Ato político
Afinal, o alvo é enfrentar a corrupção ou mais que
nunca é simplesmente atacar, desmoralizar, demonizar e, se possível, acabar com a esquerda,
o PT, o governo Dilma, Lula e o lulismo?
Sempre escutei que “quanto mais conheço os homens
mais admiro os animais”. Pois agora, quanto mais se desdobra essa tal Lava Jato
e suas conexões tenebrosas e macabras com as sombras ou objetivos
inconfessáveis, mais fica explícito os interesses em jogo, o caráter de exceção desse processo e os prováveis 45 tons de cinza de um juiz (ou seria justiceiro?) que é capaz
de atropelar regras elementares da justiça para alcançar o intento de produzir
pré-julgamentos e alimentar a pirotecnia midiática instaurada perigosamente
nesse país.
Algo me cheira não exatamente a 64, quando se
destituiu um governo democrático e a própria democracia para instaurar a
ditadura militar, insuflada e apoiada pela Rede Globo. Mas desta feita a
tentativa explícita e espúria de interditar novamente um governo democrático e
eleito de forma legítima, utilizando-se parte do judiciário como braço de apoio e mola mestra, para em seguida colocar em seu lugar uma corja sem moral nenhuma
que desistiu de retomar o poder pelo caminho das urnas e aposta todas as suas
fichas num golpe sujo que, se consumado, irá soterrar de vez a chance de fazer
do Brasil um país sério e com protagonismo mundial.
Ou seja, no lugar da ditadura da farda a ditadura da toga, porém o enredo, os alvos, os métodos arbitrários e os intentos seguem os mesmos.
Ou seja, no lugar da ditadura da farda a ditadura da toga, porém o enredo, os alvos, os métodos arbitrários e os intentos seguem os mesmos.
O que querem não é um simples retrocesso, mas algo
que vai nos fazer andar muitos séculos para trás. O que querem é que voltemos a
ser o país de poucos para poucos e uma república das bananas!
Os
45 tons de cinza do juiz Sérgio Moro
por
Armando Rodrigues Coelho Neto
Está em curso uma guerra ao PT
vendida ao grande público como combate à corrupção. Mentira. Na prática existe
a preparação da sociedade, sobretudo os setores menos esclarecidos, para
aceitaram qualquer medida truculenta ou raivosa contra o direito, contra o
ex-presidente Lula. Serve de exemplo a operação de hoje.
Em mais de 30 anos de Polícia
Federal, nunca vi uma condução coercitiva sem ser precedida, no mínimo, por
duas intimações não atendidas. Querem a cabeça do Lula para ser exibida em
praça pública ou seguir a escrita de produzir capa para a revista Veja no final
de semana, melhorar a audiência do decadente Jornal Nacional e ou outras razões
inconfessáveis.
Um linchamento moral está em curso e
medo de urna não se explica. Operadores do Direito, alguns dos quais muito
falantes e requisitados para programas de televisão, têm estado silentes quanto
à arbitrariedades. Não sei como se comportarão na de hoje. Tudo em nome do “bem
maior” revelado ou implícito: “Fora PT”.
Em nome desse “bem maior”, as
camadas mais pobres vem sendo preparadas pela dita “grande mídia” para aceitar
a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Hoje teve “test drive”.
Insatisfeitos com a verdade formal, a pretexto de buscar a verdade real, o que
seria razoável, partiu-se pro vale tudo.
Vale tríplex, barquinho de lata,
pedalinhos, qualquer coisa que possa alimentar à caça ao Lula. Pouco importa
que o tríplex tenha vínculos similares com a mansão dos Marinhos. Pouco importa
que a custa disso outras personagens queiram aparecer.
A situação é tão esdruxula, que
recentemente um site jurídico advertiu ironicamente os advogados: cuidado! Uma
batida de trânsito em frente do prédio da Petrobrás, no Rio de Janeiro, pode
ter a decisão deslocada para a cidade de Curitiba. Pela camaleônica labilidade,
o foro exclusivo já se permite a terceirização, de maneira que, do mesmo modo
que nunca ficou muito clara a figura de Sérgio Moro como juiz natural de tudo.
