Pensar é preciso

“O RS não está sendo informado sobre o que acontece no Estado. Vamos mostrar onde está o governo”

Marco Weissheimer

O governador Tarso Genro tentará quebrar um tabu este ano: ser o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul. Questionado sobre o tema, ele responde rápido: “Até a eleição passada, o Rio Grande do Sul também não tinha eleito nenhum governador no primeiro turno”. Em entrevista ao Sul21, Tarso Genro fala sobre sua pré-candidatura à reeleição, analisa o seu mandato e o quadro eleitoral no Estado. Além disso, aborda um dos temas preferidos por seus críticos e adversários: o piso do magistério. A sua resposta vem acompanhada de um desafio: “em quatro anos, vamos corrigir o salário dos professores em 76,6%, o que representa 50% de aumento real. Eu desafio que nossos adversários nos mostrem algum governo que tenha dado 50% de aumento real aos professores em quatro anos”.

O chefe do Executivo gaúcho entende que a população do Rio Grande do Sul não está sendo informada sobre o que está acontecendo no Estado, o que estaria, na sua opinião, induzindo a própria oposição a cometer erros de avaliação. Tarso diz que vai fazer um debate programático de alto nível, comparando os resultados do governo atual com o dos governos anteriores e defendendo o projeto em curso.

Sul21: Por que o senhor quer ser candidato a governador do Rio Grande do Sul? No seu caso, candidato à reeleição.

Tarso Genro: É um dever cívico, moral e político de dar continuidade às mudanças sociais e econômicas que nós estamos fazendo no Estado. O meu partido e os demais partidos que nos acompanham entenderam que a minha candidatura era a que oferecia a maior possibilidade de vitória, apesar de termos nomes bons em todos os partidos. Isso está relacionado ao programa de governo que estamos aplicando no Estado.

Sul21: Como resumiria a sua gestão nestes últimos três anos e meio? Quais são as suas marcas, na sua opinião?

 Tarso Genro: Acredito que conseguimos configurar agora um perfil muito claro do nosso governo, o que terá um impacto muito importante nas eleições. Trata-se da combinação das políticas de desenvolvimento com as políticas sociais. O Rio Grande do Sul hoje não é mais o mesmo. O crescimento do Estado, a aposta que nós fizemos no refinanciamento da nossa base produtiva, da agricultura familiar, a democratização da política de incentivos que trouxe para cá dezenas de investimentos de fora do Estado e de fora do país, combinados com uma forte articulação com políticas do governo federal, diferenciam o nosso governo radicalmente dos dois governos anteriores. Essa diferenciação pode ser sentida e visualizada nos índices de crescimento industrial, de crescimento do PIB e de inclusão social e produtiva que o nosso governo apresenta. Então, o nosso governo poderia ser sintetizado como um governo desenvolvimentista com justiça social e combate às desigualdades regionais.

Sul21: Qual é o principal problema do Estado hoje? É o tema da dívida?

Tarso Genro: Acho que o Estado tem três questões estratégicas para encaminhar e superar no próximo período. Em primeiro lugar, um avanço ainda maior na reestruturação da dívida pública, depois de ser aprovada no Senado essa reestruturação inicial. Em segundo, uma qualificação ainda maior das políticas de saúde, educação e segurança, áreas nas quais avançamos muito, mas ainda de maneira insuficiente, até por problemas no financiamento desses três setores. Poderia citar como modelo de avanço o que ocorreu na área da saúde, com a destinação de 12% dos recursos do orçamento. E a terceira questão é aprofundar e qualificar ainda mais o nosso sistema de participação popular. A natureza do desenvolvimento é dada não somente pelas políticas públicas do Estado, mas também por meio da participação cidadã dos movimentos sociais, dos de baixo que, ordinariamente, limitam a sua participação ao momento do voto. O aprimoramento do sistema de participação popular, que já recebeu prêmios da ONU e é apontado hoje como uma referência internacional, deve ter uma continuidade da nossa atenção e da nossa ação política e organizativa.

Sul21: Com a definição das pré-candidaturas ao governo, o cenário da disputa eleitoral no Rio Grande do Sul está praticamente definido. Qual a sua avaliação sobre esse cenário e sobre as forças em disputa?

