Ato político


Juremir Machado Da Silva é sempre leitura obrigatória. Ainda mais quando aborda a questão eleitoral de agora que, venho dizendo ha algum tempo, vai muito além da disputa pelo poder de um governo, e sim por quais valores e modelo de comportamento queremos para o futuro do país.


Eleições 2018, civilização e barbárie


Pode haver exagero em dizer que a eleição talvez se decida entre civilização e barbárie.
É possível que se dê o confronto entre barbárie e apenas um pouco de educação. Já é bastante.
A civilização nem sempre é o apogeu da cultura. Por vezes, é a sua decadência. Curioso é que a barbárie costuma adotar muitos disfarces. Um deles é o retorno a uma suposta ordem natural perdida na qual cada um saberia o seu devido lugar e ninguém tentaria subverter o princípio da chefia.
Dizem que a humanidade, mesmo mergulhada na globalização e na dissolução das fronteiras, exceto pela resistência de Trump e de seu amigo norte-coreano, ainda não desistiu de um salvador da pátria. Na hora de caracterizar o personagem os roteiristas não conseguem pensar coisa melhor: fala grosso, chuta o balde e promete dar um tranco na esculhambação. Esse tipo de discurso tem a eficácia de um papo de boteco. Desce redondo. Tão redondo quanto a trigésima gelada acompanhada de uma branquinha poderosa. Os pessimistas acham que o Brasil ainda procura o caminho da civilização. Se for o caso, o perigo é o atalho. O atalho costuma alongar o caminho encurtando a viagem.
Tudo é paradoxo quando o futuro se confunde com o passado. É verdade que a civilização nem sempre é confiável. Os índios que o digam. Eles têm protagonizado ao longo do tempo justamente o conflito entre cultura e civilização, com os bárbaros fazendo o papel de civilizados. Às vezes, porém, a barbárie cansa de avançar mascarada e rasga a fantasia. Ganha-se em clareza. Não se perde mais tempo decifrando mensagens. Cada palavra vale o que pesa: uma ameaça. A barbárie pode ser muito astuta. Não podendo aprofundar, simplifica. Tudo fica mais compreensível na medida em que se torna impertinente.
O apogeu da barbárie costuma acontecer quando se imagina que o indivíduo se protege melhor sozinho do que em sociedade. Historicamente se convencionou que há um descompasso entre segurança e liberdade. Mais segurança, um pouco menos de liberdade. Mais liberdade, um pouco menos de segurança. Há quem entenda que o mesmo ocorreria entre igualdade e liberdade. A civilização acredita na possibilidade de um equilíbrio construído pelo diálogo. A barbárie é expedita. Atribuem ao nazista Herman Göring esta frase terrível: “Quando ouço alguém falar em cultura, saco o meu revólver”. Tem pior?
Vejamos: quando ouço falar em cultura, saco a minha civilização. Quando ouço falar em civilização, saco a minha barbárie. Quando ouço falar em democracia, saco a minha ditadura sempre ao alcance da mão direita ou da mão esquerda. A lista é interminável. Já não se espera que as coisas se resolvam em nome da civilização, mas apenas com civilidade. Já não se aguarda um grande e esclarecedor debate. Basta que os oponentes se cumprimentem antes da batalha campal. A situação é tão tensa que antes de um encontro teria acontecido uma escaramuça:
– Bom dia – disse um dos candidatos.
– Não me venha com ironia – respondeu o outro.
Assim avança a humanidade. Para trás.

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