Herval folia e o meu espírito carnavalesco perdido em outros carnavais
Há alguns anos abandonei
a folia de carnaval. Eu que pulei tanto em outros carnavais do passado tão, tão
distante, hoje me considero um folião aposentado, nem na velha guarda me
incluo, pois estes permanecem “na ativa”. No entanto, como ocupo uma função
pública, me obrigo a dar ao menos uma espiada na folia e nos foliões e foliãs. Além
disso, meu filho Patrique Tomaz é apaixonado pelo tal carnaval, tanto que saiu na
bateria de dois blocos: 100% Libório e Galo da Madrugada. Trocando em miúdos: mais do que curtir a folia, atualmente prefiro prestar atenção nas
movimentações dos bastidores, nos atores responsáveis pela organização e no, digamos, "produto final" da folia. E cá entre nós, apesar dos limites e dificuldades, gostei do que vi.
Nunca é
demais lembrar as dificuldades de organizar um carnaval. Dificuldades que não
se limitam a questão financeira, embora este seja um obstáculo importante e de
difícil superação. Só para ter uma noção exata dos limites financeiros e
administrativos, cumpre registrar que a Secretaria de Cultura, Turismo,
Desporto e Lazer tem a previsão de receber este ano 2,27% do orçamento total da prefeitura,
ficando à frente apenas das Secretarias de Assuntos Jurídicos e Planejamento. Sem
contar que orçamento é sempre uma pré-visão, já que a lei orçamentária anual fixa
a despesa e estima a receita. O que conta mesmo é a grana que entra efetivamente
no caixa da prefeitura e, infelizmente, a queda nos repasses estaduais e
federais que começou no ano passado ainda se mantêm.
E aqui faço um parêntese para
defender a equipe econômica do governo federal e as medidas adotadas pela
Presidenta Dilma frente à crise internacional. No meu ponto de vista, o
Ministro Guido Mantega e sua equipe vêm agindo corretamente para salvar a
economia do país e evitar que ocorresse aqui o quadro caótico em termos
econômicos registrado em muitos países, como Espanha, Itália, Grécia, Portugal,
etc.; porém as medidas que mexem na economia demoram um pouco até surtirem todo efeito esperado, o que pode ser comparado a um veículo: quando está em movimento e é freado, leva um
período até desacelerar; quando está parado ou em velocidade reduzida, demora um tempo para retomar a aceleração normal ou desejada. O importante é que o governo não ficou inerte nem tentou driblar a crise sacrificando os mais pobres, como se fez lá fora e aqui mesmo no Brasil durante o governo FHC e cia.
Bem, mas meu assunto aqui
e agora não é economia, e sim folia. Neste sentido, quero registrar e destacar todos
que colaboraram para um carnaval de rua simples e sem pompas, pelo pouco que pude ver,
mas com muita dedicação e criatividade dos organizadores. Aliás, quando a grana
encurta, o que salva é justamente a mistura de dedicação com uma boa dose de
criatividade. Outro ingrediente sempre importante é a soma de forças, algo que
também não faltou, pois além da Secretaria de Cultura e da Comissão constituída especificamente para colaborar na organização do carnaval, outras Secretarias como Obras e
Saúde tiveram papel e participação fundamental.
Pegando carona na proposta do amigo Chico Gonçalves, sugiro apenas que para os próximos anos seja
estuda a possibilidade de criação de uma “liga carnavalesca independente”,
formada por representantes de todas as entidades carnavalescas locais,
com o objetivo de colaborar na organização, bem como fortalecer e
aprofundar a parceria entre poder público e a sociedade civil no quesito
carnaval. Carnaval de rua é uma festa tipicamente popular e quanto maior o
envolvimento daqueles que vivem o carnaval vários meses durante o ano, mais a cara alegre do povo nosso carnaval terá. Estava tudo nota 10 e os organizadores
merecem todos os aplausos. Trata-se apenas de uma sugestão que precisa ser pesada na
balança, cuja efetivação poderia afinar cada vez mais a
administração com o ritmo, gostos e visões das pessoas do povo que amam e muito fazem pelo
nosso carnaval. Pessoas como o formidável mestre Marcelinho, os abnegados professores Maurício e Elisandra, o incansável Ricardo do Lídio, o irreverente e respeitável Zeca, a queridíssima Marisa Acosta, o dedicado Leco e sua turma, os jovens do Grupo da 3.ª Idade e sua energia contagiante, entre tantos outros anônimos e anônimas que animam todos e saltam
aos olhos em meio à folia.
Quero encerrar agradecendo
de público ao amigo Marcelinho e ao professor Maurício pelo convite para sair
na bateria do 100% Libório. Um convite que me deixou muito honrado. No entanto,
meus inúmeros compromissos e a ideia de que já pendurei as chuteiras tanto no
futebol quanto no carnaval me impediram de aceitá-lo. Espero que o convite se mantenha
de pé para o ano que vem. Até lá, quem sabe, já tenha recuperado um pouco do meu
espírito carnavalesco. Seria a chance de reviver meus tempos de banda e de cair
na folia ao lado dos amigos e do meu filhote que tanto gosta dessa batucada
toda.
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