Ato político


A luta continua, brasileiros e brasileiras que não caem na armadilha do "salvador da pátria", nem na arapuca de oferecer nova face ao golpe.

A saída desse beco sem saída é instituir um governo legítimo que, além de credibilidade política, precisa ter votos e falar  a verdadeira voz das ruas, não aquela voz fajuta e inventada que pedia um Brasil Padrão Fifa, mas bastou os seus escolhidos tomarem o poder de assalto para ficarem mudos e aceitarem um nada retumbante no lugar do país que vinha avançando como nunca em nossa história. 

O colapso, a crise, as saídas e as armadilhas

Por Adão Villaverde
Temos afirmado e reafirmado que vivemos e convivemos com uma crise institucional tão profunda que está muito próxima ou, até quem sabe, diante de um colapso de regime.
Depois de jogarem a Constituição no ralo e aprofundarem sua estratégia de destruição da democracia, os golpistas, de um lado, aceleram sua agenda de retirada, a fórceps, dos direitos e conquistas e, de outro, saqueiam e entregam a Nação a interesses não republicanos e anti-nacionais.
Associado a isto, o Judiciário que tinha algum grau de legitimidade em que pese suas falhas e responsabilidades por não ter salvaguardado a nossa Carta Magna, agora está refém da quadrilha que assaltou o poder no Brasil, cujos objetivos não eram combater a corrupção muito menos resolver déficits da economia mas, sim, obstruir a Justiça e bloquear investigações.
Isto tudo ficou comprovado com a vergonhosa absolvição pelo TSE de Temer – e não de Dilma, que já estava cassada, sem provas, por uma maioria golpista.
Os tempos de exceção revelam como agem os déspotas e como usam arbitrariamente a lei impondo suas lógicas de seletividades. Vale o rigor da lei aos seus adversários e sua flexibilização para salvar os seus. Justiça seja feita, o insuspeito ex-ministro do Supremo Nelson Jobim tem insistido na afirmação de que “é muito bom quando os vazamentos e conduções coercitivas ocorrem contra adversários, mas quando são contra os seus, chamam de ataque ao Estado Democrático de Direito e classificam de burla ao devido processo legal. Levará décadas para que justiça brasileira se recupere de danos provocados por juízes descaradamente seletivos e direcionados.
Esta crise tem nome e sobrenome: foi resultado de uma fusão de partidos que renunciaram à ordem democrática e partiram para o ataque a constituição com setores do Judiciário e órgãos de controle, com uma maioria parlamentar corrupta, com certos empresários entreguistas e uma mídia oligopólica, sem qualquer convicção democrática, que atua como braço negocial da defesa da captura do Estado pela financeirização e pelos interesses dos banqueiros. Entretanto, os setores democráticos e progressistas, os movimentos sociais, a juventude, a esquerda, os excluídos, a intelectualidades e as camadas médias esclarecidas não podem “ficar na janela, que nem a Carolina” (como cantou o grande Chico Buarque) acreditando que, vivenciando um regime de exceção, possamos chegar a 2018 iludidos por uma eleição democrática.
Não é amanhã; é agora o momento da luta e do esforço de interromper este indigno e imoral curso que toma o nosso país.
Se lutar agora, é muito mais do que necessário, evitar cair em armadilhas também é fundamental.
Os recorrentes aparecimentos da grande mídia do factoide de um ‘nome de consenso’, após derrubar o ilegítimo Temer, para ocupar, de modo indireto sem a autorização das urnas, o cargo usurpado à presidenta eleita, é uma artimanha muito perigosa que temos que rechaçar a todo custo. Alimentada com simpatia por interesses pouco democráticos, como costumam reverberar os monopólios de comunicação, a proposta escamoteia o golpismo continuado e disfarça o conflito de benefícios em curso, como as antirreformas de Temer, o entreguismo e a captura do Estado pela financeirização e seus negócios. E, naturalmente, impondo a visão neoliberal e o Estado Mínimo.
Aceitando a ideia, seremos envolvidos como satélites dos acordos firmados “por cima” para uma saída à crise. Seremos fiadores e signatários de um conluio que não governará pois, com certeza, faltará legitimidade e sustentação.
Neste quadro nebuloso, o ponto central de resistência está na prática do ‘engrossar as ruas’ aumentando a mobilização popular. É a melhor forma de interditar um acordo forjado de cima para baixo, em gabinetes palacianos, bancas jurídicas, escritórios empresariais ou nos salões dos punhos de renda da financeirização.
Mas, para evitar a cilada, temos que acumular muito, no conteúdo e na estratégia. Devemos apresentar pontos mínimos de compromisso de uma nova frente política, programática e com amplitude. E, no processo da luta pelas “Diretas Já”, trabalharmos para reunir forças e enfrentarmos as arapucas que a Casa Grande oferece:
i) seja a saída de FHC, Meireles e turma, juntos com setores das corporações de fiscalização e controle, do empresariado entreguista e dos banqueiros, escudados pela grande mídia;
ii) seja a do ilegítimo e moribundo Temer que está com os seus dias contados, junto com seu setor tucano e sua patota, totalmente envolvidos em “diálogos criminosos” e relações perigosas, mas que tentam ainda respirar, depois do fôlego que Gilmar lhe conferiu.
Sem tirarmos o golpista e ilegítimo Temer e conquistarmos eleições “Diretas Já” ficaremos reféns do fortalecimento do cenário institucional que vicejará sob a chantagem da inviabilização eleitoral de Lula. Oferecendo saída para “salvá-lo”, podendo propor transição palatável garantindo eleições “democráticas” em 2018. Mas, obviamente, para eles, ao fim e ao cabo, sem o ex-presidente.
Só nos resta continuar, com um mínimo de dignidade, honradez e decência moral reafirmando demandas essenciais e imediatas, eliminando a exceção política, evitando o ataque aos direitos, barrando as antirreformas e descongelando recursos para educação, saúde e programas de inclusão social, como forma de recuperar minimamente a confiança na sociedade, neste momento em que temos um ilegítimo governo que agride o país, ética e moralmente e ainda ataca direitos e conquistas de seu povo.
E no RS exigirmos suspensão imediata das extinções das fundações, derrotarmos as tentativas de venda das empresas públicas, restabelecer o pagamento em dia dos salários e exigir que o governo assuma a liderança nacional em busca dos ressarcimentos da Lei Kandir, como alternativa não submissa de reequilíbrio das contas públicas em solo gaúcho.

Adão Villaverde é professor, engenheiro e deputado estadual (PT/RS).

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