Viva a mudança!

Danéris defende que o alinhamento das estrelas segue forte

Por Alexandre Leboutte, Jornal do Comércio

Ao ser confrontado com a dificuldade que vem enfrentando o governador Tarso Genro (PT) nas articulações empreendidas em Brasília para destravar a votação do projeto que altera o indexador das dívidas de estados e municípios com a União, o secretário executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo do Estado - mais conhecido como Conselhão -, Marcelo Danéris (PT), demonstra otimismo. Danéris lembra que o projeto é de autoria do governo federal, que estaria apenas aguardando um momento mais adequado para a votação, como forma de evitar um possível ataque especulativo ao Brasil. O petista argumenta que a tese de campanha usada em 2010, do chamado ‘alinhamento das estrelas’, “está funcionando bem”, e enumera um conjunto de indicadores econômicos do Rio Grande do Sul, que seriam resultantes da sintonia na relação entre o governo gaúcho e o Palácio do Planalto.

O secretário avalia o cenário eleitoral gaúcho, afirmando que “quem concorre não escolhe adversário” e que o grande embate se dará entre um modelo que aceita aumentar gastos, como forma de induzir o desenvolvimento, em oposição a legendas que propagam a ideia de uma gestão fiscal mais ortodoxa.

“Eles querem voltar ao programa anterior de déficit zero, que precarizou a saúde, a educação... Não importa se o candidato vai ser o Sartori (ex-prefeito de Caxias do Sul, José Ivo Sartori, do PMDB), ou a Ana Amélia (senadora do PP), quem vai representar esse projeto de redução do Estado contraposto ao nosso”, diz o petista, ao comentar o discurso que vem sendo proferido por integrantes dos partidos de oposição a Tarso.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Danéris também fala dos recorrentes condicionamentos impostos por Tarso para ser candidato à reeleição, da política de alianças, da CPI da Energia Elétrica e da experiência do Conselhão, entre outros temas.

Jornal do Comércio - O governo federal vem impedindo a votação, no Senado, do projeto que muda o indexador da dívida dos estados e municípios. O governador Tarso Genro (PT) é um dos principais articuladores para que a proposta seja votada. O chamado ‘alinhamento das estrelas’ não está funcionando?

Marcelo Danéris - Ele está funcionando e está funcionando bem. O Rio Grande do Sul começou a dar uma virada. Retomou o crescimento em todos os indicadores. Se pegarmos o PIB, vai dar mais de 6%; se pegarmos o crescimento das exportações, está na faixa dos 40%; o crescimento da indústria está acima da média nacional, com 6,8%; somos o segundo Estado em geração de empregos do País; a safra agrícola bateu recorde e continua com a expectativa de uma boa safra esse ano. Então, se pegarmos todos os indicadores econômicos do Rio Grande do Sul, todos são positivos. Por dois motivos: pela nossa gente que é empreendedora, que acredita, que investe, e porque tem um Estado indutor do desenvolvimento, com o Fundopen, o Plano Safra, o microcrédito, a Sala do Investidor, com uma política industrial, uma política de distribuição de renda, o piso regional e o RS Mais Igual.

JC - E o alinhamento das estrelas?

Danéris - Há uma nova relação nacional e internacional. Está a olhos vistos, quando temos aqui Mitsubishi, Hyundai, uma série de investimentos internacionais, também decorrência de uma relação nova internacional. Visitamos Inglaterra, Espanha, Portugal, países da África, China, Uruguai, Argentina, passamos por tudo e todos com retorno. No âmbito nacional, somos o terceiro Estado que mais captou recursos do PAC. É aqui no Rio Grande do Sul que a Dilma estava inaugurando a BR-448 recentemente, que acabou de fechar o projeto para a segunda ponte do Guaíba. Todos investimentos em saneamento, todos programas com contrapartida, bolsa na área de segurança para capacitação para Copa, todas essas relações com o governo federal só mostram que as portas estão abertas.

JC - E a dívida?

Danéris - Aí há um entendimento tático diferente. O governo federal entende que, por conta da macroeconomia, do cenário internacional, da especulação que estão fazendo nos países emergentes... O que a Europa e os Estados Unidos estão fazendo? Para manter seus investidores, porque eles estão tentando sair de uma crise e acham que é o momento de dar uma virada, eles lançaram uma especulação, que a África está mal, que o Brics está mal, que o Brasil está mal... Então, há um ataque especulativo, onde as agências de risco cumprem um papel fundamental para criar um ambiente de crise econômica.

