Linhas tortas a favor do envolvimento amoroso




Meu ideal de relação é que não existe relação ideal.
As pessoas se desentendem,
Desacertam,
Desatendem...

No meu entender, no entanto, a relação pede e precisa
de algumas questõezinhas básicas para se manter de pé.
Do contrário ela definha ou segue enfadonha.
Em suma, relação supõe entrega e troca.

Uma troca que poucos parecem topar.
O mais comum é a troca de uma relação amorosa por outra, ou o troco no sentido
de pagar as mazelas (não deslizes) do outro na mesma moeda.
E aqui falo por mim mesmo, já que não estou imune ou vacinado
contra esse vazio de envolvimento afetivo do nosso tempo.

Alguém há de me acusar de piegas, de empunhar a bandeira rota do romantismo...
O que é isso tiozinho, a onda agora é dividir os momentos de prazer e deixar o outro livre para
buscar alento à incompletude do seu ser bem longe ou em outras relações que não envolvam sexo?!
Ou seja, o mesmo que dizer que prazer, paz e lucidez são inconciliáveis.

Cada um sabe de si e procuro cuidar minhas ânsias, cúmulos e deserções
antes de atentar para as ânsias, cúmulos e deserções alheias.

O certo é que não me defino como romântico, mas como alguém que procura
colocar o coração em tudo que faz e tenta insistir numa história de amor até o fim,
mesmo que o final tenha poucas chances de ser feliz.
Acrescentando que uma das vias que pode levar ao final é a trapaça, a traça do abandono ou
a pressão histérica e paralisante. Dito de um modo mais direto: quando estamos
prestes a definhar emocionalmente, ludibriados ou acossados a perder nossa essência.

O fato é que muitos estão a preferir o caminho mais fácil
de andar de corpos em corpos ou manter um caso
como fardo, apenas pelo ímpeto de atender às
convenções inconvenientemente sociais.

É mais fácil fugir, trocar de par, do que encarar a realidade de uma relação
que é sempre árdua e complexa e laboriosa.
Parece ser mais fácil também manter as aparências a ter que sucumbir diante
das evidências de que não dá mais, por mais que se tente consertar as coisas
ou contornar a sequência insuportável de desencontros...

Mas não estou aqui para falar disso que prefiro chamar de pseudo-relações ou da
fuga deliberada de si mesmo, que então passa a esconder suas coisas relacionais debaixo do tapete
interior ou saciar a insaciedade do seu eu no rodízio insaciável das carnes dos outros.

Prefiro falar da RE-LA-ÇÃO no verdadeiro sentido da palavra,
sendo que esta supõe uma infinidade de gestos, palavras e palpitações.

Relação exige confiança,
cumplicidade,
amparo nas horas boas e adversas,
fogo nos estantes extasiantes de prazer.
Todas relações verdadeiramente amorosas sempre nos dão algo
e a elas damos algo nosso também.

No entanto, sinto que ainda carrego esse vazio, essa falta de alguém que não queira
me tornar sua imagem e semelhança,
mas que compreenda meus gostos,
minhas habilidades e predileções,
meus gestos às vezes indigestos,
meu cio de corpo, aconchego e espaço.

Comumente me perco à procura de um ser amado
que me respeite e cutuque e provoque.
Penso que relação deve ser troca, nunca prisão.
O fato de ser aprisionante já lhe rouba o status de relação, convertendo-se em catequização, submissão e uma série de outros não.
O que não significa que temos liberdade para fazer tudo. Não!
Já se disse que liberdade só é liberdade quando acompanhada pela responsabilidade.

E se não é liberdade de fato e de direito é libertinagem,
licenciosidade, sacanagem, insegurança de si que se afunda numa lama
sem fim ou na alma em chamas do par.
Falo, portanto, em relação à essência do ser de cada um.
Cada um é de um jeito próprio, único
é isso precisa sim ser respeitado,
lapidado numa relação,
mas de um jeito que não provoque feridas.

Discordar, sim
Atropelar ou subjugar, jamais.

Para mim é possível aprender reciprocamente com o outro
e tornar a caminhada de uma relação muito longa
ou, quiçá, interminável e prazerosa.
Longe de ser um jogo ou jugo ou fardo que se precisa carregar
apenas pela jura do até que a morte os separe!

O dado concreto, quase científico, é que por mais intensa e afinada que seja
nenhuma relação tem o poder de nos tornar perfeitos.
Relação é para nos fazer um pouco melhores, através
do contato imediato e conflitante com o íntimo de outro ser. Nada mais!
Embora no final das contas isso signifique muito.


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