Pensar é preciso
O caçador e seu troféu
(Luís Fernando
Veríssimo)
Nada contra Moro, o justiceiro da
República. Mas não posso deixar de pensar nele como um caçador na sua sala de
troféus, cercado pelas cabeças de suas presas. Nesta parede, a cabeça de um
tigre, na outra, a de um leão, na outra, a de um búfalo. E agora, num lugar de
destaque, a cabeça do Lula.
Moro pode muito bem dizer que nenhuma
presa lhe exigiu mais coragem e sangue frio, daí seu lugar de destaque na
parede. Que fera seria o Lula?
A cada animal abatido pelo nosso
destemido caçador corresponde uma biografia e uma justificativa para sua queda.
Ao contrário do búfalo, por exemplo, que só morreu porque o caçador acertou o
tiro, a razão para abater o Lula é complicada.
Foi para afastá-lo definitivamente da
eleição de 2018? Foi pela sua biografia como líder do primeiro governo a
enfrentar a oligarquia e distribuir renda na história do Brasil? Foi (a razão
do caçador) porque ganhou um apartamento tríplex que nunca ocupou?
De qualquer maneira, era preciso
coragem e sangue frio para abater a fera. O Moro se admirou com a própria
audácia e declarou que a prisão não é para agora. Querem testar a reação da
massa, antes. Mas a cabeça do Lula está lá, na parede.
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