Ato político
Como profetizou a canção, "somos o país do futuro. Futuro que insiste em não vir por aqui".
E justo quando havíamos encontrado o caminho para nos colocar noutro patamar de desenvolvimento material e humano (ou justamente por esse motivo), eis que as forças do atraso formaram uma onda turva e avassaladora que nos jogou de volta no passado longíquo e terrivelmente nas garras do mal.
Mas "não há longa noite que não encontre o dia".
“O governo roda em torno de si
mesmo e do nada(…) Acabrunha, irrita, revolta”
(Miriam Leitão, hoje no
Globo, resumindo a ópera bufa bolsonariana).
No mesmo
dia em que Jair Bolsonaro completa dois meses de governo, o noticiário político
dá conta de que ele, eleito em nome da “nova política” e do combate à
corrupção, já cedeu à chantagem do “dá ou desce” do Centrão velho de guerra dos
tempos de Eduardo Cunha.
A mesma
“velha política”, criminalizada pelo capitão durante a campanha eleitoral, que
levou Dilma ao impeachment, agora ameaça detonar a reforma da Previdência, o
pau da barraca do governo, se não forem atendidas suas demandas.
Em nome da
pátria, pedem o mesmo de sempre: verbas das emendas parlamentares à vista
(fala-se em R$ 10 milhões por cabeça) e cargos no segundo escalão do governo
federal em seus estados.
Mesmo
fazendo cara feia, Bolsonaro foi negociar o apoio dos partidos do centrão e, já
meio no desespero, convocou o filho Carlucho, o Zero Dois, para deflagrar uma
campanha nas redes sociais em favor da aprovação da reforma.
Só vamos
saber o resultado dessa ofensiva depois do Carnaval porque as excelências já
deixaram Brasília e só voltam na segunda semana de março.
Até lá, a
reforma da Previdência, o pacote do Moro, e o resto vão ter que esperar.
Sem ter
conseguido até agora montar uma articulação política que preste no Congresso,
sem uma base aliada confiável, sem um projeto de governo definido, com um
ministério esquizofrênico, Bolsonaro atravessou este primeiro período de
governo entre fracassos e delírios, a cada dia mais perdido na cadeira
presidencial.
A chamada
“lua de mel” de início de mandato foi um completo desastre.
Frondosos
pomares de laranjais, variadas denúncias de corrupção de membros do governo,
chantagens, barganhas, bateção de cabeças no Planalto, atritos com importantes
parceiros comerciais, não teve um dia sem crise com a “nova política”.
Até os
bolsominions que o elegeram já estão perdendo a paciência, como Carlucho
constatou na reação às suas mensagens em defesa do pacote de Paulo Guedes, o Robin
Wood ao contrário formado na escola de Chicago.
“Votei no
17 mas nem ferrando eu concordo com a Previdência”, reagiu um internauta ao
comentar o vídeo postado pelo Zero Dois com Bolsonaro defendendo as mudanças,
como relata Monica Bergamo em sua coluna na Folha.
“Seu pai
podia fazer uma `live´explicando como se aposentar aos 33 anos de idade”,
escreveu outro, lembrando o fato de Bolsonaro ter sido reformado (aposentado)
pelo Exército, ao final de um processo por indisciplina.
Fake news
no twitter e no zap-zap podem servir para ganhar uma eleição fraudada, mas não
se mostram muito úteis para governar, tanto que os Bolsonaros estão saindo
fininho das redes sociais nos últimos dias.
Os deuses
do mercado também parecem já não botar fé nos poderes do capitão: o Índice de
Confiança Empresarial caiu 0,7 ponto em fevereiro, segundo a Fundação Getúlio
Vargas.
E até o PSL
do laranjeiro Luciano Bivar, o partido franqueado ao presidente para disputar a
eleição, já está dividido, com seus cacarecos disputando o butim do poder indo
com muita sede ao pote.
De prático, só tivemos
até agora o envio dos pacotes de Guedes e Moro à Câmara, onde estão empacados.
Até onde o
desgoverno bolsonariano vai resistir?
E até onde
o país aguenta tantos desvarios de ministros, elogios a ditadores e
torturadores, ameaças aos direitos humanos e às conquistas sociais, agressões
ao bom senso e à mínima civilidade nos modos?
Com o poder
dividido entre os filhos do capitão e os generais de pijama que o tutelam, tudo
pode acontecer, inclusive nada.
Por
enquanto, eles estão mais preocupados com o destino da Venezuela de Maduro e o
muro do Trump na fronteira do México do que com o dos 12,7 milhões de
desempregados brasileiros, segundo o último levantamento do IBGE.
Parece
ficção, e é tudo real. Foram só dois meses, mas já parece uma eternidade.
Vida que
segue.
Roubartilhado de: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ricardokotscho/385416/Dois-meses-de-Bolsonaro-del%C3%ADrios-fracassos-e-a-volta-do-%E2%80%9Cd%C3%A1-ou-desce%E2%80%9D.htm
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