Tarso Genro: Acho que os candidatos com mais potência eleitoral representam bem os seus partidos e são todos pessoas sérias que tem currículos profissionais e políticos respeitáveis. Mas todos têm uma identidade política e programática bem definida. Todos governaram o Rio Grande do Sul. A candidata do PP esteve à frente do governo Yeda, seu partido participou do governo Yeda de maneira muito expressiva. O PMDB também integrou o governo Yeda e governou o Estado antes. E o candidato do PDT é de um partido que esteve conosco até pouco tempo. Eu diria inclusive que tem uma maior identidade programática conosco do que diferenças. Portanto, teremos uma eleição que vai comparar métodos de governo e conteúdos programáticos de governo.

Eu não tenho medo de dizer que a polarização aqui no Rio Grande do Sul vai ser entre o projeto neoliberal de enfraquecimento das funções públicas do Estado, de ausência de recursos para políticas sociais, de ausência de políticas para a agricultura familiar e para o desenvolvimento industrial do Estado – representado pelo que foram os governos Yeda e Britto – e o projeto representado pelo que foi o governo Olívio e o que está sendo o nosso governo. Será uma eleição com nitidez programática, com as questões ideológicas correspondentes, como forma de tratamento dos movimentos sociais, democracia participativa combinada com a representação parlamentar, relação com as políticas do governo federal, tudo isso vai estar em jogo. Tenho confiança que o nosso governo tem uma nítida diferença em relação aos projetos representados, em especial, pelos governos Britto e Yeda.

Sul21: A relação da disputa estadual com a nacional deve apresentar algumas peculiaridades, com alguns partidos divididos apoiando candidatos distintos para a presidência da República. Qual a influência que esse quadro pode ter na disputa estadual?

Tarso Genro: Há uma gama enorme de prefeitos do PMDB que deverão apoiar a Dilma. Muitos prefeitos do PP também vão apoiar a Dilma. Creio que a maioria dos prefeitos do PDT vai no mesmo caminho. Essa contradição não é nossa. É uma contradição, saudável até, dos partidos adversários. Quem representa o governo Dilma aqui, e venho dizendo isso desde o começo, somos nós. A Dilma é a candidata da minha coalizão e o seu palanque é o meu palanque. Se há outros partidos que apoiam a presidenta Dilma, eu os saúdo, mas a diferenciação que eles terão que explicitar durante a campanha não é um problema nosso.

Sul21: Boa parte de seus críticos e opositores, ao falar do seu governo, aborda o tema o piso do magistério, da promessa que não teria sido cumprida. Como o senhor responde a essa questão?

Tarso Genro: Nós não chegamos ao piso do Fundeb combinado com o quadro de carreira. Isso é verdadeiro. O piso salarial nacional que eu remeti ao Congresso em duas oportunidades determinava que ele fosse corrigido pelo INPC e não pelo critério que foi inventado por uma convicção oportunista do senador Cristóvão Buarque, que sempre foi muito magoado com o governo federal, pois ministro durante pouco tempo e não conseguiu implementar nenhuma política eficiente no Ministério da Educação. De outra parte eu tenho argumentos muito sólidos. Nós, em quatro anos, vamos corrigir o salário dos professores em 76,6%, o que representa 50% de aumento real. Eu desafio que nossos adversários nos mostrem algum governo que tenha dado 50% de aumento real aos professores em quatro anos. Não ocorreu em nenhum governo a não ser o nosso. Isso é produto de uma convicção nossa.

Para o próximo período, a negociação do governo estadual com a representação sindical dos professores será a seguinte: ou continuamos essa política de valorização considerando o INPC, e vamos continuar discutindo isso talvez de maneira infinita, ou vamos combinar o piso do Fundeb com outro quadro. Com esse quadro não é possível. Todos sabem que não é possível. Nós temos argumentos fortes para defender a nossa política, inclusive com a reestruturação curricular, com a valorização do politécnico, com a recuperação da rede física das escolas, que nos foi entregue completamente deteriorada, e com a montagem de um sistema de avaliação que é exemplar hoje no país. Nós progredimos muito na educação, não tudo aquilo que desejamos, o que também é impossível de fazer num governo só. Eu tenho ido nas escolas de todo o Estado e conversado com os professores. Com exceção de uma micro-vanguarda do CPERS, eu tenho sido muito bem recebido e respeitado. Os professores e os servidores de um modo geral estão entendendo e fazendo uma comparação muito positiva entre o nosso governo e os governos anteriores.

Sul21: O senhor poderia citar um problema que não conseguiu resolver e que gostaria de superar em um eventual segundo mandato?

