Rolim para pensar e sentir...



Nutro admiração e respeito profundos pelo pensamento de Marcos Rolim. Rolim, para mim, é uma dessas figuras incomuns, das quais é possível discordar, mas jamais desrespeitar.
Por isso, volta e meia reproduzo alguns de seus escritos aqui, de modo a iluminar meus passos e pensares, assim como embasar inúmeras coisas, muitas das quais acredito e compactuo, entre elas: de que é possível aliar espírito crítico com qualidade literária e rigor ético; de que é possível aliar crítica e auto-crítica; de que também é possível conciliar inteligência com humildade; de que um mundo mais humano é possível e urgente, e isso não se faz dividindo as pessoas entre iluminados e condenados a viver eterna e amargamente nas sombras da exclusão.
Com vocês, então, um pouco mais do brilhantismo e da radicalidade humana na qual se situa o grande Marcos Rolim:


SEM LIMITES


“Sem Limites” (Limitless) é um filme muito ruim. A história envolve um escritor fracassado que passa a se drogar com uma “pílula” ilegal, adquirindo condições excepcionais de inteligência e capacidade física. O sujeito, então, sem esforço, se transforma em um “vencedor”.
Fica milionário, seduz as mulheres e entra, triunfalmente, na política. O argumento sustenta o mito de que “usamos apenas 20% das capacidades de nosso cérebro”. A nova droga permitiria o uso de 100% da capacidade cerebral (a propósito: cientistas como James Kakalios afirmam que usamos 100% de nosso cérebro em diferentes momentos e que se 100% de nossos neurônios fossem “ligados” simultaneamente todo o oxigênio disponível seria consumido e o indivíduo provavelmente morreria). Bobagens à parte, “Sem Limites” é um filme de inspiração fascista que renova a noção de “seres superiores” – capazes de derrotar impiedosamente a todos em um mundo avesso à solidariedade - e que vincula a promessa de uma “super-humanidade” à indústria farmacêutica. Claro, a droga é perigosa e pode matar; mas o protagonista sabe o que faz e termina encontrando a “dose certa”, garantindo suprimento para o resto da vida. Em síntese: se o tráfico de drogas estivesse na bolsa, suas ações teriam aumentado muito depois deste filme.

Uma rápida menção em uma palestra na UFRGS, sugerindo política mais tolerante com relação à maconha, rendeu ao governador Tarso Genro críticas contundentes. Reinaldo Azevedo (da “Veja”, claro) chegou a sugerir sua cassação. Silvio Holderbaum escreveu em ZH artigo com o criativo título (especialmente para um publicitário) “Em boca fechada não entra mosca”, criticando o governador, entre outras coisas, por ter se referido ao seu tempo de luta clandestina. Para o articulista, isto seria “um modo sutil de dizer que vivia fora da lei”, concluindo: “ou será que traficantes, assassinos e outros fora da lei também não vivem na clandestinidade?” Uau! Tarso Genro se referiu à luta clandestina contra a ditadura militar. Uma época onde a “legalidade” era ilegal, fonte de usurpação perpetrada por golpe de Estado. Uma “legalidade” contra as eleições diretas, contra a liberdade de expressão e contra as garantias individuais. Bem, é claro que as pessoas têm o direito de usar apenas 20% de sua capacidade cerebral, mas chama a atenção o que há de desproporcional nas críticas. Observe-se: o governador não defendeu a legalização da maconha. Afirmou que uma política de drogas não deve tratar a maconha da mesma forma como a heroína ou o crack. Posição que, aliás, é política pública em quase toda a Europa Ocidental e, mais recentemente, mesmo em alguns países sul-americanos. Detalhe: quem defende a discriminalização da maconha é o ex-presidente Fernando Henrique. Ao lado dos também ex-presidentes César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México), FHC tem afirmado que, para além dos eventuais malefícios à saúde, é preciso repensar a política criminal por conta dos efeitos muito mais perversos do proibicionismo. A começar pelo tráfico, claro. Posição com a qual estou de pleno acordo. Mas Fernando Henrique não foi, não é e não será criticado por conta desta posição. Todos sabemos a razão. A escolha de Tarso pelos críticos, assim, diz muito mais sobre eles do que sobre o governador.

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