Ato político
O candidato a governador do RS pelo PMDB, José Ivo Sartori, se apresenta como nova política, porém aposta assustadoramente na velha tática do político "sabonete", que esconde de onde vem e para onde vai. Afinal, ele está se fazendo de "leitão vesgo" ou realmente não sabe o que fazer se vier a ser eleito? No meu ponto de vista, nos dois caos não merece confiança nem o voto!
Neste sentido, sirvo-me da profunda reflexão de Juremir Machado da Silva que alerta para o risco dessa política que tenta vender "gato por lebre" e pede que o povo gaúcho que sempre cobrou clareza de posições e firmeza de caráter, assine um verdadeiro cheque em branco nessa corrida eleitoral.
O PRINCÍPIO HOLOGRAMÁTICO NA PROPAGANDA DE SARTORI
Por Juremir Machado da Silva
José Ivo Sartori e Tarso Genro são dois
excelentes candidatos.
Admiro os dois e penso que o RS ficará
bem com qualquer um deles.
Representam visões opostas de gestão da
res publica.
Ambas legítimas e democráticas.
Dito isso, um pequeno ensaio…
A propaganda política de José Ivo
Sartori foi a que mais me chamou a atenção. Tecnicamente perfeita, apostou na
transformação do político num ser apolítico, “acima de qualquer briga, acima de
qualquer sigla, acima da esquerda, acima da direita”…
O princípio hologramático, concebido
por Edgar Morin, diz que a parte está no todo, que está na parte, como
estamos em cada uma das nossas células. Um partido político é a parte que busca
o poder para representar o todo. A propaganda de Sartori sugere que o partido
do seu oponente é a parte pela parte, sem o todo. É uma crítica plausível e
dentro das regras do jogo.
Em contrapartida, a propaganda de
Sartori sugere que ele será o todo sem a parte, o PMDB. Se houvesse um Procom
da propaganda eleitorial, o eleitor poderia reclamar de propaganda enganosa.
Como estaria acima de qualquer sigla aquele que representa um partido? Como
estaria acima de qualquer briga aquele que disputa uma eleição? Como pode estar
acima da esquerda e da direita aquele que tem posição no espectro político?
Sartori é um candidato. Por que a sua
propaganda tenta situá-lo, ao contrário do que ele mesmo sempre defende,
como o que ele não é? Colocá-lo fora de tudo não é uma forma de desinformar o
eleitor? Por que o Rio Grande do Sul valoriza uma forma de dissimulação pela
qual já se elegeram dois candidatos, que se apresentaram como estando fora da
polarização, embora um fosse do PMDB e outro, Yeda Crusius, tenha contado com o
apoio do PMDB? Que eleitor é esse que prefere acreditar na propaganda a
encarar a realidade da política como partes em disputa pelo direito de governar
para o todo?
Por que a mídia costuma se mostrar
cansada de polarização quando o próprio da política em qualquer lugar é a
oposição persistente de projetos e de visões de mundo, ainda mais quando esses
projetos têm conteúdo?
A propaganda de Sartori busca um
eleitor que parece ter problemas com crítica – quem bate, perde -, como se a
crítica fosse algo negativo em si e não pela pertinência ou impertinência dos
conteúdos. Não seria mais verdadeiro, ética e sincero assumir-se como parte
contra parte em nome do todo? Guy Debord diz que o “espetáculo se apresenta
como uma enorme positividade”, não diz “nada além de o que é bom aparece, o que
aparece é bom”. O que significa enorme positividade? A ideia de que toda
crítica, por ser negação, é ilegítima, ressentimento, inveja, ódio e
incapacidade de aceitar que o bom aparece e que o que aparece é bom.
A propaganda de Sartori faz a política
do espetáculo: o candidato aparece porque é bom e é bom porque aparece.
Toda crítica a ele é rejeitada previamente como negatividade, briga, parte,
partidarismo, saturação, ataque. Em vez de buscar o contraponto, a estratégia
de Sartori busca fixá-lo fora do ponto, situá-lo alhures, num não lugar
ideológico impossível, inexistente.
Que eleitor é esse que se deixar
seduzir por um efeito inverossímil de pacificação, uma jogada de marketing
repetida, uma embalagem bege? O mesmo que impede os candidatos nacionais de
falarem em aborto, LGBT e legalização das drogas?
Qual o limite da propaganda? Em
linguagem publicitária, a propaganda de Sartori anuncia uma coisa e terá de
entregar outra.
Se eleito, Sartori governará o todo a
partir de uma sigla, o PMDB, parte que já comprou muitas brigas e que olhará
para o passado, pois, quando fala de propostas, insere-se numa série histórica
começada com Antonio Britto, o que se vê em questões como pedágios, tamanho do
Estado, participação de empresas privadas nas ações governamentais e por aí
vai.
Absolutamente legítimo. A propaganda de
Sartori, contudo, passa a ideia de que estrategicamente não dá para ser claro
com o eleitor agora sobre essa visão de gestão. Daí certamente a estratégia de
não olhar para trás. Essa opção está pagando. Sartori lidera nas pesquisas e
poderá ser eleito. Mas é uma estratégia ética? Não flerta com a despolitização?
Não é uma forma de enganar o “consumidor” – tratando o candidato como um
produto total – ou seja, o eleitor, fazendo-o crer que vota numa terceira via
quando se trata de uma das vias da eterna polarização dominante no Rio Grande
do Sul?
Ou se trata de dar ao eleitor o que ele
quer, ser enganado com a promessa de paz e amor?
Alguns verão, como sempre, nesta
reflexão uma simpatia por um polo. Ledo engano.
São dois ótimos candidatos, sérios,
respeitáveis e dignos.
Mas Sartori não pode se colocar acima
daquilo que é, o candidato de uma parte.
Abre a guarda para que Tarso o acuse de
dissimulação.
Em linguagem vulgar, essa estratégia
pode ser vista como uma espécie de trapaça.
Em se tratando de lógica, um sofisma.
O outro poderia gritar: “Não vale˜.
É um lance argumentativo astucioso que
ludibria o destinatário.
Pode isso, Arnaldo?
Não deveria poder.
É quando o marketing se torna excessivo
e o slogan toma o lugar do argumento.
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