O novo sempre vem!

Meus avós paternos são oriundos do campo, da localidade das Alegrias, interior das antigas Cacimbinhas ou Pinheiro Machado. Meus avós maternos também são originários da zona rural, da localidade do Bote, quase na divisa com o Uruguai. Portanto, meus pais também são crias do campo e conheceram as delícias, desafios e dificuldades da vida e das lidas terruneas. Eu mesmo cheguei a ter um breve contato com esse universo durante a minha infância.

Naquele tempo, a água era exclusivamente de cacimba e puxada de a balde. Energia elétrica nem pensar e a iluminação noturna das casas, ranchos e galpões eram feitas por luz de lampião. Mesmo os animados bailes de campanha se davam na penumbra. As estradas eram corredores de tropa e veículos movidos a motor eram uma raridade. Basicamente o ônibus que fazia a linha regular até a cidade, como o famoso ônibus do Alamir. Televisão, internet, redes sociais e celular eram coisa de outro mundo e bichos de sete cabeças, que ainda nem se supunha que pudessem existir. A informação se dava através do boca a boca, da troca de cartas, do envio de um recado ou bilhete ou ainda, por meio de um radinho a pilhas, que mal e mal captava as transmissões em ondas médias ou curtas.

Para ter acesso aos serviços de saúde era preciso se deslocar até a cidade, num tempo que não existia o SUS e quem não pudesse pagar acabava desamparado ou precisava contar com a solidariedade alheia ou dos médicos que não eram comerciantes de medicina. Para chegar na escola era preciso andar quilômetros no lombo do cavalo e muitos, como a minha mãe, eram proibidos pelos pais de estudar, pois o estudo que importava era aprender as tarefas da propriedade e sabendo ler mal e porcamente e acolherar umas letras, estava de bom tamanho, já que escola era coisa para os filhos dos doutores, patrões e grandes proprietários de terra.

O tempo passou e praticamente tudo que existe nas cidades, as famílias mais carentes do campo passaram a ter acesso facilitado ou mesmo adquiriram para suas casas e propriedades rurais. As distâncias ficaram curtas e a comunicação hoje é acessível a todos e em tempo real. Os serviços públicos, como saúde e educação estão a um passo de distância e, no caso da educação, o transporte dos estudantes é assegurado até a sala de aula. Os atendimentos de saúde são feitos diretamente na zona rural, de forma contínua e com foco na prevenção de doenças. Ao invés do boi ou do cavalo puxando o arado, os produtores recebem apoio de maquinário, insumos, sementes e outras formas mais de preparar a terra e produzir para o autosustento e atender a demanda do mercado consumidor.

De certo, a vida no campo continua sendo árdua, desafiadora, desgastante e adversa. Mesmo assim, comparando com um tempo que não faz muito tempo que ficou para trás, tudo é mais veloz e acessível. Hoje não faltam portas para bater e existem políticas públicas em todas as áreas que levam apoio permanente para melhorar as condições de produção e de vida das populações rurais. O próprio acesso às autoridades é bem mais simples e, ao contrário de antigamente, a relação não se dá de cima para baixo. 

Não obstante, não falta quem reclame de barriga cheia e viva alardeando um abandono que, na maior parte da vezes, não passa da postura atrasada de que "se hay govierno soy contra" e do velho vício de reclamar da vida sem agradecer às bençãos ou reconhecer o tanto que é feito pelo poder público e que sempre chega em seu benefício!

É a vida e cada um oferece aquilo que possui e certas coisas só são valorizadas depois que se perde, viram memória ou caem em mãos erradas!

Comentários

Anônimo disse…
Me lembrou muito minha infância, relembrar um passado não muito distante. Sábias palavras amigo Toninho, Parabéns!!

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