Ato político



"Ato político" de hoje nos convida a refletir instigados pelo brilhantismo do sempre brilhante e iluminado Marcos Rolim.



O JORNALISMO COMO DESAFIO


Alguém, no Brasil, que se interesse por política e que deseje saber o que os governantes, os parlamentares e os gestores públicos estão fazendo ou planejando não encontrará muita informação de qualidade em nossos jornais e revistas.

Se houver o interesse de compreender as decisões políticas, o problema será ainda maior. Atualmente, são pequenas as chances do leitor exigente encontrar uma análise política que acrescente algo relevante àquilo que todos sabem. Primeiro, porque os jornais não oferecem o espaço necessário para o texto. Os veículos precisam aumentar o número de leitores e perseguem este objetivo, como regra, simplificando as abordagens. O pouco tempo para a produção das matérias e a redução do número de profissionais nas redações pavimenta o caminho para a superficialidade. Se desconsiderarmos os pequenos espaços, reservados aos artigos de opinião e à elaboração cada vez mais esporádica de matérias consistentes, fica evidente a tendência editorial em favor das matérias curtas, das notícias cada vez mais descontextualizadas, e, é claro, da cobertura do “escândalo” da vez.

O papel do jornalismo investigativo é muito importante – especialmente em uma realidade como a brasileira. Mas é preciso considerar que, se a esmagadora maioria das matérias sobre política dão conta de práticas suspeitas ou de fofocas eleitorais, o que se torna invisível é, precisamente, a substância das políticas públicas. Neste particular, a recente polêmica de Caco Barcelos com a colunista da Folha de São Paulo, Eliane Catanhede, na Globo News, sugere uma agenda importante.

Referindo-se ao papel da mídia na derrubada de ministros, Eliane disse que 2011 estava sendo um ano “alvissareiro” para a imprensa brasileira. Caco Barcelos, então, pergunta: “Será mesmo?” Seu argumento é que tem sido comum que matérias acusem, e também sentenciem, uma conduta que não constituiria propriamente “jornalismo”. Em recente seminário da AJURIS, o Desembargador Cláudio Baldino Maciel assinalou que, se juízes fizessem jornais, eles teriam uma linguagem inacessível, seriam longos, chatos e nunca seriam editados com a necessária agilidade. Por outro lado, disse, se jornalistas prolatassem sentenças, elas seriam muito rápidas, inapeláveis e frequentemente injustas. Penso que, neste ponto, lhe assiste toda a razão e que o melhor jornalismo é aquele que informa, não aquele que julga. Ocorre que, para bem informar, é preciso que o jornalismo reflita a complexidade do real. Vale dizer: é preciso lidar com fenômenos contraditórios que nunca serão apreendidos imediatamente e cujos significados mais importantes demandam, sobretudo, o pensamento. Reside aí, precisamente, o maior desafio do jornalismo: informar para estimular a reflexão autônoma, a dúvida sistemática. Quando o jornalismo produz certezas, algo nele vai muito mal. Quem “paga a conta”, claro, é o leitor que pensa que compreendeu tudo quando sequer lhe foi oferecida a condição para que comece a ver para além da névoa que encobre o mundo.


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