Tarso Genro: Agilidade da máquina para fazer obras.

Sul21: O que emperra isso?

Tarso Genro: O que emperra é uma legalidade barroca que pesa sobre isso e a deterioração da estrutura técnica do Estado, que eu subestimei quando cheguei ao governo. Eu sabia que estava deteriorada, mas não tanto assim. Nós demoramos para recuperar, com concursos, com melhoria dos quadros de servidores, melhorias salariais, qualificação técnica dos servidores. Demorou cerca de um ano a mais do que eu esperava para iniciarmos um choque de obras. Nós acabamos avançando muito, mas essa é uma questão a ser enfrentada: a simplificação dos processos e uma maior qualificação técnica da estrutura da máquina para fazer obras será uma questão importante, sim, do próximo governo.

Sul21: O Rio Grande do Sul tem a particularidade de nunca ter reeleito um governo. Na sua opinião, há alguma razão especial para isso ou é algo mais contingencial mesmo, ou uma espécie de vocação oposicionista atávica do Estado?

Tarso Genro: Até a eleição passada, o Rio Grande do Sul também não tinha eleito nenhum governador no primeiro turno. Eu estimo que estamos hoje em melhores condições de disputar a eleição do que estávamos em 2010. Até agora o Rio Grande do Sul não está sendo informado de maneira rigorosa sobre o que está acontecendo no Estado. Isso, inclusive, está induzindo nossos adversários a erros. Veja, por exemplo, a candidatura da senadora (Ana Amélia Lemos) que pergunta: onde está o governo? Essa pergunta é a declaração de uma impotência. Eles não têm consciência do que está acontecendo no Estado, nos assentamentos, na agricultura familiar, nas cooperativas, no microcrédito, na expansão das empresas, nas políticas de combate à miséria absoluta com o RS Mais Igual, nas políticas de irrigação, nas medidas que tomamos para desenvolver o trigo. Hoje nós temos o dobro de obras em ligações municipais que os dois governos anteriores ao nosso tiveram.

Fizemos um processo informativo, apenas com uma campanha publicitária, pois não tínhamos recursos para isso. A campanha eleitoral vai nos permitir passar todas essas informações, o que terá um efeito extraordinário na sociedade. Hoje nós estamos enfrentando um problema por que o número de obras no Estado é tão grande que as empresas na área do saneamento não estão conseguindo atender as nossas encomendas. O mesmo ocorre em relação às estradas. São centenas de obras do governo do Estado e do governo federal que estão sendo tocadas no Rio Grande do Sul. Agora, o que aparece na grande mídia, especialmente na RBS, é o problema, nunca aparece o que estamos fazendo. Então é natural que essa desinformação seja transmitida para os demais partidos de maneira distorcida.

A agenda do debate político, além dessas questões que já apontei, com a qual vamos trabalhar será comparar, inclusive no plano material, o que nós fizemos e o que os governos anteriores fizeram. Creio que estamos em boas condições de disputa. Vamos fazer nossos programas de televisão em alto nível, sem atacar a honra de qualquer pessoa ou de qualquer partido. Acho que a grande mídia combate hoje a política e a própria democracia de forma autoritária, manchando a reputação dos partidos e de suas lideranças, generalizando as acusações de corrupção. Todos os partidos têm problemas de comportamento. Nós sabemos disso. Mas não podemos generalizar ou fazer acusações sem provas. Nós não vamos fazer esse tipo de campanha. Vamos prestigiar a esfera da política e fazer um debate programático de alto nível sobre o futuro do Estado.

Por exemplo, vou fazer uma afirmação agora nesta entrevista que eu quero debater: quero dizer que a senhora Ana Amélia Lemos não conhece o Estado do Rio Grande do Sul. Ela tem uma relação com o Estado mediada por programas de televisão, falando especialmente do agronegócio. Ela não conhece o Estado, a dinâmica produtiva da agricultura familiar, a vida dos pobres, das pequenas cidades, dos pequenos empreendimentos, que é o que pulsa em 90% a economia do Rio Grande do Sul. Eu vou fazer esse debate com ela. A pergunta que ela faz revela esse desconhecimento. Ela vai ver onde está o governo no processo que vamos viver nos próximos meses.

Publicado originalmente no site Sul 21: http://www.sul21.com.br/jornal/o-rs-nao-esta-sendo-informado-sobre-o-que-acontece-no-estado-vamos-mostrar-onde-esta-o-governo/

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