Ponto mais sensível do governo e a menina dos olhos cegos da oposição



Para mim, a área da saúde é o ponto mais sensível da administração atualmente, não apenas a administração do nosso município, mas da imensa maioria das administrações públicas pelo país afora. No âmbito local, entretanto, a situação parece ser um pouco mais dramática. E por quê? Porque além dos muitos problemas próprios da gestão da saúde, o setor ainda convive com a enorme expectativa que pesava sobre o novo governo e os ataques excessivos e impiedosos de muitos que usam a dor alheia na tentativa de se promover eleitoralmente.

Só para recordar, junto com a desorganização administrativa, a fragilidade da saúde foi o principal tema do último embate eleitoral, sendo que o maior símbolo e exemplo disso foi o rompimento da relação da prefeitura com o hospital, que colocou esta instituição na UTI. Outro problema gravíssimo foi a forma de adesão ao Programa de Saúde da Família, uma iniciativa digna de todos os aplausos, porém feita sem a devida estruturação física o que veio desvirtuar o Programa e, ao mesmo tempo, criar um obstáculo de difícil superação para o trabalho dos profissionais que compõem as equipes.

O Programa foi implantado no município porque o Ministério da Saúde recebeu da gestão da época a informação sobre existência do Centro Municipal de Saúde na área urbana, além de Unidades de Saúde devidamente instaladas nas localidades do Bote e Basílio, algo só existente no papel. Pois bem, a concepção do PSF (hoje ESF) prevê que a saúde chegue cada vez mais perto das pessoas, tendo uma unidade de saúde próximo de suas casas. Num município como o nosso, com uma área territorial considerável e quase a metade da população vivendo na área rural, a inexistência dessas unidades de saúde previstas no projeto, ao invés de desafogar os atendimentos acabou produzindo o efeito contrário e, como já mencionado, emperrando o trabalho das equipes pela falta da estrutura física adequada.

Por outro lado, as pessoas que procuram os serviços de saúde, o fazem fragilizadas pela dor da doença. Coincidência ou não, os limites e dificuldades do setor acabam atiçando os interesses mesquinhos de alguns políticos, provocando um bombardeio incessante e muitas vezes infundado. Ou seja, no lugar de conhecer o arcabouço legal e as muitas ações realizadas diariamente pelos profissionais e gestores da Secretaria, a maior parte dos políticos prefere entrar nesse debate para reforçar a desinformação e aumentar a angústia da população que depende do Sistema Único de Saúde.

Saúde é, sem dúvida, um direito de todos e um dever do Estado. Porém, este dever constitucional foi regulamentado pela lei 8080/90, que criou o SUS de forma regionalizada e hierarquizada. O que quer dizer que a população tem direito a saúde, mas nem todos os serviços podem ser alcançados no próprio município. No nosso caso, a gestão municipal é responsável pelos serviços básicos de saúde, por isso grande parte dos pacientes precisam ser referenciados para ter acesso ao diagnóstico e tratamento especializados em municípios como Pelotas, Rio Grande, Porto Alegre e Bagé. Não se trata de lavar as mãos, mas de cumprir a regra do sistema.

Escrevi certa feita que o problema de saúde pública é um problema de todo o Brasil, e não apenas de Herval. Na ocasião, fui acusado de estar jogando contra o próprio time político do qual faço parte. Mais uma asneira de alguns políticos incapazes de enxergar um palmo além do próprio umbigo e da vida pequena dos partidos. Disse e torno a repetir que antes de jogar o gato no cachorro é preciso conhecer as regras e o funcionamento do Sistema Único de Saúde para cumprir o papel de informar corretamente a opinião pública e contribuir com o seu aperfeiçoamento. Disse e repito que o SUS é o maior convênio de saúde do mundo e serve de modelo a muitos países, mas mesmo assim precisa ser urgentemente consolidado e aprimorado.

A tentativa de enfraquecer o SUS começou em Brasília com a derrubada da CPMF por uma oposição raivosa, que retirou cerca de R$ 40 bilhões usados no financiamento do sistema, cujos resultados desta votação podem ser vistos na tv ou bem diante dos nossos olhos. Em solo hervalense, os ataques ao SUS parecem caminhar por outros caminhos, pelo caminho da desinformação, pela defesa apaixonada de demandas individuais e pelo estímulo a uma concorrência predatória, através da cobrança desenfreada para que o setor público garanta transporte, agendamentos e até medicamentos em procedimentos realizados na rede privada de saúde.

Defendamos o SUS porque apesar dos pesares ele pode ser nossa única defesa na hora adversa da doença. Também cobremos firmemente dos políticos eleitos pelo nosso voto uma postura mais substantiva e menos adjetiva em favor da qualificação, e não do desmonte da rede que busca efetivar o direito à saúde, uma das maiores conquistas do povo brasileiro.

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