Ato político
Segundo ensina uma lei elementar da
física, “toda ação gera uma reação igual e contrária”.
Neste sentido, o golpe na democracia
e numa presidenta honesta e legitimamente eleita pelo voto popular não poderia
produzir bons frutos, como propugnavam os incautos e oportunistas de plantão.
Além de golpear a democracia, o golpe
que continua em curso no país, também golpeia de morte aqueles que mais
precisam com a retirada de direitos que garantem o mínimo de dignidade aos
pobres, bem como ajuda a roda da economia a girar, sobretudo, nos “grotões”
desse imenso e insano Brasil.
Para aqueles que ingenuamente
esperavam algo melhor com o golpe, agora se deparam e outros tantos ainda fingem
não ver que estamos diante de um dos piores Brasis de todos os tempos, sendo que
o pior está por vir, na medida em que os remédios amargos aplicados por Temer e
seu bando de ladrões (ladrões de dinheiro, do poder e da esperança do país
avançar) começarem a fazer efeito.
Sou um otimista inveterado, mas
também não sou bobo e busco enxergar aquilo que tá na cara: o golpe interrompeu
a marcha do Brasil rumo ao futuro depois de séculos de atraso e sepultou o
sonho de milhões e milhões de brasileiros de continuar progredindo na vida. Tal
golpe também representa a vitória da pilantragem sobre o respeito às regras do jogo, a
vitória da politicagem sobre a boa política, a vitória da bandidagem sobre os
valores civilizatórios e da ética.
A irresponsabilidade da opção Maia
O núcleo
político, econômico e midiático, condutor do golpe de 2016 contra a presidenta
Dilma Rousseff, trama a reorientação da sua estratégia diante do provável
fracasso do governo Michel Temer. Pretende rifar o presidente impopular e
acusado de corrupção para colocar em seu lugar o deputado Rodrigo Maia
(DEM-RJ), conhecido como ”Botafogo” nas planilhas de pagamentos de propinas da
Odebrecht, reveladas pelas investigações da Lava-Jato. Deseja fazer isso, mais
uma vez, burlando a democracia, por fora do processo eleitoral. Maia será o
novo “CEO” do mercado financeiro e das elites econômicas nacionais, na
presidência do país, para conduzir as reformas regressivas, previdenciária e
trabalhista, e realizar os ajustes fiscais sobre programas sociais e o contingenciamento
do orçamento público que atinge justamente os mais pobres.
O risco da opção Rodrigo Maia não
significará apenas “mais do mesmo”, pois apoiou e foi apoiado por Temer e os
tucanos liderados por Aécio Neves. Ele representará o agravamento da crise
política e a nova ofensiva conservadora contra os direitos do povo brasileiro.
Significará a retirada de um presidente sem legitimidade, acusado de corrupção,
por outro, interino, com ainda menos legitimidade, também acusado de corrupção
e que pretende servir aos interesses do mercado financeiro contra os interesses
da nação. O que estes setores pretendem fazer com o país é da mais alta
irresponsabilidade e pode comprometer gravemente o nosso futuro.
O deputado Maia, assim como Eduardo
Cunha, nunca escondeu a quem serve. Recentemente, afirmou em entrevistas que “a
reforma trabalhista é tímida” e que a “Justiça do Trabalho não deveria nem
existir”, e que “a agenda da Câmara, em sintonia com a do presidente Michel
Temer, tem como foco o mercado, o setor privado”. Este é o senhor que querem
para governar o Brasil.
O país vive uma das mais profundas
e persistentes crises política, econômica e social do período republicano. São
três anos de instabilidade das instituições democráticas com alto custo social
e deterioração evidente dos indicadores econômicos. O governo Temer derrete em
meio às denúncias de corrupção que envolvem diretamente o presidente e seus
assessores e ministros mais próximos, além do desemprego crescente, paralisação
de investimentos, interrupção ou redução de políticas públicas, aumento da
insegurança e da violência, insolvência dos estados endividados, corrupção
sistêmica, redução da produção e ameaças ambientais. Agora, mais uma vez
estamos diante do iminente afastamento de Temer, para ser julgado no STF por
corrupção, corretamente, e a provável formação de um segundo governo ilegítimo.
O povo brasileiro não suporta mais, não merece pagar um preço tão alto por
improvisações políticas e governos sem a legitimidade democrática.
A desorganização administrativa, a
crise de representatividade, as suspeitas que pendem sobre as instituições
republicanas, a economia paralisada, o enfrentamento entre os poderes, a
escalada da violência política, o crescimento da pobreza e da exclusão social,
entre outras graves situações, demonstram um momento de excepcionalidade na
conjuntura nacional. De outra parte, o evidente esgotamento do sistema
eleitoral, sobrestado a espera de uma reforma política, sempre discutida, nunca
realizada plenamente; e a necessidade de repactuação do contrato democrático
nacional, indicam que a possibilidade de interinidade da Presidência da
República, pretendida por alguns seguimentos políticos e econômicos, e em
gestação no Congresso Nacional, não representará solução para a profunda crise
que vivemos. Da mesma forma, também não é razoável que a sociedade brasileira,
vítima de tal degradação política, ainda não tenha sido convocada a se
pronunciar em nenhum momento.
A gravidade da conjuntura exige uma
medida de excepcionalidade político-normativa, por dentro do ordenamento
constitucional vigente. Esta medida deve reconhecer que o melhor remédio
democrático para estancar a crise e retomar a normalidade institucional, com
estabilidade para o país, é a antecipação das eleições em âmbito federal, para
presidente da República, deputados federais e senadores.
A soberania do voto popular poderá,
então, restituir a legitimidade política ao governo eleito e ao parlamento, e a
estabilidade necessária para o Brasil retomar o caminho do desenvolvimento
econômico, social e ambiental. É preciso ressignificar nossa democracia e
devolver aos cidadãos o direito de eleger seus representantes no Congresso e,
especialmente, o mandatário maior da nação.
Por Henrique Fontana - Deputado Federal do PT/RS
Por Henrique Fontana - Deputado Federal do PT/RS
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