Ato político
Como ensina o grande Humberto Gessinger, ao contrário de outras épocas,
o problema maior do nosso tempo não é o silêncio, e sim o excesso de fala. É
todos opinando sobre tudo ao mesmo tempo, como se grandes entendedores ou
estudiosos de diferentes assuntos fossem, com o amparo e guarida das redes sociais.
Numa sociedade evoluída moral e economicamente, massificação das redes
sociais significa mais portas abertas para a evolução social e humana. Nas
sociedades degradadas, a massificação das redes sociais, pode representar simplesmente
a exposição pública exacerbada das misérias e vísceras nossas de cada dia, além
do culto desenfreado a tolice. Simples e óbvio assim.
Portanto, nesses tempos macabros que a insanidade anda solta, no qual
tolos se auto-proclamam formadores de opinião (ou seria deformadores?), é
preciso escolher cuidadosamente as palavras e também ter prudência e cautela no
momento de decidir a quem dar VOZ.
Muitos ignoram a sabedoria que ensina que “as únicas palavras que
merecem existir são aquelas que forem melhores que o silêncio”. No entanto, em
meio a essa gritaria que diz pouco ou nada, ainda existe muita gente lúcida que
merece se pronunciar por todos os meios e se fazer escutar, como o jornalista
Sergio Araujo.
Sartori
e o Rio Grande mudaram. Para pior
Por Sergio Araujo

Vamos pois, analisar
esse panorama. Só mesmo o sentimento de fracasso gerencial, detectado pelas
pesquisas de opinião, pode explicar a repentina mudança
no comportamento do governador. Outrora enigmático, cauteloso e
avesso a manifestações públicas, Sartori se transformou,
inexplicavelmente, num bem falante arauto, proclamador de notícias
alvissareiras. Bem diferente do evasivo candidato da campanha eleitoral de
2014. Para ficar apenas nas questões afetas às áreas da segurança,
educação e transporte, alvos dos anúncios mais recentes, observemos as
seguintes contradições:
Enquanto
proclama, diante de um salão Negrinho do Pastoreio repleto de integrantes do
governo e da base aliada, a construção de novos presídios em Viamão, Alegrete e
Charqueadas, o governo do Estado não consegue colocar em funcionamento a
penitenciária de Canoas, recebida praticamente concluída do governo Tarso.
Enquanto isso, dezenas de detidos continuam aguardando em viaturas improvisadas
de casas de passagem a abertura de alguma vaga nos presídios existentes e
superlotados.
Da mesma
forma e no mesmo segmento governamental, Sartori proclama a
abertura de concurso público para a contratação de mais de 6,1 mil
novos policiais. O interessante, que não é dito, é que apesar de passados
dois terços do mandato do atual governo, ainda restam aprovados no concurso
realizado em 2013 (governo do PT), para a Brigada Militar, Policia Civil e
Corpo de Bombeiros, que ainda não foram chamados. Se para eles não
existe recursos que possibilite suas contratações, como poderá haver
para os novos concursados?
Pois até
obras começam a ser anunciadas. É o caso da destinação de recursos (não
muitos) para a recuperação de escolas e de rodovias. Novas escolas e novas
rodovias? Nem pensar. Pois bem, basta visitar aleatoriamente algumas
escolas estaduais e percorrer alguns poucos quilômetros de rodovias estaduais
para constatarmos que quase nada foi feito no período sartoriano. O que se
observa são prédios em precárias condições e rodovias esburacadas. Nem mesmo o
tão badalado Programa de Concessões Rodoviárias, que transfere a
responsabilidade da administração de algumas estradas do Estado para a
iniciativa privada, conseguiu sair do papel.
Não bastasse
o início da fase dos factoides eleitoreiros, até mesmo a recomendação
emitida em fevereiro deste ano pela Promotoria de Justiça de Defesa do
Patrimônio Público e pelo Ministério Público de Contas, para que o
Executivo estadual restringisse os gastos públicos com publicidade enquanto
perdurasse a crise financeira, está sendo obedecida. Como é visível que a
situação de penúria continua igual – que o digam os servidores do
Executivo -, como explicar a proliferação de propaganda do governo
pelos mais diversos meios de comunicação, incluindo sites, blogs e
cinemas?
Aliás,
talvez por ter se dado conta de que a tentativa de antecipar a campanha
eleitoral já foi detectada, o próprio Piratini tratou de criar um antídoto para
o entusiasmo governamental. Produziu um vídeo,
gravado durante uma reunião do secretariado, onde Sartori, aparentemente
exaltado, diz que “quem estiver olhando só para a eleição do ano que vem
vai se dar muito mal”. Declaração tão espontânea e verdadeira quanto a
propaganda governista, que diz que as reformas promovidas pelo atual governo
permitem que os gaúchos tenham esperança em relação aos seus futuros. Uma
mensagem que se contrapõe ao discurso exaustivamente repetido pelo secretário
estadual da Fazenda de que “se o Rio Grande ainda não conhecia o caos, agora
iria conhecer”.
De todo esse
esforço, de todo esse empenho para tentar salvar um governo que
pouco fez e que ainda não disse a que veio, o que restará em outubro de
2018, quando os gaúchos escolherem o novo governador,
será apenas ruínas de uma guerra recessiva e predatória aos
interesses do Estado. E o atual governo quer que acreditemos nas suas boas
intenções? Fosse um governo realista, como Sartori tantas
vezes prometeu em sua campanha, já teria acreditado naquilo que
mais se escuta Rio Grande à fora: Mais quatro anos? Por quê? E
para quê?
.oOo.
Sergio Araujo é
jornalista.
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