Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?



Tenho acompanhado algumas manifestações da nossa comunidade que clamam pela retomada do futebol de campo em Herval. Concordo e faço coro com tal clamor, porém lanço algumas ponderações para que a discussão dessa pauta não seja baseada apenas no sentimento da paixão ou limitada pelo saber do senso comum.

Em primeiro lugar, cabe lembrar que o futebol amador sofreu uma enorme derrocada em todo país, o que já vem ocorrendo há alguns anos. Não faz muito tempo, o Esporte Espetacular, programa esportivo dominical da TV Globo, produziu uma rica reportagem sobre esse assunto, apontando razões e mostrando alguns desdobramentos do enfraquecimento ou abandono da cultura do futebol amador em nível nacional.

Com a profissionalização predatória ou mesmo a mercantilização do esporte inventado na Inglaterra, as famosas “peladas” ou competições de futebol amador se tornaram excessivamente caras ou impraticáveis em muitos cantos do imenso Brasil. Nesse aspecto, penso que a Globalização Econômica de estilo liberal e a chamada Lei Pelé, criada supostamente para “proteger” os atletas profissionais, acabaram estimulando uma certa elitização que enfraqueceu ou varreu do mapa muitos clubes ou entidades futebolísticas. Se muitos clubes profissionais ficaram mal das pernas ou até desapareceram diante da imposição dos mesmos se tornarem empresas, imagine o efeito disso no futebol amador, especialmente nos “grotões” do país!

Sou do tempo que o futebol bombava no nosso município, muito menos pela ação do poder público (embora essa seja indispensável) e muito mais ou muitas vezes exclusivamente por conta de personagens abnegados no União (meu time de coração), no Brasil, no Botafogo, no Municipal e no Independente, que exerciam papel de liderança e carregavam os clubes nas costas. Lembro da época que a rivalidade era à flor da pele e os campos ficavam lotados aos domingos, arrastando atletas amadores, torcedores e as famílias hervalenses que se mobilizavam não apenas pelo ímpeto da competição, mas por encontrar ali um momento de lazer e entretenimento.

Sou do tempo também que o voleibol chegou a ser o esporte preferido de uma gurizada da nossa terra, entre os quais eu me incluía. No colégio, antes de enveredar para o futebol, o vôlei foi a minha prática esportiva número 1. Uma modalidade que surgiu como uma onda e logo acabou praticamente morrendo entre nós (como as tradicionais e concorridas "carreiras" de cavalos também sumiram), justamente quando os “cabeças” e praticantes desse esporte se desmobilizaram e não fizeram sucessores para continuar essa jornada. Ou seja, assim como não existe carnaval sem foliões e entidades carnavalescas, nenhum esporte coletivo nasce, renasce ou se mantém de pé, sem a participação ativa de pessoas da comunidade que carreguem essa bandeira. Estrutura e apoio são importantes, mas essas são efeitos e não obrigatoriamente o "start" para "mover a roda".

O fato é que tudo muda o tempo todo e a vida mudou numa velocidade espantosa nas últimas décadas. Anos atrás um televisor não era uma espécie de membro da família (fomos ter TV em casa quando eu tinha por volta de 14 anos, assim muito escutei as transmissões pelo rádio), as transmissões esportivas pela televisão aberta não eram tão comuns e abrangentes como atualmente e assistir um jogo de futebol profissional ao vivo na telinha era um acontecimento. Também não existia a facilidade de acesso aos canais fechados de TV. Internet e redes sociais eram coisas inexistentes e impensadas. Aqui na Sentinela da Fronteira, o futebol reinava absoluto e era território quase que exclusivo para os homens. Não tínhamos um grupo organizado de ciclistas e motociclistas; não havia Padel nem quadra sintética de futebol nem a Bocha trazida pelos assentados do campo, que movimentam e passaram a integrar a nossa cena esportiva. Quase ninguém frenquentava uma academia ou aulas de Pilates, que também passaram a fazer parte da nossa rotina. Lembro que logo após a inauguração do nosso Ginásio de Esportes, o futsal explodiu e já deu um primeiro baque no futebol de campo por aqui. E no meio disso tudo ainda teve uma Pandemia que paralisou o mundo.

Fiz todo esse arrazoado para reforçar que sim, o futebol de campo precisa ser retomado em nosso município. Entretanto, pelos motivos que expus, acredito não ser possível que ele seja retomado nos mesmos moldes nem com a mesma intensidade de outros tempos. Até porque, para além do interesse público, essa retomada depende da organização e do engajamento dos "clubes de várzea" locais. Aliás, desde janeiro desse ano a administração municipal, através da Assessoria Especial de Governança e Relações Institucionais, vem se movimentando e já abriu tratativas no intuito de dar o ponta pé inicial nessa empreitada. Para que o nosso futebol de campo volte a ativa, espero que a proposta lançada pela prefeitura possa ser bem compreendida e venha a lograr êxito. Afinal, futebol amador é uma das maiores riquezas da cultura popular e, como fala a letra da música, quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Todos contra o Herval que dá certo?

Responsabilidade com a saúde

Um ano de sucesso e vontade de fazer ainda mais!