Por que a oposição cresceu tanto nas últimas eleições?


Nenhum triunfo, revés ou acúmulo eleitoral pode ser explicado por um único fator ou analisado fora de um contexto. A vontade expressa nas urnas é sempre uma resposta da sociedade diante da história de vida dos candidatos, das forças políticas e sociais em que se apoiam, da temática pública dominante no momento e do projeto de futuro que apresentam. Uma corrida eleitoral é parte da dinâmica social e seu saldo político nunca é definitivo ou obra do acaso. Assim, é impossível agradar a todos ou deixar de contrariar interesses. Feita esta breve contextualização, passo a elencar alguns fatores que, no meu ponto de vista, explicam ou foram determinantes para o fortalecimento da oposição que redundou num quase empate nas urnas em 2024.

1) Aqui e em qualquer lugar do Brasil, é muito difícil suceder um líder consolidado e aprovado, quando este resolve não exercer a prerrogativa legal de pleitear um novo mandato eletivo, pois apesar do nome apresentado representar um coletivo e um jeito de governar, o senso comum costuma pessoalizar as relações e depositar suas esperanças nos braços de uma pessoa, e não de um projeto;

2) Apesar de todas as evidências, somente eu e mais uma ou duas vozes isoladas, vínhamos alertando há bastante tempo que as eleições do ano passado seriam as mais difíceis para o grupo governista desde 2008, tendo em vista o contexto desta disputa e um rearranjo das peças no tabuleiro da nossa política, que indicava o surgimento de uma nova correlação de forças entre oposição e situação. Ou seja, a ausência de uma leitura correta do cenário levou a uma subestimação do poderio do adversário e uma superestimação da força governista;

3) Desde o início da gestão anterior, os governistas registraram baixas importantes e por diferentes motivos. Entre elas, a ex-primeira-dama Tania Sallaberry, Iádia Peres vitimada pelo coronavírus e o ex-vice-prefeito, Fernando Silveira, que por razões pessoais passou a integrar os quadros do principal rival, PDT. Além disso, Denise Silveira que foi a vereadora mais votada em 2020, resolveu não disputar à reeleição. Uma das lideranças mais destacadas do interior, Valmir Miliorança, deixou o governo na reta final e também não fez parte da coordenação da campanha;

4) A oposição foi cirúrgica na escolha do nome para compor a chapa majoritária, na medida em que este foi exibido como troféu pelos contrários, além de avalisar o deslocamento para o lado adversário de uma força até então aliada ou que orbitava na base do governo;

5) Com exceção do coordenador-geral e do responsável pela coordenação de Comunicação e do Programa de Governo, todo o restante da Coordenação da campanha governista foi composta por pessoas dedicadas, porém inexperientes e com pouca representatividade na sociedade;

6) Depois de chegar ao governo em 2009, Ildo Sallaberry e o Progressistas fizeram vários movimentos que trouxeram para o seu lado um capital político e social robusto, antes representado pelas siglas oposicionistas. Parte dessas forças, incluindo uma fatia do PDT e, especialmente, o Partido dos Trabalhadores, terminaram retornando ao "leito original";

7) Herval possui raízes muito fortes no trabalhismo e na luta contra a Ditadura Militar e pela redemocratização do País, algo que o Progressistas soube reconhecer, abrir espaços e representar pelas figuras que encabeçavam seu projeto político. Entretanto, o candidato da sigla no último pleito, apesar das suas virtudes humanas e reconhecidos dotes empresariais, se posicionou na cena política de uma forma que lhe colocou no campo conservador e bloqueou seu acesso às camadas populares;

8) Foi em Herval que o presidente Luís Inácio Lula da Silva obteve a maior votação percentual de todo o RS em 2022. Contudo, ao não desmistificar a tentativa da oposição de "nacionalizar" a disputa municipal, a candidatura governista abriu as portas para que a polarização nacional, que havia sido blindada nas últimas disputas, chegasse com força e desse um dos tons do debate eleitoral, na ideia falaciosa de que Celso representaria Bolsonaro enquanto o candidato do outro lado teria acesso direto e encarnaria os valores e o prestígio de Lula em âmbito local;

9) Carregando a marca de 4 derrotas consecutivas, a chapa majoritária oposicionista foi para o tudo ou nada e chutou o fair play para escanteio. A narrativa inicial de atacar apenas os problemas foi logo abandonada para dar lugar a um festival de encenações e ataques pessoais covardes nas redes sociais, bem como ameaças e intimidações contra membros da Coordenação da campanha governista nas ruas, numa prática que lembrou o modus operandi da extrema direita em nível nacional;

10) Se valendo da inexperiência ou do “sangue doce” dos principais atores do staff governista, desde o início os adversários retiraram a disputa do terreno da política e apostaram tanto na disseminação de Fake News quanto na judicialização do jogo eleitoral, numa jogada que foi além do dia 6 de outubro e culminou na tentativa de mudar o resultado das urnas e do comando do Legislativo, ambos legitimamente constituídos, na base do “tapetão”.

Sem dúvidas, existem vários outros argumentos para explicar o crescimento da oposição e o susto levado pelos governistas no último pleito eleitoral. Entretanto, me falta espaço para abordá-los aqui, sem contar que muita coisa é de domínio interno e não deve ganhar a luz pública. Fato é que tudo muda o tempo todo no mundo. Por isso, ainda mais num ambiente polarizado, com o município dividido e metade da população ressentida, é fundamental valorizar quem luta ao nosso lado, ficar atento aos sinais, brechas e movimentos no campo político e estar sempre aberto ao exercício da arte da “escutatória”. 

Comentários

Anônimo disse…
O último parágrafo diz tudo sôbre o momento atual. É preciso escutar muito, ter humildade e discernimento. É muito comentário e poucas atitudes. Os predadores estão a espreita, com sede de poder.
Anônimo disse…
O mais lamentável é o desleixo, despreparo e descaso.

De todos elos. Executivo, legislativo, situação e oposição.

Cadê o espírito havido do herval, busca por instrução, qualificação, profissionalização?

Infelizmente nós hervalenses estamos abandonados, quem deveria nos prestar satisfações, os representantes eleitos por voto popular apresentam pouco interesse.

Como a história já apresenta, desde 1950 em estudo feito pelo IBGE estamos em déficit populacional.

Há uma expectativa ou se quer esperança, para um herval mais próspero?

Postagens mais visitadas deste blog

Comentário sobre os 33 anos de O Herval e os 100 dias do governo Celso

Novos ventos para Herval

O novo sempre vem!