Marina e o desprezo às instituições democráticas



Vivemos numa democracia, e não numa autocracia. Vivemos numa república, e não numa monarquia. Isso quer dizer que ao votar para eleger um presidente ou presidenta da República não votamos tão somente numa pessoa, e sim num projeto político e administrativo encabeçado ou encarnado pelas personalidades que dão ritmo e rosto a tal projeto. Portanto, ao votar é preciso observar a forma e os conteúdos do projeto político no qual estamos votando. Ao votarmos, é preciso observar também o que está por trás e ao lado de quem se apresenta como candidato (a), assim como o passado e as ideias de futuro que apresenta.

Eleição não é concurso de beleza, no qual escolhemos o que nos parece mais bonito, elegante ou simpático. Eleição é optar entre projetos e forças políticas distintas e antagônicas, pois apesar do senso comum e as mentes manipuladoras forçarem a barra que é tudo igual, políticas e políticos são todos diferentes.

Marina não se apresenta para chefiar um poder, no caso concreto e objetivo o poder executivo. Ela se apresenta como a encarnação do bem e de tudo o que é certo, como se um presidente da República possuísse uma varinha de condão e poderes suficientes para concertar tudo que aponta como errado ou ruim. Como se o presidente estivesse acima do bem e do mal e pudesse resolver todos os problemas e desafios do país sozinho e apenas num ato de boa-vontade.

Marina, portanto, não se apresenta como todo projeto político ou como todo ser humano de carne e osso: com erros, virtudes, limites, contradições. Não. Ela se apresenta de uma forma messiânica, como se possuísse poderes Divinos ou sobrenaturais, capazes de resolver tudo e para todos num passe de mágica. Lamento desapontar, mas basta o mínimo de bom senso para perceber que na vida real as coisas não funcionam assim e quem se apresenta dessa forma ou é muito ingênuo ou possui um notável espírito manipulador.

Marina não é exatamente uma novidade. Ela está na vida pública há muito tempo e possui uma história bem concreta como parlamentar e ministra. Portanto, de ingênua não tem nada. Ela conhece as regras do jogo e sabe exatamente onde pisa e o que quer, e é aí que a porca torce o rabo. Ela sabe que não se muda uma realidade ou estrutura de poder apenas com discurso ou boa-vontade. Ou seja, se não é ingênua então é muito personalista e dissimulada. Do tipo que manipula, apunhala e vende a alma ao diabo para saciar a sede de poder. Do tipo que diz uma coisa e faz outra. Do tipo que aponta o defeito alheia com as mãos sujas. Do tipo que se apresenta com cara de anjo, mas é capaz de cometer as piores atrocidades para atingir seus objetivos não tão nobres como quer que se acredite.

É por essas e outras "cositas más" que digo que Marina deseduca e representa um vazio assustador. Marina não tem lastro na sociedade, base política sólida e nem poderes para realizar aquilo que anuncia. Já vimos esse filme de horrores antes com Collor e todos sabemos como terminou.

Como diria Olívio Dutra, "governar é eleger prioridades". Ou como ensina a presidenta Dilma, um governante não administra fazendo discursos. Governar é tomar decisões, é fazer a gestão da máquina pública e, no caso da Presidência da República, de todo o país. Eu acrescentaria: é criar e estabelecer relações do país com um mundo, num contexto de crise econômica aguda e relações políticas estremecidas e conflitantes, no qual o Brasil hoje ocupa papel relevante e conciliador.

Numa democracia republicana ou numa república democrática ninguém governa sozinho nem tem o poder de fazer e desfazer, conforme sua própria vontade, para o bem ou para o mal. Como determina a Constituição Federal de 1988, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo que não encontre respaldo na legislação. Como disse no início, não vivemos numa monarquia na qual o rei é a lei nem numa autocracia, aonde o individuo investido do poder é soberano e está acima das instituições.

No caso do Brasil, o presidente ou presidenta tem poderes, mas está longe de possuir plenos poderes para produzir o bem ou o mal, segundo sua índole ou sua vontade. Existe o poder do Congresso Nacional, existe o poder judiciário, existe o poder da mídia, existe o poder dos movimentos sociais, existe o poder instituído nos estados e nos municípios, existe o poder dos partidos políticos, existe o poder do empresariado, existe o poder dos sindicatos e das entidades dos trabalhadores, existe o poder das organizações da sociedade civil, existe o poder das redes sociais, existe o poder das ruas, etc, etc, etc.

Se prestarmos atenção em Marina com olhar crítico, veremos o quanto ela é vazia e enganadora. Marina alardeia uma força que não possui e promete aquilo que nunca poderá cumprir. Além disso, Marina não caiu do céu, ela possui uma longa história, cuja marca principal é exatamente a distância entre o que diz e o que faz. Pra piorar, Marina promete o novo, mas alcançou projeção enquanto presidenciável se aliando justamente com aquilo que há de mais atrasado na política brasileira. Fiquemos espertos para não cair na conversa (a) fiada de Marina, pois ela definitivamente não representa a possibilidade de manter o país no rumo certo que concilia desenvolvimento econômico com justiça social e respeito ao meio ambiente.

Digo de peito aberto e sem medo de errar: Marina não me representa e sua sede de poder me assusta pelo abalo que pode causar às instituições e a estabilidade democráticas que levamos tanto tempo para construir! A hora é de reformar algumas instituições para que elas funcionem melhor e mais perto do povo, e não de procurar salvadores da pátria.

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