Ato político



Quando se diz que vivemos na escuridão e sob o domínio do obscurantismo, não se está fazendo um jogo de palavras para fustigar o adversário. Quem dera fosse só isso!

Tampouco se trata de uma visão meramente ideológica que se considera portadora do bem e enxerga apenas o mal do outro lado. Quem dera o problema fosse apenas esse!

O buraco é muito mais embaixo. Fomos arrastados ao fundo do poço por Bolsonaro e sua familícia e Cia – e aqui cabe destacar o vilão Guedes e o bobo da corte Moro -, algo que só não enxerga quem se deixou cegar pelo bombardeio de mentiras, cujo precedente talvez só se encontre no nazismo de Hitler.

Vivemos sob o império do mal. Ou como cantou Humberto Gessinger, “já não há mais diferença entre a raiva e razão”. E uma nação que não sabe ou finge não saber separar o joio do trigo; o bem do mal; o bom do mau; o certo do errado; o justo do injusto, pode até continuar sendo uma nação, porém deixa de ser humana. Vira mera nação de zumbis.

 

Apatifam-nos


“Apatifar”, nos diz o Aurélio, significa tornar desprezível, aviltar, envilecer. Pessoas se apatifam, nações inteiras podem se apatifar, ou serem apatifadas. O mundo hoje vive uma assustadora onda de contágio viral que, espera-se, acabará controlada ou, eventualmente, desaparecerá. Já patifaria não mata, mas também contagia, com a diferença de que não tem nem perspectiva de cura. 

É impossível observar o Brasil de hoje sem a sensação de estar assistindo a uma pantomima tragicômica, à decomposição de um Estado que, dissessem o que dissessem de governos anteriores - inclusive os lamentáveis -, mantinha, pelo menos, a linha, o que é mais do que se pode dizer da atuação de Bolsonaro & Filhos no palco do poder. 
Agora se entende por que Bolsonaro insistia em dizer que não houve um golpe em 64 nem uma ditadura militar nos 20 anos seguintes: ele queria montar o seu próprio regime militar, enchendo o Planalto de generais de fatiota que deixam seus tanques no estacionamento e entram pela rampa principal, rindo da gente. Implícita nessa original tomada do poder está a ideia imorredoura de que só uma casta iluminada, os militares, sabe governar um país. 
O apatifamento de uma nação começa pela degradação do discurso público e pela baixaria como linguagem corriqueira, adotadas nos mais altos níveis de uma sociedade embrutecida. Apatifam-nos pelo exemplo. Milícias armadas impõem sua lei do mais forte e mais assassinos com licença tácita para matar. Há uma guerra aberta com a área de cultura e a ameaça de um retrocesso obscurantista nas prioridades de um governo que ainda não aceitou Copérnico, o que dirá Darwin. Aumentam os cortes de gastos sociais, além de cortes em direitos históricos dos trabalhadores. Aumenta a defloração da Amazônia. Aumentam as ameaças à imprensa. 

E aumenta a suspeita de que, na Universidade de Chicago, o Paulo Guedes só assistiu às aulas de bobagens para dizer, caso a economia não deslanche. 

Luis Fernando Verissimo, O Estado de S.Paulo


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