O choro é livre, mas Herval prefere quem faz acontecer



Política é um jogo de forças e num regime democrático o poder de alguém ou de uma força política é inconstante e sempre pode ser contraposto. Assim, o poder não é apenas aquilo que é feito para conquistá-lo ou preservá-lo, mas também aquilo que aqueles que se opõem ou contestam algum poder ou suposto "poderoso" fazem ou deixam de fazer; é também os silêncios, vazios ou tiros no pé dados do lado contrário. Digo isso, pois não é de hoje escuto opositores do sempre prefeito Ildo Sallaberry atribuindo-lhe super poderes, supostamente obtidos por meio de forças "estranhas" que tornariam a "queda de braços" com ele desigual e invencível pelos seus adversários, os quais se autoproclamam os legítimos representantes do povo e da "mais elevada alma hervalense". Talvez não passe de uma bravata dos oponentes de Sallaberry, o fato é que nesse momento de pandemia em que explode na ordem do dia a necessidade do resgate da boa política, dos valores democráticos e do papel dos poderes públicos, é ainda mais vital chamar as coisas pelo nome, não dando ouvidos ou palanque para mitos ou desculpismos.

Lembro 2008, momento em que os oponentes de Ildo perderam em primeiro lugar para si mesmos, política e eleitoralmente. Sob o ponto de vista político, pelo governo lastimável que fizeram, o qual deixou Herval parado no tempo e "chupando o dedo" diante do progresso promovido e espalhado por todo o país pelo então governo Lula, com investimentos que chegaram inclusive aos nossos municípios vizinhos e foram possibilitados pela ação e organização administrativa das gestões locais. Um governo escancaradamente marcado pela incapacidade administrativa, mas também por muitos desvios, cujos detalhes não vou me reportar aqui em razão dos mesmos já serem sabidos por todos. Desvios referentes a acusações e processos por corrupção, mas que também se deram no âmbito político, a exemplo da escolha de um vice que representava aquilo que de mais atrasado existe na nossa política, os diversos arroubos autoritários cometidos pela cúpula governista e o descumprimento de algumas das principais promessas de campanha, especialmente o não atendimento e a tentativa de acabar com direitos dos servidores públicos. Sob o ponto de vista eleitoral, cabe recordar que a chapa situacionista acabou por cometer um crime eleitoral naquele pleito, o que levou a sua cassação, em algo que não pode ser atribuído a algum poder de Ildo, pois a lei eleitoral é clara e o crime em questão foi praticado à luz do dia e nas "barbas" de todos.

Em 2012, depois de recuperar o crédito, a saúde financeira, a capacidade realizadora e as funções públicas da prefeitura, Ildo já havia se consagrado como um dos melhores prefeitos da Sentinela da Fronteira. Enquanto que do outro lado as forças oposicionistas, agora reforçadas por antigos aliados de Ildo (que haviam abandonado o barco depois que suas chantagens não colaram e por se acharem mais representativos do que de fato eram), jogavam contra tudo, negavam todos os avanços e apostavam todas as suas fichas num candidato jovem na idade, porém completamente desconectado da realidade local, com uma história pessoal bastante obscura e muito atrasado no jeito de fazer política. Ou seja, uma vez mais erraram o rosto, a dose, o alvo, a forma e o conteúdo.

Em 2016, apesar das forças oposicionistas terem avançado um pouco, sobretudo, pela alta rejeição do nome escolhido para ser o sucessor de Ildo e por terem conseguido se manter coesas ao longo dos quatro anos anteriores, deram novamente com os burros n' água e cometeram novos erros fatais. O maior deles foi ter inscrito e mantido até o final uma candidata a vice que não apresentava condições de ser inscrita como candidata, situação que levou a chapa a ficar sub júdice até a data da votação e culminou com a anulação dos votos que recebeu, repetindo o feito de 2008. De 2017 para cá a oposição (leia-PDT) continuou errando, seja pelo deserto que produziu em termos de alternativa de governo ao município, seja pelo cálculo eleitoral apressado que levou-os a se colocar senão como governistas, mas na posição de advogados do atual prefeito em relação as suas reclamações sobre a herança política que recebera (política, e não administrativa). Ou seja, ao abraçar o prefeito eleito com o apoio de Ildo, na ideia de ajudar a "atirar o gato no cachorro", não só erraram o alvo, como deixaram de cumprir seu papel de oposição e acabaram passando a mão por cima do comando do governo em curso frente as escolhas, ações e omissões que lhe são próprias e pelas quais lhe cabe responder.

O argumento de que Ildo controla a política de Herval, do mesmo modo que controla suas propriedades, também não faz o menor sentido quando se olha para o comando de algumas entidades que compõem as forças vivas do nosso município. Afinal, quando esteve dentro e agora fora da prefeitura, qual a influência de Ildo na rádio que deveria ser comunitária e foi transformada em veículo de comunicação particular dos contrários ao ex-prefeito? E a rádio HSul e o Jornal O Herval, que serviço prestam à Sallaberry? E o CTG Minuano, o Clube Comercial, o Lar do Idoso, a ACIAS, notadamente encabeçadas por vozes dissonantes de Ildo, em que puxam ou já puxaram a brasa para o seu assado? E o Sindicato dos Municipários e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, liderados por expoentes do PDT, também integram o aludido poder absoluto de Ildo na terra hervalense? Aliás, comparando a atuação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais local com a do Sindicato que representa os pequenos produtores de Arroio Grande e Jaguarão, fica claro o quanto pode ser feito quando existe capacidade de gestão e o interesse desse setor vital para a nossa economia e que envolve um número enorme de famílias, é colocado à frente e acima de algum interesse meramente partidário ou eleitoral.

Na democracia que muitos de nós estamos lutando para manter de pé e revitalizá-la, fazer oposição é legítimo e necessário. As urnas existem para definir os papéis de cada força política que a elas se submetem. Desta forma, com base no seu resultado os vencedores vão para o governo e os vencidos ficam na oposição. O choro é do jogo, mas para o bem da nossa sociedade e do fortalecimento da democracia, os oposicionistas precisam e podem fazer mais que meramente chorar ou explicar seus erros, fraquezas ou falta de projeto alternativo, atribuindo ao outro lado uma força ou poder que não possui. O mínimo que Herval merece é o nosso melhor, o que vale para quem ocupa espaços de poder e para aqueles a quem cabe o papel de fazer oposição. Então, que o partido mais enraizado em Herval pare de chorar pelos cantos ou de tropeçar nas suas próprias pernas e se apresente para o jogo de forma qualificada, propositiva e proativa.

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