Eva e Adão sim, é viadão não!



A vida interiorana tem muitos encantos. Poderia listar um monte deles, mas prefiro não fazê-lo por acreditar que estes estão muito atrelados aos hábitos e gostos pessoais. Mas um dos maiores encantos de viver numa cidade como Herval talvez seja o sossego e a ideia de que conhecemos e somos conhecidos por quase todos que vivem em nossa “terrinha”. Esse contato mais próximo com as pessoas nos dá uma sensação de segurança, acolhimento e intimidade. Basta sairmos à rua para começar a gastar nosso estoque infindável de acenos, saudações e cumprimentos em tom amistoso.

Mas nem tudo são flores. É comum as pessoas confundirem amistosidade (como o computador sublinhou essa palavra, acho que acabo de inventá-la) com invasão de privacidade. O pior é quando a invasão vai além da mera invasão de privacidade alcançando a intimidade do indivíduo. Ou seja, não satisfeitos em vasculhar a privacidade alheia, alguns fulaninhos e fulaninhas embarcam numa verdadeira corrida maluca na tentativa de escarafunchar aquilo que se encontra guardado no mais íntimo das criaturas.

Como se não bastasse essa análise forçada da privacidade ou da intimidade alheia, o mais trágico é quando seus resultados se revelam falsos e ainda assim acabam por ser alardeados aos quatro cantos, de boca em boca. Trocando em miúdos: fuçam tudo, não encontram nada do que procuram e ainda saem dando com a língua nos dentes. E não falta quem compre esse peixe podre! Pobres almas pobres!

Vejam bem, não falo aqui da fofoca que esta sempre carrega ao menos uma pontinha de verdade. Falo aqui da intriga, da pura invenção acerca das coisas do corpo e da alma de outrem...

Nasci e fui criado cá nesses pagos sulinos. Amo essa terra de paixão, e nunca tive vergonha de alardear isso. No entanto, nunca fui adepto deste hábito doentio, na minha singela opinião, de cuidar a cola do vizinho no lugar de cuidar da sua própria. Lembro-me da estória contada por meu pai quando eu ainda me encontrava na infância, segundo a qual o macaco cuidou tanto o rabo do outro macaco que estava sobre o trilho, que quando o trem chegou acabou cortando o seu rabo, deixando seu amigo ileso.

Talvez por isso, muitos de meus conterrâneos considerem meu modo de ser estranho, fora dos padrões convencionais, pouco sociável. Isto é, minha mania de não meter o bedelho onde não sou chamado e como cantava Gonzaguinha, de não ficar com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela, de certo contribuiu para que me fosse conferido o título de metido ou até de veado (e aqui não falo do bicho, aliás, muito simpático). Além disso, meu perfil intelectual que não se coaduna com o estereótipo masculino construído aqui neste chão, calcado na figura do machão, também deve ter contribuído para esta leitura errônea sobre a minha pessoa e a minha sexualidade.

De repente o leitor não esteja entendendo onde pretendo chegar. Pois digo que não pretendo chegar a lugar nenhum nem tampouco desfazer algum boato infundado. Pra falar a verdade, nem deveria tocar nesse assunto, já que me sinto seguro de mim e da minha opção sexual. Ocorre que nunca me importei em ser criticado pelos defeitos que tenho, mas não tolero que inventem defeitos pra me criticar.

Mas é isso mesmo. Como costumo ser reservado e, além de reservado, com uma larga história de timidez (timidez tão grande que tive minha primeira namorada aos 19 anos de idade); muitas línguas afiadas logo atribuíram isso a um suposto homossexualismo. Pra complicar as coisas, ainda tive o azar de me envolver com pessoas maldosas que não hesitaram em me passar a perna e não satisfeitas, ainda me atribuíram a autoria de coisas que nunca fiz, disse ou pensei, exatamente como forma de ocultar sua safadeza ou sua fraqueza para exorcizar os fantasmas que as atormentavam e que também eram atribuídos a mim. Também tive o azar de me envolver com pessoas ressentidas por algum exemplo de sexualidade não convencional em sua própria família e, ao mesmo tempo, sem a madureza necessária para aceitar que o caso não foi adiante simplesmente porque não deu certo, preferindo encontrar outra explicação para o findar da linha, sem importar-se sobre se esta explicação era autêntica ou fantasiosa.

Não me faço de vítima, é que como disse, odeio que me acusem daquilo que não cometi. Já meti muito os pés pelas mãos e sei o quanto pesa a cruz dos meus deslizes. Agora, posso dizer com a mais absoluta paz de consciência que amor homo ou bissexual nunca fez a minha cabeça e nunca será a minha praia. As mulheres que perdoem meu baixo nível de romantismo ou a minha falta de jeito no trato com elas, mas podem estar certas que isso não se deve a nenhuma tendência sexual fora dos padrões considerados mais adequados. Acusem-me de ego centrista, de pouco conhecedor do universo feminino (se bem que esse universo sempre será um mistério para qualquer homem), mas não vejam nisso outra opção que não seja pela heterossexualidade.

Nada contra quem opta pelo homossexualismo ou pelo bi-sexualismo. Cada um sabe o lugar que o sapato lhe aperta ou onde a coceira lhe desperta. Inclusive tive e, provavelmente, tenho amigos que fizeram uma destas opções sexuais e isto não foi motivo para pôr fim a nossa amizade nem serviu como estímulo para que eu tomasse parte nas suas preferências. No entanto, prefiro seguir apostando na escolha quadrada e romantizada do amor entre homem-mulher, mesmo que venha quebrar a cara ou lanhar o coração mais um trilhão de vezes e, ao final, ainda herde a fama de “veado”. É o preço a ser pago!

Por outro lado, se minha opção não fosse essa, não teria nenhum problema em admiti-la de público, embora essa questão não interesse nem diga respeito à esfera pública. É preciso separar o público do privado, mas quem me conhece mais de perto que sabe que prezo pela transparência. Minha vida é um livro aberto e mesmo as páginas manchadas pelas minhas mazelas não precisam ser arrancadas, apenas reescritas. Sou hetero, e definitivamente "não corto pelos dois lados", pô! Gostem ou não, acreditem ou não, este é o fato mais cristalino. Só não vê que não quer ou quem gasta mais tempo cuidando da vida dos outros do que da sua.

Perdoem-me o desabafo, mas a tempos carrego isso entalado na garganta!

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