Do mesmo modo, não soa cristalina a intervenção do Ministério Público de São
Paulo, que a propósito não parece sequer fazer o seu dever de casa.
A rigor, não se pode dizer que a
sociedade esteja sendo informada, mas sim insuflada a compactuar com a guerra
ao Partido dos Trabalhadores, até em programas de culinária. Vale depoimento de
MMA derrotado ou roqueiro decadente. Vale insuflar com notícias não claras,
dirigidas, seletivas.
Alguns observadores mais ousados já
haviam chamado a atenção para excessos, como a coação nos depoimentos. Conforme
a conveniência da investigação da PF, supervisionada pelo Ministério Público e
chancelada pela Justiça Federal primária, prisões cautelares ou preventivas são
realizadas com ou sem vazamento. Ambas, segundo rumores, acabam tendo uma
consequência comum: prende-se, dá uma canseira e os presos começariam a receber
visitas de “aconselhadores” para que aceitem fazer “delação premiada”. Vale
vazar uma acusação sem prova, desde que sirva de manchete para a mídia porca de
plantão.
Aos mais novos posso lembrar
“pau-de-arara”, “maricotas”, “cadeira de dragão”, métodos pródigos em
confissões viciadas. Hoje, o pau-de-arara é light e invisível, de onde brotam
controvertidos atos de contrição.
Não se trata de ser contra a Lava
Jato. Nem de desqualificar meus colegas de trabalho. Não lhes posso atribuir a
vergonhosa arbitrariedade de hoje, pois devem estar cumprindo ordem, ainda que
revestida de certa tirania.
O espectro restrito das ações, a
obsessão por um só partido, uma só época, o vazamento seletivo, as exceções, as
postagens de delegados federais nas redes sociais tudo isso macula um trabalho,
que se sério fosse, se ocuparia da corrução.
A aparente falta de isenção faz a
Lava Jato tem um quê de jogar para a plateia. Consta que seu condutor-mor faz
palestras, nas quais pede que o povo vá para as ruas protestar. Consta ter
recebido prêmios de instituições que estariam sob supostas investigações, e até
participado de lançamento de candidaturas.
Na esteira dessa anomalia e estado
de exceção, “Medalhões da Advocacia” estão levando chocolate de um juiz
de primeira instâncias, enquanto as instâncias revisoras estão acuadas pela
mídia visivelmente partidarizada.
Enquanto isso, milhares de
inquéritos sobre crimes de monta claudicam nas delegacias de crimes financeiros
da Polícia Federal, em todo o Pais. Quem são os acusados? Qual o valor das
fraudes? Qual o exato tamanho do roubo? Ninguém sabe. Certamente fraudes
imensas que correm em sigilo sem cobertura da imprensa, sem que se saiba
quantas intimações deixaram de ser atendidas e ou se foram ou não conduzidos
coercitivamente.
Quantos processos fiscais aguardam
indefinidamente decisão para serem convertidos em processo ou não ninguém sabe.
Fraudes bravas e impunes que mofam nos escaninhos da Receita Federal sujeitas a
recursos e mais recursos.
Não. Depois de hoje, mais que nunca
ficou claro. Não há combate à corrupção e sim guerra ao PT. Vejo o estado
aparelhado ao contrário, enquanto as instituições envolvidas na Operação Lava
Jato estão perdendo a oportunidade de fazer uma efetiva limpeza no País.
Certamente entrará para história. Não como uma operação que livrou o pais da
corrupção, mas de haver atuado como força auxiliar de um golpe de estado
ensaiado desde o fechamento das urnas nas últimas eleições presidenciais.
A Operação Lava Jato, com seu
pau-de-arara invisível, caçam Lula como não caçam Chicos, Cunhas, Marinhos,
HSBC, envolvidos na Operação Zelotes e outros. Hoje, exatamente hoje, ficou bem
claro que a roupa preta do juiz Sérgio Moro desbotou de vez e já exibe,
descaradamente, os seus 45 tons de cinza.
Armando
Rodrigues Coelho Neto - Delegado de Polícia Federal aposentado e
jornalista, ex-representante da Interpol em São Paulo
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