Coerência, que coerência?





Adoro dialogar com os diferentes e as diferenças. Esta necessidade de perceber a forma com que o outro vê o mundo e a si mesmo é quase um vício para mim. Pois uma dessas conversas com alguém que parte de outro ponto de vista, me revelou o quanto à oposição ao governo municipal agarrou-se ao discurso da coerência, como quem se agarra desesperadamente a um galho para não morrer afogado. No entanto, a história está aí para mostrar que esta alardeada coerência pode não passar de um discurso de ocasião.

Alguém duvida? E o que dizer do fato ocorrido em 1988, onde as circunstâncias levaram o respeitável Nido Soares – figura humana exemplar e homem público que sempre prezei muitíssimo –, a apoiar a candidatura do extinto PDS (antiga Arena), então representado por João Sena Peres. Detalhe: Nido era prefeito pelo PDT e seu partido na época concorria a sua sucessão com candidato próprio. Homem sempre leal e lúcido que era, o que será que o levou a não acompanhar os passos de sua legenda? Quem souber responda agora ou cale-se para sempre.

Mas nem precisa ir tão longe. Basta lembrar a corrida eleitoral de 2004, na qual Marco Aurélio Camarão, auto-proclamado arauto da coerência, concorreu à sucessão de um agonizante grupo político de direita, tendo como vice nada mais nada menos que um desses partidos conservadores, o PFL (hoje DEM), mesmo que o PT viesse em plena ascensão e caminhando a passos largos pelo lado esquerdo do caminho, além de ter sido um parceiro leal na disputa anterior, da qual saíram derrotados por uma diferença de apenas 89 votos.

Portanto, a toca da coerência não serve aos trabalhistas e também não pode ser usada para apontar uma suposta incoerência do PT diante da sua decisão de compor a base do atual governo. Neste ponto volto a repetir: a relação entre a base dos dois mencionados partidos é e sempre foi construtiva, mas seus expoentes, com honrosas exceções, nunca se bicaram. E muito por culpa da cúpula pedetista que, em solo local, ultimamente vem preferindo contrariar o exemplo de suas maiores lideranças, tais como Leonel Brizola, que deixaram o legado magnífico da seriedade e do espírito agregador, para se fecharem em si mesmos e permitir que o poder lhes suba à cabeça.

Sem dúvida, esquerda e direita ainda existem, mas o dado concreto é que a última gestão pedetista em Herval conseguiu a desastrosa façanha de se alinhar com práticas políticas e administrativas que nem mesmo a velha direita logrou alcançar. De outra parte, o prefeito atual, caracterizado como de direita, vem promovendo conquistas tanto na gestão quanto nas relações políticas há muito acalentadas pelo mais avançado pensamento de esquerda construído cá nesses pagos sulinos. Esquerda e direita ainda permanecem vivas, mas é preciso atualizar os conceitos que as caracterizam para não incorrer em velhos pré-conceitos ou atitudes políticas que "a lejos" pedem para ser renovadas.

Afinal, o que é ser de esquerda em Herval hoje? Para mim ser de esquerda aqui e agora, mais do que falar alto, proclamar virtudes que nunca teve ou viver preso em discursos, visões e posturas já caducas, é empunhar firmemente a bandeira republicana, de modo não apenas a encontrar novas fontes para o progresso material e humano hervalense, mas também como forma de oferecer um caminho para superar a herança monárquica entranhada profundamente nos habitantes deste lugar, uma das principais responsáveis por manter vivo o espírito do mando versus vassalagem.


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