Ato político


Quem possui o mínimo de senso crítico e não se deixa arrastar pelas ondas midiáticas sabe que toda a artilharia pesada que vem sendo usada contra a Petrobras vai muito além do combate à corrupção. Aliás, no fundo toda essa celeuma é para ampliar o envolvimento de uns com a corrupção e esconder ou diminir a participação de outros no esquema, talvez os maiores corruptos e corruptores nessa história.

Quem conhece minimamente a história e os interesses que movem as nações sabe que o petróleo é uma mina de ouro que desperta cobiças e já desencadeou muitas guerras e conflitos.

Quem não lembra da invasão do Iraque com o pretexto de libertar o povo iraquiano da tirania de Sadan Hussen e salvar o mundo do perigo das armas nucleares suportamente existentes naquele país? Pois é, ao final e ao cabo não existia arma nuclear nenhuma e a cobiça norteamericana por petróleo ainda acabou armando pesadamente o espírito e a ideologia sangrenta que agora assombra o Oriente Médio e muitas partes do mundo sob a denominação de "estado islâmico".

Quem não lembra da vizinha Venezuela, onde não faz muito tempo novamente a cobiça norteamericana por petróleo ajudou a montar e financiar o golpe no então presidente eleito legitimamente pelo voto popular, Hugo Chávez, que retornou ao poder poucas horas depois nos braços do povo daquele país que resistiu bravamente e rapidamente armou o contragolpe.

Com ares e estratégias diferentes o que está em jogo na questão que envolve a Petrobras não é, repito, apenas uma luta contra a corrupção na estatal. Aliás, o que muitos combatem (e isso não é de hoje), é exatamente o caráter estatal e público da empresa que, a partir da descoberta do Pré-Sal, se tornou uma verdadeira "galinha dos ovos de ouro" e uma das principais fontes de investimento na educação, saúde, infraestrutura e cultura do povo brasileiro.

Portanto, não estou sugerindo que esteja em curso um golpe político na Petrobras patrocinado pelo governo norteamericano. Mas está na cara que muito mais que combater à corrupção, o que ocorre atualmente é uma mistura de interesses políticos oposicionistas com uma ofensiva brutal do capital internacional para fragilizar a Petrobras como patrimônio nacional e como umas das grandes potencias petrolíferas mundiais, diminuindo seu poder de fogo nesse mercado e/ou vendendo a falsa ideia de que a privatizaçao é a única forma se "salvar" a empresa.

A expectativa da "turma do contra" era avançar por esse caminho, através da indicação de alguém afinado com esse pensamento para assumir o comando da empresa, a partir da saída de Graça Foster. Pois a presidenta Dilma, num golpe de mestre, deu um xeque-mate nessa turma, nomeando um presidente comprometido em combater à corrupção e os problemas de gestão na Petrobras, presenvando seu caráter público e estatal. 

Esse é o teor da análise sóbria e brilhante de Emir Sader...


O x da questão da Petrobras

Por Emir Sader


Estava tudo pronto. A pantomima parecia funcionar conforme o desenhado. Cada ator cumpria perfeitamente o seu papel. Tudo parecia indicar o final sonhado.


Primeiro criou-se a imagem do caos da Petrobras, apesar da empresa bater recordes de produção. Mas o monopólio privado da mídia encarregou-se de reverter o nome publico da empresa. O fundamental parecia ter sido feito: a reversão da imagem da empresa de orgulho nacional para problema nacional.


Aí se passou à segunda fase da operação. Empresa falida, soluções: abertura do capital estrangeiro no Pré-sal (lógico), contra o regime de partilha, fim dos componentes nacionais, vender o que dá prejuízo, baixar o perfil da empresa ao mínimo. Soluções e agentes: abriu-se o álbum de figurinhas e se colocou a circular os novos heróis da direita, que iam resgatar a Petrobras das garras estatizantes do PT e jogá-la no colo do mercado. De Paulo Lehman a Henrique Meirelles, não faltou nenhum.


Era só sentar pra esperar a que salvador do mercado a Dilma ia apelar. E começar a sonhar com entrar na sala da presidência da Petrobras – como em outros tempos – para entrevistas e outros papos.


Soltar periodicamente boatos para que a bolsa e as próprias ações da Petrobras disparassem – o preferido era que o Meirelles ja estaria assumindo -, para desovar ações compradas na baixa. E preparar as manchetes: Dilma se rende ao mercado, nomeia tal ou qual, mercado adora e Bolsa dispara.


Corriam soltas as salivações tipo pavloviano, orgasmos múltiplos se multiplicavam pelas redações. Quando, de repente, só que não. Deu zebra. Dilma nomeia o presidente do Banco do Brasil.


Aí acionou-se o plano B: Mercado se decepciona e Bolsa despenca! Onde está o dossiê de denuncias do cara nomeado? O que fazer agora? Dizer que a Dilma tentou todos os da lista do mercado e nenhum aceitou?  Ou que o vicio estatizante dela prevaleceu? Dizer que houve muita divergência dentro do governo, na Petrobras e no próprio PT.


Passar a tomar o Bendine como vítima privilegiada, para tentar que não se fortaleça, que não se estabilize, que não dirija um processo de resgate e de fortalecimento da Petrobras.


Clima depressivo nas redações, de rancor, de ódio, de frustração. As manchetes de domingo, as capas das revistas, estavam prontas. A euforia deu lugar à depressão, ao clima de derrota. Tudo para dar no Bendine.


A pantomima deu errado, essa é que é a verdade, quando até alguns no campo da esquerda davam a batalha por perdida. Os nomes não eram apenas nomes, representavam interesses radicalmente distintos. A grande maioria, do “mercado”, que é que jogou pesado contra a Petrobras, cuja simpatia haveria que reconquistar, então nada melhor que alguém do “mercado”, para que o “mercado” ficasse contente.


Só que essa conquista significaria atentar centralmente contra o caráter público da Petrobras e entregá-la à esfera mercantil, aos interesses privatistas. Os mesmos que chegaram a fazer com que ela se chamasse, por um dia, Petrobrax. Esse o x da questão. Quem resgata a Petrobras é o mercado ou é a esfera publica?


Depende do diagnóstico que se faça. O da direita é o de que os problemas da empresa vem do seu caráter estatizante. O diagnóstico da esquerda é de que os problemas vieram da penetração de interesses e comportamentos privatizantes no seio da empresa.


No primeiro caso, se trataria de avançar na direção da privatização da empresa, da sua imersão na dinâmica do mercado. No segundo, de restabelecer plenamente seu caráter público, eliminando comportamentos e interesses mercantis de dentro da empresa.


Esse o x da questão da Petrobras, o mesmo x que o governo FHC quis introduzir no nome da empresa, mas a opinião pública impediu.


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