Licença poética
Volto a pedir
licença para compartilhar novas palavras simples e sutis, arrancadas do fundo
do baú do meu ser...
Quando morrer não quero choro, coroas, velório nem caixão.
Quero ser cremado e minhas cinzas jogadas ao
vento,
no rodapé da página escrita por uma criança ou
ao pé de
uma planta – de preferência uma flor.
Quando minha alma se for desse corpo que ora me envolve e consome, quero risos
e cantorias.
Cantem e dancem Cartola, Ana Carolina, Caetano, Chico Buarque,
Sambô, Lenine, Diogo Nogueira, Gessinger, Nei Lisboa, Paulinho da Viola,
Zeca Pagodinho, Basílio Conceição, Chico César, Ramil, Violeta Parra...
Cantem e dancem tudo que tenha poesia, embale o corpo e acaricie a alma,
menos essas porras de mau gosto que fazem-nos engolir como música.
Cantem e dancem Cartola, Ana Carolina, Caetano, Chico Buarque,
Sambô, Lenine, Diogo Nogueira, Gessinger, Nei Lisboa, Paulinho da Viola,
Zeca Pagodinho, Basílio Conceição, Chico César, Ramil, Violeta Parra...
Cantem e dancem tudo que tenha poesia, embale o corpo e acaricie a alma,
menos essas porras de mau gosto que fazem-nos engolir como música.
Antes da cremação, peço que se reúnam todos em
torno dos meus restos mortais dando corpo a um descontraído recital, com
direito a palavras molhadas por goles de um bom vinho, uma cachaça curtida pelo paladar do povo ou uma saborosa cerveja
artesanal.
Peço que recitem Quintana, Drummond, Andrade,
Pessoa,
Espanca, Carpi, Neruda, H. Dubal, Cecília
Meireles, Mario de Sá Carneiro....
Ao final, recitem um poema meu.
Um poema cortante como minha carne.
Um poema profundo e simples como tenho tentado
ser
desde que abri os olhos na imensidão desse
mundo.
Aliás, antes do ato de cremação, suplico pela doação
dos órgãos do meu corpo, especialmente o coração e minhas córneas.
Afinal, meu coração nunca logrará experimentar todos
os sentimentos ou reveses do mundo, sendo de bom tom que ele siga palpitando em
outro peito.
De outra parte, não conseguirei ver com meus
próprios olhos tudo que há ou se sucede no mundo, ao passo que minhas córneas conquistaram
perante a injustiça comum a todos que habitam nosso planeta o direito de
continuar vendo depois da minha partida, ainda que seja sob outros olhares.
Ao final, recitem meu melhor poema.
Um poema que fale de mim e de todos os seres
viventes,
de afetos e aflições, de amores vividos,
perdidos ou inventados,
de Deus, da vida ou coisa parecida, da própria
poesia.
Recitem e recebam um poema meu como quem recebe
um abraço.
Não podendo abraçar meu corpo, façam desse
gesto um abraço em minha alma aflita pelo que ficará para trás e pelas portas, pontes e
poemas
que terá que descortinar na viagem rumo ao
infinito.
Infinito como cada ser, a dor de uma partida, a luz de cada dia,
uma canção que toca por dentro e levanta o astral ou a leveza enlutada da poesia!
uma canção que toca por dentro e levanta o astral ou a leveza enlutada da poesia!
Comentários