse amigo, a sede de poder do
caudilho não tinha fim e sua ambição era tamanha e sem limites. Conforme narra,
certa feita o caudilho chegou a levar um desafeto político à força para lugar
ermo e de arma em punho ameaçou dar um tiro em sua boca, caso ele não calasse a
boca que bradava publicamente contra os abusos do caudilho. Era um lunático
pelo poder, um louco decadente, deprimido e desenfreado, capaz de imitar Nero e
atear fogo em tudo a sua volta ou sacudir uma cidade até deixá-la tonta!
No poder era um tirano insaciável, fora
dele era um destrambelhado ressentido, um mau perdedor, sempre cavando uma
brecha para empanturrar novamente a si e os seus. Dizia esse amigo que com ele
no poder era festança garantida para seus seguidores mais próximos e mais
fiéis, não apenas em solo local, mas principalmente nas idas constantes à
cidade grande. Não faltavam caravanas, comilanças, beberagens, algazarras,
orgias, tudo pago com o dinheiro e a boa-fé do povão!
Meu amigo revela ainda que o caudilho
em questão era tão fã de si mesmo, mas tão fã de si mesmo, que certa feita
obrigou uma multidão inteira a degustar um prato inventado pelo chef caudilho:
arroz regado com a urina de vossa majestade caudilhesca! Tudo para que os
súditos soubessem que sua falta de compostura não tinha limites e pudessem
provar literalmente todo o sabor das suas sandices.
Continua...
Comentários
aguardo o desdobramento desse conto pra chutar quem é o esperto que quer voltar pro cadin e deixar a cidade sem crédito em lugar nenhum e agora usam a fé pra iludir os babacas de plantão