O novo sempre vem 2



No meu escrito anterior abordei algumas mudanças de impacto ocorridas em Herval em pouco mais de duas décadas, em razão da derrocada do modelo baseado nas grandes propriedades rurais que teve como fato gerador o advento da globalização econômica liberal e os problemas na sucessão familiar. Hoje quero me reportar ao aspecto político dessas mudanças que, do meu ponto de vista, num primeiro momento colaboraram bastante para o crescimento em termos sociais e eleitorais do principal partido de vertente popular do município, o PDT.

De início, deixo claro que minha abordagem no que tange ao Partido Democrático Trabalhista, não intenta promover um julgamento político. O que me interessa é focar no aspecto histórico e sociológico do arrefecimento do modelo latifundista no âmbito local que, na minha ótica, teve como uma das consequências políticas imediatas – repito – o fortalecimento do PDT e do trabalhismo na Sentinela da Fronteira, logo após a longa noite da ditadura militar. Aliás, a luta contra a repressão e a favor da democracia é outro episódio que está na base e caracteriza a formação da principal força política da esquerda em nossa terra.

Alguém deve estar se perguntando o quê o enfraquecimento das estâncias tradicionais tem a ver com o ganho de musculatura por parte de uma força política que caminhava em direção oposta a essa estrutura de produção e poder? Ora, com a desnutrição ou mudança de perfil das estâncias, esquiladores, caseiros, alambradores, peões, domadores, tropeiros, etc. Enfim, uma legião de gente que vivia ou prestava serviços no campo foi perdendo ocupações ou o vínculo com as grandes propriedades rurais. Dessa forma, muitos deles migraram para a cidade e com o PDT no poder ou às portas dele, acabaram estabelecendo algum vínculo mais direto com a prefeitura ou mesmo sendo aproveitados como servidores públicos, numa época em que a regra para ingressar no serviço público era praticamente o compadresco e o alinhamento político.

Como na democracia estabelecida pela Constituição de 1988, cada pessoa no uso de seus direitos políticos representa um voto (ao contrário do passado mais distante que o voto era restrito a determinadas figuras da sociedade) e numa cultura política muito atrelada e grata à figura do patrão (no sentido patriarcal), entendo que o PDT no momento em questão teve a virtude ou a esperteza de deslocar ao seu favor uma fatia considerável da sociedade, até então provavelmente afinada ou apadrinhada politicamente pelo “outro lado”. Portanto, tal deslocamento social não representou necessariamente o rompimento com a lógica do pensamento popular em torno da política ou com o modelo de poder “de cima para baixo”. Na prática, o método de ascensão e manutenção do poder sequer arranhou o status quo estabelecido; a mudança foi praticamente na indumentária, na origem social e geográfica (santo de casa não faz milagre) e na localização do patrão, que foi deixando de estar representado nas estâncias para se aquartelar na máquina pública.

De um jeito ou outro o novo sempre vem. Assim, primeiro com o enfraquecimento e depois com o desaparecimento recente da principal liderança trabalhista no município, como também pelo fato de quase toda essa arquitetura política ter sido construída em torno desse nome (e não de um coletivo ou de um projeto renovador e renovável), o PDT perdeu espaço e, em grande parte, o endereço da identidade que deveria caracterizá-lo. Esse talvez seja o grande desafio da sigla atualmente, ou seja, mais que um novo “patrão arrebanhador de pobres", gastar energias para gestar no seu seio uma forma de fazer política que dialogue com a realidade do município e rompa o círculo vicioso de vender um mundo de ilusões, no culto cego de si mesmo e no elogio à pobreza como mero artifício para manter os pobres conformados com suas carências materiais.

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