Ato político




Quando o escrito diz tudo, não precisa acrescentar mais nada.

Juremir Machado da Silva diz tudo no texto que ora compartilho, porém nunca é demais repetir que a hipocrisia é uma das grandes doenças desse país. Um mal antigo e que talvez nunca tenha cura.

Se esse fosse um problema que acometesse apenas a classe política, como hipocritamente muitos querem fazer crer, dos males o menor. Acontece que a hipocrisia está no DNA de um povo que costuma "enxergar o argueiro no olho alheio, mas nunca enxerga a trave em seu próprio olho".

Assim, o buraco é mais embaixo e a saída desse beco sem saída se torna menos provável.





Coisa pública e privada



Atribui-se a um crítico anônimo de Robespierre esta frase contundente: “Fui ver o altar da República. Só encontrei os penicos da monarquia”. Se é verdadeira, não importa, pois faz pensar. O quê? Não sei bem. Talvez que a virtude de certos políticos brasileiros é determinada pela hora em que ocorrem os seus encontros com empresários e ao tamanho e potência dos gravadores que os visitantes usam para grampeá-los sem ter de pisotear a etiqueta. A elegância é fundamental. As delações premiadas da Lava Jato já prestaram mais serviços à transparência no Brasil do que cinco séculos de idas ao confessionário, fofocas, torturas e sessões de psicanálise somadas.
Nessa linha de raciocínio, ou de narrativa, como diria o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, conta-se que um senador do Império teria sugerido a um interlocutor incômodo tomar o cuidado de examinar a coisa pública. O dito cujo teria imediatamente se dirigido à privada. Tem lógica. Não confundir com ética. A ascensão de Michel Temer ao poder para combater a corrupção dos governos Dilma e Temer conta mais sobre a hipocrisia nacional do que toda a nossa literatura de costumes. Um personagem menor de Machado de Assis talvez se expressasse com uma fórmula prática: “Prova é quando a acusação atinge nossos adversários. O resto é suspeita sem fundamento”.
– Onde está a prova?
– Diante dos seus olhos.
– Não estou vendo.
– Prova que Benício é culpado.
– Benício, meu opositor?
– Ele mesmo.
– Ah, pensei que estivesse falando do Juca.
– Que diferença faz?
– Toda diferença, meu caro. Juca é dos nossos. Homem da nossa mais estrita confiança. Em se tratando do Benício, a prova é inequívoca.
Um espírito estreito chamaria isso de triunfo do cinismo. Poderia escrever um livro imitando o estilo de Michel de Montaigne ou de La Rochefoucauld em suas “Máximas”: “Hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”. Somos o povo mais reverente do mundo. Vivemos prestando homenagens à virtude. Esta é melhor: “Os velhos gostam de dar bons conselhos para se consolarem de não poder dar maus exemplos”. Em nosso caso, o contrário é menos inteligente e mais verdadeiro: “Os velhos políticos gostam de dar maus exemplos para se consolarem de não poder dar bons conselhos”. O livro receberia o título de “Mínimas”.
Chega. Excesso de espírito parece frivolidade ou exibicionismo. Ou falta de conteúdo. Quem muito diz, não é ouvido. Ou não consegue ouvir. O riso é coisa séria. Deve ser praticado com moderação e servido em doses homeopáticas com tarja preta. Um cronista responsável deve medir as consequências dos seus textos. Precisa escrever como um adulto. A maioridade é quando, enfim, podemos fazer coisas menores sem precisar pedir autorização ou dar explicações a ninguém. Um peso.
O Brasil decidirá amanhã se trata Michel Temer como coisa pública ou privada.
Se a votação acontecer e for televisionada ao vivo com voto nominal, Temer pode dançar.
Se os deputados livrarem a cara de Temer, a coisa pública irá à privada.

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