Curto conviver, mas também curto estar comigo



Quantas chances desperdicei/
Quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo/
Que eu não precisava provar nada pra ninguém.



Não obstante a lição advinda dos versos de Renato Russo, me perturba o modo que as pessoas me interpretam. Especialmente, se tal interpretação pouco ou nada condiz com os passos que efetivamente tenho dado neste “mundão de meu Deus”.

Não estou aqui para advogar em causa própria. Me falta talento para este ofício e também porque costumo ser um dos maiores juizes dos meus atos. Ou como diria Humberto Gessinger, “não tô muito interessado no que dizem sobre mim. Sou minha pior crítica e meu maior fã”.

Não me incomoda o julgamento alheio. Já disse e torno a repetir: o que me desagrada é a censura ou crítica baseada numa leitura errônea que me fazem ou a mania de querer interferir arbitrária ou sacanamente nas minhas escolhas, num gesto que me surge como tentativa de viver a minha vida em meu lugar. Deixem-me carregar minha cruz em paz!

Se vier a dar murro em ponta de faca ou com os burros n’água, serei eu a quebrar a cara. E daí? O que não mata engorda e faz crescer. Lembro-me de quantas críticas já recebi em relação a determinadas semeaduras ou intentos meus e quando, para espanto geral, tal colheita se revelou fértil, as mesmas caras rotas que antes buscavam desviar minha rota, me surgiram para dar tapinhas nas costas ou beijinhos secos de felicitações...

Alguém espalhou que não sou dado a relacionamentos estáveis. Que a mulher que se envolver comigo estará fadada ao abandono breve e certo.

O assunto suscita pormenores. No entanto, de forma resumida invoco minha história como contraponto a este falso testemunho.

Constituí união estável logo de cara, com minha primeira namorada, quando eu me encontrava com idade inferior a 20 anos e aí fiquei por quase dez intermináveis anos. Mais adiante mantive nova união estável com duração de cerca de um ano e meio. Em seguida, para aumentar a conta, me entreguei a um namoro que perdurou pelo período superior a um ano... Não sou do tipo que fica por ficar e disso já dei provas o suficiente. Pode rolar como já rolou, mas não é a minha praia nem meu projeto de vida.

Que maneira estranha de não se deixar envolver, hein? E o que dizer de quem raramente faz ninho ou esquenta o coração de alguém? De quem troca de par ou parceiro (a) como quem troca de roupa. Depois eu é que sou superficial, que não curto caso sério. Façam-me o favor e parem de apontar meus supostos defeitos com o dedo sujo! Como diz uma dessas cantorias da moda: “nem me acompanhe que eu não sou novela”.

Ocorre que um relacionamento nunca é fácil. Além disso, por uma questão cultural, a mulher espera que o homem além de par seja também provedor. O cara pode ser um baita parceiro em todos os sentidos, mas quando a grana fica curta “o amor pula a janela”. O camarada pode ajudar nas lidas e despesas, mas o que se espera é que ele banque todas as despesas da casa. Ele pode ir comprando alguns mantimentos ao longo do mês para não deixar nada faltar, mas só terá valor o que for comprado em grande quantidade, numa única vez. Pode colaborar no pagamento de outras necessidades domésticas, o que tende a não ser notado. Pode se endividar no banco para ajudá-la a pagar as dívidas e depois lhe faltar fôlego financeiro para encarar as despesas do dia-a-dia, mas é como se esse gesto nunca tivesse existido. As pequenas coisas ou compras diárias não contam, muitas mulheres parecem não contabilizar tais atitudes nas contas da casa e ainda cobram constantemente um presentinho como gesto insubstituível de amor.

Alguém ainda aponta uma ligação exagerada minha com minha mãe. Exagerada coisíssima nenhuma. Em primeiro lugar, minha mãe é minha amiga, uma fiel confidente e conselheira, coisa que nunca encontrei na rua, até porque vivemos numa terra imersa num mar de intrigas, onde se diz A e grande parte das pessoas repetem B pelo puro prazer de denegrir.

