Ato político
Juremir é sempre Juremir. Uma luz sempre acesa em tempos de obscurantismo.
Tábata Amaral e outros infiéis
O que os partidos devem
fazer?
Uma coisa é “trair” por ter sido
traído. Outra, ser infiel por prazer ideológico. Quando Luciana Genro e outros
votaram contra a reforma da Previdência da época e acabaram expulsos do PT, o
traidor era o partido. Os eleitos apenas cumpriram o contrato ideológico que
tinham com a sigla. Diante da guinada partidária, os parlamentares
mantiveram-se coerentes. Bem diferente é a situação de Tábata Amaral e dos que
votaram, contra seus partidos, PDT e PSB, a favor da reforma da Previdência
atual. Tábata entrou no PDT por livre e espontânea vontade. Sabia das ideias do
partido. Beneficiou-se dos seus meios para eleger-se. Na primeira, traiu.
Ciro Gomes não erra ao dizer que ela
tem militância dupla. Usa o PDT como barriga de aluguel. O seu partido é o
neoliberal MBL. Muito se fala na importância de ter partidos sólidos, coerentes
ideologicamente, com programas claros e metas a serem alcançadas. Faz sentido
alguém entrar num partido liberal e votar a favor de estatização? Ou escolher
um partido que acredita no papel desenvolvimentista do Estado e votar por
privatizações generalizadas? Tem lógica alguém abraçar o trabalhismo e ser a
favor do desmantelamento da CLT? Tábata Amaral ficaria melhor no DEM ou no PSL.
Deveria o partido aceitar passivamente que os seus eleitos votem contrariamente
às suas diretrizes, mais do que isso, à sua essência?
O PSB tem eleito que vê a sigla
como um partido de direita, não se reconhece no termo socialista e admite que
está ali por exigência da lei, ter um partido para se candidatar, e pelo
cálculo das possibilidades de eleição. Não é essa a definição de sigla de
aluguel? A fórmula partido, típica do século XIX, pode estar ultrapassada. Se
for assim, melhor admitir candidaturas avulsas. Mas aí não será possível
criticar a fragmentação. Poderemos ter 513 “partidos” individuais na Câmara dos
Deputados. Não dá para ser fiel ao partido na hora de contar com seus recursos
e com a sua rede para obter votos e ser infiel a ele na primeira oportunidade
de firmar a sua identidade ideológica e programática.
Parte da chamada nova geração da
política é uma gandaia ideológica. Críticos da velha política, como Kim
Kataguiri e Mamãe Falei, entraram no paleolítico DEM, partido de Onyx
Lorenzoni, o campeão da defesa da reforma da Previdência que mantém sua
aposentadoria especial como deputado. Coerentes são aqueles que, insatisfeitos
com as estruturas existentes, foram para o Novo, um partido liberal, que
defende ideias liberais e vota como tal. Alguém traiu o Novo? Ou o PSOL? Mais
uma vez, o inflamado Ciro Gomes tem razão: Tábata deveria sair por contra
própria. O PDT não corresponde aos seus ideais. O problema é que pode perder o
mandato. Tábata desconhecia as ideias do PDT? Não sabia do ideário trabalhista?
Não se informou sobre Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e outros?
A “trabalhista” Tábata Amaral votou a
favor de uma reforma cuja fórmula de cálculo do benefício ceifa parte dos
ganhos dos menos favorecidos ao fazer a média não dos 80% melhores salários,
mas da totalidade dos ganhos. Um pega-ratão que torna os pobres mais pobres.
Comentários