O novo sempre vem



Como nossa cidade é pacata e de pequeno porte, muitos podem ter a falsa impressão de que não ocorrem mudanças significativas na Sentinela da Fronteira. Ledo engano! Basta olhar para a história recente do nosso município e perceber o tanto de mudanças de impacto aconteceu por aqui, num período de pouco mais de duas décadas. Não quero, aqui e agora, emitir nenhum juízo aprofundado de valor em relação a tais mudanças. Contudo, acho importante descrevê-las, além de ressaltar desde já que todas elas tiveram como pano de fundo ou fator desencadeador a derrocada de um modelo econômico, cultural, social, político e ambiental alicerçado nas grandes propriedades rurais e na pecuária extensiva com baixa tecnologia.

De início, saliento a emancipação de Pedras Altas como uma dessas grandes mudanças ocorridas em nossa terra, fato que retirou cerca de 40% do nosso território e legou ao município vizinho, então formado, um patrimônio genético extremamente rico e carregado de história no que tange à criação de ovinos, bovinos de origem européia e cavalos crioulos. Sem falar nas terras próprias para o cultivo de arroz, por exemplo.

Outro acontecimento marcante foi a implantação dos assentamentos da Reforma Agrária, que hoje chegam ao número de 10 e envolvem cerca de 450 famílias. Aqui é importante ressaltar que a chegada dos assentamentos se deu sem a ocorrência de nenhum conflito agrário e foi mais um fruto da derrocada do modelo referido no início do presente escrito. Importante mencionar também que os assentamentos, apesar dos limites e dificuldades de um município de difícil acesso, com um mercado consumidor diminuto e pouca tradição na agricultura familiar desatrelada da bovinocultura de corte, foram essenciais para fortalecer a economia local e motivar investimentos públicos federais e estaduais estruturantes, como estradas, pontes, habitação, energia elétrica e saneamento rural.

Depois ainda tivemos o advento do plantio indiscriminado de árvores exóticas, algo que contou com forte estímulo e incentivo governamental na sua fase de implantação e que veio com a promessa de aquecer a economia local, porém na prática descaracterizou o perfil econômico, cultural e ambiental do município, além de impor a um município com baixa capacidade de arrecadação própria, enormes desafios em termos de manutenção das estradas, as quais não foram projetadas para esse tipo de transporte que ainda nem começou a fluir plenamente.

Na esteira dessas mudanças, ainda registramos nos últimos anos a destinação de grandes áreas de terra para o cultivo da soja, uma atividade econômica até então pouco difundida no município e que trouxe prós e contras, e aqui falo da elevação do valor da terra, o aumento das divisas e o uso acentuado de agrotóxicos, com possíveis repercussões ainda não avaliadas tanto na saúde das pessoas quanto da natureza.

Como cantou Belchior em Como Nossos Pais, para o bem ou mal, o fato é que o novo sempre vem e, mesmo nos lugares longínquos e pouco dinâmicos, a vida não para. Assim, a derrocada do antigo modelo latifundista em decorrência de problemas na sucessão familiar e, sobretudo, do surgimento da globalização baseada no neoliberalismo econômico – que exigiu a profissionalização e a adoção de um perfil empresarial na cidade e no campo –, desencadeou uma série de mudanças em Herval e na vida dos hervalenses, num período relativamente curto de tempo. Algo que muita gente não percebe e que, além disso, lançou novos e enormes desafios ao poder público que, da mesma forma, nem sempre é capaz de compreender claramente as coisas ou ter “pernas” para acompanhar e oferecer repostas satisfatórias diante dos novos problemas, conexões e oportunidades que foram surgindo e passaram a fazer parte do cenário nosso de cada dia. 

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