Por ser minha amiga, minha mãe continua a me estender a mão nas horas mais frias, amargas e adversas, algo diferente das ditas companheiras que cruzaram meu caminho, as quais tenderam a ser devotadas nos casos e ocasiões de calmaria, coisa sempre ótima, mas é quando menos se necessita. Nos momentos de trevas, de tormentas existenciais ou da cotidianidade, as mãos quentes dos instantes de fogo e as juras de amor sempre escassearam ou sumiram completamente...

Sempre assumi os filhos das minhas “companheiras” como meus. Sempre busquei curtir as delícias e matar no peito as dores de cuidar uma criança pelo gosto de não importunar com aporrinhações pequenas dos pequenos, mas as minhas crias, ao contrário, normalmente eram bem vistas quando bem cheirosas e bem comportadas. Na hora da picardia ou da mal criação, toma que o filho é teu ou pior: é eu ou eles.

Curto minha mãe como quem curte alguém caro, mas sei que a vida é curta e anda cara. Minha mãe, como de resto todas as mães não são eternas e nem sempre ternas. Mas diferentemente do que muitos propagam, há pouquíssima dependência emocional e nenhuma dependência financeira nesta relação. O que existe é um misto de cumplicidade e amparo fraternal de uma mãe no verdadeiro sentido da palavra a um filho imprevidente que mesmo acusado de ajudar pouco nas despesas dos lares que buscou construir, sempre investiu mais na manutenção desses lares do que em si mesmo, prova disso é que não adquiriu quase nada em termos materiais e se habitou a sair dessas histórias com “uma mão na frente e outra atrás”.

Há muito pago minhas contas, mesmo assim contar com um cantinho provisório na casa dos pais no momento em que o bolso está apertado é algo que não tem preço e ajuda a recomeçar. Há muito também aprendi a não ter medo da solidão, mas o apoio da família no instante de uma separação é algo que reascende a crença na vida em família e faz levantar.

Sempre busquei a casa de minha mãe como quem busca uma amizade sincera para escarrar as coisas do íntimo e também para encontrar meu recanto mais íntimo, algo que sempre me faltou nas empreitadas amorosas que me meti, já que em tais ocorrências, muitos de meus pertences, sobretudo meus livros, nunca contaram com espaço físico suficiente para me acompanhar na mudança.

Por outro lado, mais que a falta de outra pessoa sempre procurei um espaço para estar comigo mesmo. Me considero artista (tíbio, mas artista) da palavra escrita e para dar azo a minha criação, volta e meia careço de tempo, espaço e um certo recolhimento para percorrer meus (des) caminhos interiores, sendo que desgraçadamente, as relações que tive raramente foram capazes ou sequer tiveram o mínimo interesse em compreender tal carência. O cuidado ou o labor interior que, vez por outra preciso devotar, tende a ser visto como negligência ou abandono da relação.

Por tudo isso, a solidão muitas vezes me acompanha mesmo estando acompanhado. Mas sei que a solidão não é boa companhia por muito tempo. Precisamos de gente como precisamos de ar para respirar, ainda que elas sejam pouco dadas à arte de partilhar os avessos do outro e de cada dia ou pouco inclinadas à virtude da compreensão no tocante às vidas que as cercam. Por isso também, é difícil encontrar alguém para partilhar os passos desta vida que, assim como eu, não tema e por uns breves instantes se deixe arrastar pela solidão que nos convida a entender melhor a nós mesmos e nos aproxima dos outros seres a que chamamos humanos.

Comentários

Giovana disse…
Bom dia Luiz Antonio,

" É LOUCURA JOGAR FORA TODAS AS CHANCES DE SER FELIZ PQ UMA TENTATIVA Ñ DEU CERTO".
(Pequeno Príncipe)
A vida é mesmo assim… como dizem por aí: vou cuidar da minha saúde, porque da minha vida tem quem cuida... E sabe, às vezes precisamos passar por diversas situações para nos encontrarmos de verdade... e você sabe que sabemos as respostas para todos os questionamentos que fizemos a nós mesmos, mas por muitas vezes, por medo destas respostas, dizemos que ainda não as encontramos... Não se preocupe com o que os outros dizem ou pensam de vocês, pois dará a impressão que serão que dirão como você deve viver... e não é desse jeito, quem comanda é você!!!! Ufa... até....

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