Ato político
A capacidade de pensar é o que nos distingue ou deveria distinguir dos bichos, algo cada vez mais raro e raso nesses tempos de histeria coletiva e tantas mentes formadas pelas opiniões interessadamente publicadas, postadas ou televisionadas.
Não percamos ou recuperemos a capacidade de pensar. Do contrário, logo ali estaremos parindo lobos ou vice-versa.
Eis a seguir um artigo que convida a pensar sobre política, a boa política, algo mais necessário que nunca. Afinal, política não é vilã da história. De certo não é nenhuma santa, mas política é elo que ligo pessoas e nações, tornando-nos mais humanos e conectados com os interesses que vão além do nosso próprio umbigo ou de pequenos grupos ou tribos.
O mal que muitos atribuem à política, não é causado nem culpa dela em si mesma. Na verdade, é a falta da política que instaura o caos e a histeria. É quando a política se ausenta ou é surrupiada que o bicho pega, pois não existe vácuo em termos de relações humanas e quando a política perde a vez o que existe é a guerra, a cacicagem, a negociata com aquilo que é público. Exatamente o que aconteceu no Brasil do golpe. E não por acaso, tudo friamente calculado por quem sabe que a política pode e deve ser ferramenta de humanização e inclusão de uma legião de pessoas historicamente invisíveis que, finalmente, vinham tendo alguma voz e vez.
Quem aplaudiu Obama tem que aplaudir Lula
O
ex-presidente americano Barack Obama esteve no Brasil, num evento fechado aos
políticos nacionais. Ele não queria, provavelmente, misturar sua imagem aos
envolvidos, justamente ou não, na operação Lava Jato.
Curioso
que tenha diagnosticado, segundo relato do colunista Igor Gielow, na Folha de
São Paulo, a distância entre os cidadãos e o poder político como o combustível
que alimenta o crescimento de movimentos autoritários nos EUA.
Outro
ex-presidente, Lula, tem dito isso
por onde passa:
-Descontentes
com a política? Engaje-se nela, aconselha sempre aos mais jovens.
Obama
disse que os frutos do divórcio entre o sistema político e as pessoas também
estão presentes no Brasil.
Sabemos
disso, Mr. President. Enquanto muitos fingem não ver, Jair Bolsonaro é
a alternativa imediata caso Lulaseja
cassado. E é Lula quem pode, pelo seu histórico no governo, evitar o que
Obama identificou como seu maior arrependimento no poder: não ter sido capaz de
aproximar pessoas em polos opostos do espectro político. “Democracia é duro”.
Sim, ainda mais quando, por meio dela, concilia-se sair do Mapa da Fome com
virar credor do FMI, sem pedir ano a ano para o Congresso aumentar o teto de
endividamento.
Obama
disse, a respeito de sua gestão, que “Fomos bem-sucedidos em evitar uma grande
depressão, mas não foi tão rápido assim, e as pessoas foram para cada uma para
seu canto”. Pois que aqui Lula evitou rapidamente a contaminação, com a economia chegando a crescer 7,5% em
2009, usando métodos semelhantes.
Obama
disse ser impossível argumentar com quem rejeita a ciência do aquecimento
global, como o republicano Donald Trump. E, exatamente no Brasil, houve êxito
em reduzir o desmatamento da Amazônia e
protagonismo no Acordo de Paris, não por obra dos que podem assumir o governo
brasileiro caso Lula seja interditado.
A
Internet no Brasil também “tribalizou a política”, com “o ódio espalhado
pelas redes” contra quem fez uma gestão com vários pontos convergentes com a do
presidente afro-americano, principalmente pondo em destaque a necessidade de
atender aqueles que ficam para trás na globalização, pois “Em um mundo em que
1% detêm a riqueza, há instabilidade política”.
Não à
toa, o Bolsa Família nacional
virou exemplo recomendado pelo Banco Mundial para mitigar esta dramática
realidade, tal como os grandes investimentos em seguridade social, como – e até
mais estruturantes que – o Obamacare, que Trump quer desmontar (e por estas
terras já está sendo posto abaixo por Michel Temer).
Se
isto é “capitalismo liberal” na terra do Tio Sam, na de Zé Carioca se chama
“lulismo”.
O
acordo nuclear com o Irã é realmente exemplo de como a diplomacia pode
suplantar o poderio bélico. E foi Lula quem plantou esta semente com Erdogan,
chefe de Estado da Turquia.
E
se soluções diplomáticas são preferíveis às situações como a crise envolvendo a
Coréia do Norte, conforme palestrou Obama, a analogia cabe para com a da
Venezuela, na qual Trump também prefere tanques e aviões, quando Lula ofertou,
em seu tempo, um grupo de amigos.
Por
saber das dificuldades do processo decisório no mundo, para a qual não faltam
“soluções técnicas”, mas sim políticas, segundo Obama, Lula criou, no início do
seu primeiro mandato, um conselho de desenvolvimento econômico e social para
concertar distintos interesses e mediou as reconhecidas políticas de
desenvolvimento.
A
fome na África poderia ser resolvida em alguns países se os povos “não
estivessem atirando um nos outros”. Uma verdade dita pelo ex-presidente
Democrata. E, no Brasil, a pobreza extrema chegou próximo à erradicação por
causa de políticas sociais que substituíram o tratamento aos mais pobres como
caso de polícia.
Obama
disse não querer “insultar” países com grandes recursos naturais e educação falha —referência clara ao
Brasil (de acordo com o colunista já mencionado) e, após fazer citações
futebolísticas, uma característica de Lula, disse que “não se ganha a Copa do
Mundo” se “você deixar metade de seu time para trás”.
Segundo
Gielow, ele se referia à falta de políticas para a inclusão educacional de
mulheres e também de negros.
Houve
muita resistência do status quo, mas Lula bancou diversas políticas para
incluir negros e mulheres, como o Prouni ou a Lei Maria da Penha. A sucessora
dele vinculou royalties do pré-sal à
educação e ciência & tecnologia.
Diz-se
que Obama recebera um cachê de US$ 400 mil para promover um governo – o dele –
na terra do líder a quem chamou de “My man” na frente das 20 maiores economias
do mundo.
Este
recebia 200 mil para palestrar sobre seu sucesso à frente não do gigante do
Norte, mas o do Sul.
O
público – empresários e alguns atores políticos – da mesma forma, eram
parecidos. Mas uma operação que gerou, por algumas distorções abusivas, o risco
do Brasil cair nas mãos do autoritarismo, criminalizou aquela iniciativa.
Ao que
parece, em São Paulo a plateia não deve ter
gostado do que ouviu. Ou, então, certamente votará em Lula no ano que vem e,
antes, fará oposição à caçada judicial em curso.
Sim, porque a palestra, cujo ingresso custou entre 5 a 7,5 mil reais (enquanto Lula fala ao povo gratuitamente em caravanas regionais), bem que poderia ter sido feita pelo líder das pesquisas para 2018.
Sim, porque a palestra, cujo ingresso custou entre 5 a 7,5 mil reais (enquanto Lula fala ao povo gratuitamente em caravanas regionais), bem que poderia ter sido feita pelo líder das pesquisas para 2018.
Por fim, nada contra recrutar jovens líderes da Fundação Lehmann. Porém, com certeza, jovens sindicalistas, sem-teto, sem-terra, fariam um belíssimo trabalho sendo o objetivo uma liderança progressista internacional.
É
com eles que Lula pretende unir dois slogans de sucesso recente nos Estados
Unidos: sim, podemos ser grandes outra vez.
Wasny de Roure, economista,
deputado distrital e líder no PT na Câmara Legislativa
do DF
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