Ato político
"Ato político" compartilha uma análise tão irônica quanto brilhante de Juremir Machado da Silva. No desespero de voltar ao poder, as forças ortodoxas da velha política tentam transformar essa eleição num plebiscito aonde a escolha se resumiria entre o fica e o fora Dilma, criando um ambiente de guerra declarada e insana ao PT e todos os avanços alcançados na última década. Juremir, no entanto, repõe as coisas no seu devido lugar e convida a perceber tudo que está em jogo não apenas nessa corrida eleitoral, mas em relação ao futuro do país. Boa leitura e um bom voto em favor do Brasil que dá certo para todos os brasileiros e caminha de pé diante da geopolítica mundial.
Treze razões para não votar em Dilma
Juremir Machado da Silva
Vai mal o Brasil. Essa primeira razão
fala por si. Temos o menor desemprego dos últimos 12 anos. Uma vergonhosa taxa
de 5%. Culpa do PT. Só no Brasil mesmo. É mais uma jabuticaba brasileira.
Qualquer país europeu civilizado tem o dobro disso. A taxa média de desemprego
na Europa anda pelos 10,5%. A segunda razão para não se votar em Dilma é que a
taxa de mortalidade infantil entre nós caiu 77% entre 1990 e 2012. Como se vê,
o petismo nada tem com isso. Talvez tenha até atrapalhado.
A terceira razão para não se votar em
Dilma é que, entre 2001 e 2012, a pobreza extrema no país foi reduzida em 75%,
segundo a ONU, e a pobreza em 65%. Como se fez tão pouco! Por que não se
reduziu a zero a pobreza extrema? É muita incompetência. A quarta razão para
querer tirar Dilma do poder é o bolsa família. Esse famigerado programa
assistencialista e populista mantém cerca de 16 milhões de crianças na escola,
arrancou quase milhões de famílias da miséria e dá acesso ao mercado interno de
mais 50 milhões de pessoas. É inadmissível. Os beneficiados ficam contentes e
irracionalmente tendem a votar no governo que os ajuda. Um comportamento
racional os levaria a recusar esse benefício ou a votar pelos que o rotulam de
bolsa preguiça.
A quinta razão para se fugir de Dilma é
ProUni.
O ProUni é um programa devastador.
Botou, em dez anos, dois milhões de jovens pobres em instituições privadas.
Está acabando com uma das mais caras noções da meritocracia branca e rica: a
universidade para poucos, o curso superior como uma distinção de elite. Onde
vamos parar? As universidades agora têm alunos de todas as classes e cores. A
educação é um dos maiores problemas do Brasil. Está cada vez mais inclusiva e
multirracial. A sexta razão vem das cotas raciais. Mais um mecanismo
devastador. De repente, não tem mais só brancos nas salas de aulas de
instituições antes tão homogêneas. O preservador das tradições se assusta e
grita: “É um racismo às avessas”. O liberal repete seu mantra: “O importante é
ter as mesmas condições no ponto de partida”. Obviamente que isso nunca existiu
e, se depender de alguns, nunca existirá.
A sétima razão para não se votar em
Dilma é que os governos petistas criaram 14 novas universidades públicas e
centenas de extensões no interior dos país. Isso é lamentável, pois diminui a
importância das grandes cidades, estimula os jovens a não migrarem mais para as
metrópoles e, com o Enem, desvaloriza os vestibulares tradicionais. A oitava
razão é que, apesar do crescimento baixo, a inflação, considerada
altíssima, estourou o teto da meta uma vez. A oitava razão para se votar
em qualquer um, menos em Dilma, é que a taxa Selic, que chegou a 45% num dos
governos de FHC, só está em 11% atualmente. A nona razão para não se votar em
Dilma é que tudo isso não passa de uma estratégia para desviar a atenção da
corrupção, a maior que já vimos, exceto pelo que aconteceu nos últimos 500
anos, mas não foi noticiado, salvo nos governos de Getúlio e Jango, por não ser
do interesse dos donos da mídia ou dos discretos generais ditadores que
detestavam escândalos e amavam o Maluf.
A décima razão é que Dilma ganha no
nordeste. Tem o voto dos pobres. E pobre, como todo mundo sabe, especialmente
FHC, vota por interesse, com o estômago e com o bolso. Só rico vota por racionalidade,
desinteresse e idealismo como provam os lacerdinhas, os coxinhas e todos os que
recebem bolsas como o bolsa moradia dos togados.
A décima primeira razão para não votar
em Dilma é que ele pode continuar fazendo o que fez até agora.
A décima segunda razão para não votar
em Dilma é que ela é odiada pela mídia de Rio de Janeiro e de São Paulo, que,
como todos sabem, é uma mídia imparcial, neutra, objetiva e tucana só quando
não lhe sobra alternativa, ou seja, sempre.
Até dá para desconsiderar isso tudo e
votar. O problema é a décima terceira razão: nunca se aparelhou tanto o Estado.
Por exemplo, na educação. Eu não perdoo. Nem esqueço. Sei que isso é o mais
importante. O resto é pura perfumaria.
Anularei o meu voto. Na margem de erro,
acerto um ponto fora da curva.
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