JC - Mas o governador discorda dessa opinião...

Danéris - Sim, discorda. Não há discordância no mérito, que é preciso alterar a dívida, tanto que o projeto é do governo federal, não é de iniciativa nossa, não é dos senadores, não é da base do governo. O governo federal entende que, taticamente, por conta do mercado internacional, é preciso esperar mais um tempo. O que estamos dizendo? Que não é necessário. Aí é que eu digo que há uma diferença de opinião tática, não de identidade política. O alinhamento está dado igual.

JC - Tarso já disse que não será candidato à reeleição se o projeto da dívida não for aprovado...

Danéris - Ele já colocou essa condição, já disse também que esse tema eleitoral e das candidaturas não deve ser discutido agora. Agora, a ideia é de uma unidade do Estado, das forças políticas, independente de partidos, de interesses sociais e econômicos, para votação do projeto.

JC - Na hipótese de não se conseguir votar o projeto esse ano, o PT teria um plano B para substituir o nome de Tarso?

Danéris - Mas nós vamos conseguir, nós vamos votar.

JC - Tarso também disse que se a presidente definir frequentar mais de um palanque no Estado ou um palanque com vários partidos da base nacional dela, ele comunicaria ao partido que não seria o melhor candidato. Como vê essa postura?

Danéris - Achamos que o palanque da presidenta Dilma é o palanque do governador Tarso Genro. É o candidato do PT, que é do partido da presidenta, é a candidatura que representa o mesmo projeto a nível nacional e é a candidatura que, desde 2010, nós trabalhamos juntos com essa identidade programática.

JC - Esses condicionantes que Tarso está impondo para a reeleição não dificultam a política de alianças aqui no Estado, por não confirmar que será candidato?

Danéris - Não, tanto que, só para lembrar, a gente tinha uma aliança (em 2010) que era PT, PSB, PCdoB e o PPL, que na época não era formalizado. Assim que nós vencemos as eleições, fizemos um governo de coalizão, uma composição onde entrou o PDT e o PTB. Nossa aliança, que está ficando para as eleições, tem o PCdoB e o PTB, mais agora o PPL que é um partido formalizado, PR e PRB, que estão conversando com a gente, participam do governo. Seis partidos que têm força e expressão nos parlamentos, com base social, prefeitos etc. Então, se compararmos com 2010, a condição da aliança é ainda mais ampla.

JC - Como estão as discussões para compor a chapa majoritária?

Danéris - Estamos nesse processo de conversação, negociações. Queremos a chapa mais ampla possível. O PCdoB indicou o nome da Emília Fernandes para o Senado. Estamos conversando até com os outros partidos... O PTB, a tendência é indicar o nome do vice. Há a possibilidade que o próprio governador já tratou do Zambiasi (ex-senador Sérgio Zambiasi), que ainda tem idas e vindas...

JC - Acredita nessa possibilidade?

Danéris - Temos que respeitar o tempo do Zambiasi. Se ele estiver disposto - ele está em processo de reflexão -, se ele quiser, obviamente, será muito bom para nós. Mas o PTB tem outros quadros fortes que poderiam cumprir essa função de vice.

JC - Quem deve ser o adversário mais difícil para um eventual segundo turno?

Danéris - Quem concorre não escolhe adversário. Não vou escolher o adversário. O que acho é que o centro do debate é: qual é o projeto que a oposição tem para o Estado? Nós temos um muito claro. Dissemos que o Estado tem que recuperar suas funções públicas, por isso reorientamos os recursos para reorganizá-lo. O salário dos servidores, secretarias afins ao que interessa, políticas para as mulheres, desenvolvimento rural, assim por diante. Fomos buscar a receita, financiamento para investimentos, ou seja, fizemos uma reestruturação do Estado e não perseguimos o déficit zero. Por isso conseguimos os 12% na saúde, 31% na educação. Há uma escolha política. O Estado é indutor do desenvolvimento, essa é a nossa visão. É uma visão de distribuição de renda, que se consegue gerar crescimento econômico. Esse é o projeto. Qual é o projeto deles? O discurso do PP é de que vai reduzir o Estado, que a gente gasta demais, eu me preocupo com esse debate...

JC - Na Assembleia Legislativa, não só o PP, mas o PMDB e o PSDB têm dito que a atual gestão está inviabilizando os próximos governos com o endividamento do Estado.

