De gente que é gente!

Na semana passada, Herval inaugurou o Museu Municipal Professor Osmar Hences, uma iniciativa fabulosa e muito aguardada, fortemente apoiada pelo prefeito Ildo Sallaberry e construída a muitas mãos, com a qual tive a oportunidade de dar uma pequena contribuição. Meses atrás, quando foram dados os primeiros passos dessa empreitada, ao ser procurado pelo Heron Moreira, Diretor do Museu e museólogo responsável pela implantação, minhas primeiras palavras foram de que apesar da importância do Museu, pelo que conheci do Osmar, ele não deveria estar contente com a homenagem. Afinal, o "sor Osmar" sempre foi verbo, movimento, e seu pensamento e história de vida combinavam muito mais com uma biblioteca itinerante. Contudo, o talento do Heron conseguiu gestar um Museu que traduz bastante a alma Osmarenciana, pelo sentimento vivo, espírito plural e coletivo, além da clareza de que numa sociedade dividida em classes como a nossa, tudo que envolve ou retrata os viveres e fazeres de outrora, muito mais que a exaltação dos símbolos e personagens que viveram no topo da pirâmide social, deve representar um holofote a iluminar os anônimos, excluídos, explorados ou invisíveis da nossa terra.

Não, o Museu não é um modo de homenagear exclusivamente a vida e obra do Osmar. Esse espaço tem uma ambição muito maior e profunda. Ele busca resgatar e preservar elementos da nossa educação, do nosso patrimônio material e imaterial, paisagens, memórias e histórias (assim mesmo no plural). Entretanto, como o Legislativo prestou essa homenagem, a partir de uma propositura do Ex-Vereador Daniel Xavier, datada de 2014, era preciso existir uma sincronia entre o perfil do Museu e as principais bandeiras empunhadas pelo homenageado, fazendo desse mais um de seus  legados. 

Quando se fala em raízes, memória e história, se está falando, inevitavelmente, em educação e cultura que foram as grandes paixões e causas que moveram o meu amigo e mestre Osmar Hences. E cultura, ao contrário do que muitos pensam ou propagam, não tem nada a ver com erudição ou culto a um jeito específico de estar no mundo. O sonho do "Sor Osmar", pelo qual ele muito trabalhou e produziu muitas sementes, era que todos os viventes, especialmente as gentes do povo, se descobrissem e assumissem como "fazedores de cultura". É dele, aliás, umas das mais brilhantes definições de cultura que conheço, a qual reproduzo na íntegra no próximo parágrafo.

"Cultura é o jeito de ser de um povo. Como ele fala, como se veste, como tempera sua comida, como enfeita sua casa, como recebe o estranho que chega. Neste sentido, não há povo sem cultura, como não há cultura sem povo. Temos um jeito de educar nossos filhos, temos um jeito de falar, de sorrir e sermos felizes. Temos ainda um tipo de música que é feito por nós, com o nosso jeito, com a nossa cara, com palavras nossas, num ritmo nosso. Ninguém pode dizer que somos um povo sem cultura. O que nos falta, muitas vezes, é valorizar mais o que é nosso. Gostar do nosso jeito de ser. Não é feio gostar da cultura de outros povos. Mas é bonito gostar e conhecer mais o que é nosso. Valorizar as coisas da nossa terra, pois como ensinou José Martí, ‘nenhum povo é dono de seu destino, se antes não for dono de sua cultura’”.

Sobre a minha pequena contribuição nessa empreitada que mencionei no início, de fato ela foi muito pequena. Não faço parte da comissão que conduziu brilhantemente as coisas nesse ponta pé inicial. Mesmo tendo me tornado uma das figuras mais próximas na passagem do Osmar pelo Herval (pela relação construída no Partido dos Trabalhadores e no GIEPHE - Grupo de Investigação em Educação Popular do Herval), entendo que seus familiares hervalenses e outros atores eram mais legítimos para resgatar ditos e feitos desse personagem, cuja importância e contribuição histórica ainda não foi devidamente decifrada e valorizada pela terra dos cerros, como ele a definia. Mas pela relevância da iniciativa, pelo meu compromisso com a cultura e pelo papel institucional que desempenho no governo municipal, minha contribuição foi fazer a ponte e auxiliar com a documentação exigida para assegurar o patrocínio da Corsan ao Programa de Exposições que marcam a inauguração do Museu.

Tudo começou muito lindo, mas ainda há muito o que fazer. O Museu que ora nasce precisa ser parte de cada um de nós, e não um lugar inalcançável que apenas reverencia o passado como se ele fora um território sagrado ou "uma roupa que não nos serve mais". Ele precisa conter e expressar nosso cheiro, nossos sabores, nossos saberes, nossas tramas, nossas teias, nossos atrasos, nossos saltos, nossos amores, nossas mazelas, nossas artes e artimanhas, nossas lutas e conquistas, nossas dores e delícias, se convertendo num espaço que, ao mesmo tempo que traz à tona e desvenda o antigo, também seja capaz de nos conectar (enquanto indivíduos e sociedade) com as memórias do presente e o futuro de progresso material e elevação ao melhor que o espírito hervalense pode ser. Osmar Vive! Vida longa ao nosso Museu Municipal!


Comentários

Unknown disse…
👏🏿👏🏿👏🏿👍
Unknown disse…
Muito justa a Homenagem Parabens aos envolvidos!
Ledir dos Reis disse…
Perfeito 🙌🏽👏🏽👏🏽👏🏽

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