Ato político
Brasil, grande
Suécia
Sou louco pela Suécia. Doido de
atar. Não passa um mês sem que eu fale da Suécia em palestras ou na frente do
espelho. Sonho que o Brasil se transforme numa grande Suécia. Uma Suécia
tropical misturando funk, samba, bossa nova e algo mais. Sertanejo
universitário não precisa. Os suecos achariam primário. A Suécia é a minha
tara. País mais democrático e menos desigual do mundo. O rei reina, mas não
governa e não faz escândalos como a monarquia inglesa. Não há controle de
constitucionalidade. Nem auxílio-moradia para juiz.
Podemos vir a ser uma grande
Suécia? Muita gente acha que não e culpa o clima. Igualdade e democracia não
combinariam com o calor. É um preconceito típico de quem ganha muito sem suar a
camisa. A Suécia tem dez milhões de habitantes e um parlamento com 349 membros.
Proporcionalmente o nosso não é grande como dizem. Apenas incompetente e voraz.
A Suécia tem uma economia mista fortemente baseada na exportação de produtos
industrializados. Alia como poucos a cultura empresarial e a participação do
Estado na vida das pessoas. Adoro este dado: o sueco, descontados todos os
impostos, embolsa 40% do valor nominal bruto dos seus ganhos. Não é bonito,
instrutivo, edificante?
Quarta economia mais competitiva
do mundo, a alta carga tributária não gera um “custo Suécia”. Embora existam
escolas públicas e privadas, a educação é gratuita. Assim como o material
escolar, a alimentação e o transporte dos estudantes. Há déficit de professores
na Suécia. Culpa do salário mensal baixo: em torno de R$ 13 mil. A solução tem
sido diminuir a carga horária docente e aumentar a remuneração. Com um dos
melhores rendimentos escolares do planeta, a Suécia só faz avaliações com notas
a partir da sexta série. Até esse patamar nada de reprovação. Estuda-se remeter
a avaliação para mais tarde ainda de maneira a diminuir a pressão sobre os
alunos. O dever de casa é considerado anacrônico, ineficiente e está em extinção.
Um dos pontos mais importantes da
educação na Suécia atualmente é a questão de gênero. Procura-se abolir o
tratamento por ele e ela. Há um pronome neutro para designar meninos e meninas
e banheiros unissex. Que país maluco. Investe quase 8% do seu PIB na formação
das crianças e jovens. Cada cidade compromete 42% do seu orçamento com
educação. A Suécia proibiu legalmente a palmada em 1979. Tudo lá é tedioso.
Pouca violência, quase sem polícia na rua, prisões vazias, jornalismo policial
sensacionalista não tem audiência nem razão de ser. Lixeiro casa como médico e
os dois têm salários quase iguais.
O Brasil pode vir a ser uma
grande Suécia? Dificilmente. Por causa do clima? Claro que não. Por causa da
elite brasileira escravocrata. Ela não deixa. Não quer. Gosta de viver
perigosamente. Prefere morar em fortalezas e circular em carro blindado a
dividir o bolo de modo igualitário. A prioridade dos suecos é a justiça social.
A das elites brasileiras é a política de segurança pública. Leia-se, repressão.
Traído por sua burguesia, antiprogressista, o Brasil busca no atraso o seu
futuro. O custo Brasil tem nome: conservadorismo.
Por Juremir Machado da Silva
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