Danéris - Porque eles têm a visão de um Estado mínimo, e esse debate vai ser bom. Mas eles precisam dizer claramente qual é o Estado que eles querem? É o mesmo Estado de antes? Eu acho que o Rio Grande do Sul não volta atrás. Nós começamos a crescer sem comprometer saúde, educação, qualidade dos serviços. Eles querem voltar ao programa anterior de déficit zero, que precarizou a saúde, a educação... Só está faltando dizer claramente isso para o povo gaúcho, porque é esse modelo que vai estar em debate. Não importa se o candidato vai ser o Sartori (ex-prefeito de Caxias do Sul, José Ivo Sartori, do PMDB), ou a Ana Amélia (PP), quem vai representar esse projeto de redução do Estado contraposto ao nosso. Quem vai representar o projeto e dizer claramente? Eu vi a propaganda do PP, que vai reduzir CCs (cargos de confiança), servidores e reduzir o Estado. Depois o Celso Bernardi (presidente estadual do PP) dizendo que a gente gasta demais. Mas gasta onde? Na saúde que foi 12%? Na educação que foi 31%? Na infraestrutura que nós estamos melhorando o salário de servidores? Onde estamos gastando demais, que ele quer cortar? Investimento? Salário do servidor? Saúde? Educação? Infraestrutura do Estado?  Então vai voltar o programa da Yeda (ex-governadora Yeda Crusius, do PSDB - 2007-2010).

JC - Teme que manifestações contra a Copa comprometam a popularidade da presidente Dilma, como no ano passado?

Danéris - Ela teve uma queda quando começaram as manifestações, mas, conforme ela foi se pronunciando e mostrando coisas do governo, voltou aos patamares anteriores. Agora, hoje e desde outubro do ano passado, ela estava à frente em qualquer pesquisa. Aqui no Rio Grande do Sul, só para transferir para cá, nós temos mecanismos de diálogo direto, Conselhão, Gabinete Digital, Orçamento Participativo que foram reconhecidos inclusive pelos manifestantes, que, com razão, cobram coisas, mas que também reconhecem que tem canais para conversar com a gente. E o tema do Passe Livre, que era a grande demanda, nós aprovamos na Assembleia Legislativa com um projeto que foi construído, inclusive, com os manifestantes.

JC - A CPI da Energia Elétrica pode atrapalhar a imagem do governo do Estado, por conta da CEEE?

Danéris - Não, ao contrário. Acho que a CPI vai nos ajudar a fazer propaganda do que acabei de falar sobre a recuperação das funções públicas do Estado. Apoiamos a CPI, assinamos a CPI, com orientação do próprio governador. Porque queremos saber quem foram os responsáveis pela privatização da CEEE, que dividiu a empresa em três partes e as duas melhores partes passaram para a iniciativa privada e todos os problemas de dívida ficaram com o Estado.

JC - O que o Conselhão auxiliou na gestão do Estado nesses três anos?

Danéris - Acho que um grande paradigma que o Conselhão quebrou, positivamente, e que no Rio Grande do Sul tudo é polarizado, é grenalizado, que as pessoas não têm disposição de sentar democraticamente para dialogar e tentar uma solução comum. O Conselhão conseguiu fazer isso. A Farsul e o MST, por exemplo, sentaram e discutiram o tema da agricultura.

Perfil

Marcelo Danéris tem 43 anos. Natural de Bagé, veio para Porto Alegre em 1975, quando tinha cinco anos. Músico, com formação autodidata, exerceu a profissão dos 19 aos 28 anos. Filiou-se ao PT em 1995, influenciado pela esposa, que já militava no partido, participando da tendência Esquerda Democrática. Em 1998, passou a assessorar o hoje deputado federal Henrique Fontana. Ao mesmo tempo, assumiu a presidência de uma zonal do PT e ingressou no curso de História da Ufrgs - concluído em 2008. Assumiu a cadeira de vereador na Câmara Municipal de Porto Alegre em duas legislaturas: entre 2001 e 2004 e 2007 e 2008. No primeiro mandato na Câmara Municipal, foi líder do governo João Verle (PT) entre 2002 e 2003.

Em 2008, licenciou-se do cargo de presidente municipal do PT para concorrer a vice-prefeito na chapa encabeçada pela então deputada federal Maria do Rosário - que foi derrotada por José Fogaça (PMDB). Entre 2010 e 2011, Danéris concluiu o mestrado em Ciência Política, área também de seu doutorado. Foi um dos coordenadores do programa de governo de Tarso Genro e, desde 2011, é secretário-executivo do Conselhão.

Fonte: Jornal do Comércio, 24/02/2014

Foto: Jonathan Heckler/JC

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