Ato político
Bem antes da
última eleição, venho dizendo que a vitória de Bolsonaro e cia representaria a
vitória do Brasil do atraso, do Brasil da exploração, da sonegação, da evasão
de divisas, da corrupção nunca investigada e sempre impune...
Enfim, a
vitória do Brasil de antigamente que nem sequer usou algum disfarce, se
apresentando com sua face violenta, mesquinha e suja e, mesmo assim, conquistou
as mentes e os corações da maioria que se constituem em presa fácil desse projeto
excludente e assassino (senão de corpos, do sonho de uma humanidade melhor e
mais igual na terra tupiquinim).
Antes mesmo
de tomar posse, Bolsonaro cada vez mais confirma e deixa claro a que veio, a que interesses serve e quem deverá pagar a conta da gastança dos muito ricos do país e da
entrega das nossas riquezas aos gringos.
Bolsonaro devolve o Brasil ao século 19
Por Miguel Rossetto (*)
O anúncio da
extinção do Ministério do Trabalho é um caso de excepcional gravidade. Devolve
o Brasil à Republica Velha, pré-trinta, onde trabalhador não tinha direitos e
as questões sociais eram caso de polícia.
Junto com a
reforma trabalhista que fragiliza os direitos e dificulta o acesso do
trabalhador a justiça do trabalho, esta extinção é a senha para o saque
generalizado aos trabalhadores. Com a fiscalização do trabalho enfraquecida,
com Sindicatos fragilizados e com barreiras ao acesso à justiça não é difícil
antever o agravamento daquilo que já deveria estar a muito superado como o
trabalho escravo e as condições sub humanas de remuneração, de segurança e das
condições de trabalho.
Toda esta
avalanche de destruição é animada pelo mito mentiroso e interessado de que o
trabalhador brasileiro custa caro e tem muitos direitos, sintetizada na
inacreditável frase de Bolsonaro “é horrível ser patrão no Brasil”. O Brasil
segue sendo o campeão das desigualdades e da concentração da renda e da
riqueza. E é no mundo do trabalho que esta desigualdade se constrói. Baixos
salários e renda e riqueza concentrada. Pesquisa recente do IBGE mostrou que os
10 % de maior renda ficam com 46% do total dos rendimentos e que os 10% de
menos renda com 0.8% da massa salarial. Aponta também que 50% desta imensa
população ocupada, sem formalidade e trabalhando por conta própria, quase 45
milhões de trabalhadores recebe menos do que 1 salario mínimo por mês. A contra
reforma trabalhista, anunciada como condição para a retomada e formalização do
emprego se revelou uma grande mentira.
Hoje, são 13
milhões de desempregados e quase 28 milhões de brasileiros sub-ocupados. Uma
gigantesca população que luta diariamente para ter um trabalho, uma renda para
sobreviver e que pressiona brutalmente o mercado de trabalho, reduzindo
salários e condições de trabalho. Quase 90% das ocupações geradas nos país
foram sem carteira assinada e por conta própria, bicos. Encontramos todos os
dias estes homens e mulheres nas ruas das cidades.
Para se ter
uma ideia o salário mínimo brasileiro é dez vezes menor que o salário-mínimo
americano, o salário médio brasileiro é 75% menor que salário médio chinês,
país usado como exemplo para o achaque de direitos e renda.
O discurso do
custo da mão de obra é um truque e um acinte. Não tem qualquer amparo nos fatos
e serve apenas para aumentar a taxa de exploração do trabalho. A extinção do
Ministério do Trabalho, assim como o da Previdência é o mesmo tempo um anúncio.
O anúncio do fim do direito a aposentadoria e dos direitos dos trabalhadores e
da ampliação de forma insuportável da exclusão e da violência social.
Na próxima
visita que fizer aos EUA (país que admira tanto a ponto de bater continência à
bandeira de churrascaria), Bolsonaro podia aproveitar e visitar o Ministério do
Trabalho americano no prédio Frances Perkins, que nem Trump ousou tocar. Se
continuar achando que é horrível ser patrão no Brasil devia tentar ser
trabalhador.
(*) Miguel Rossetto foi Ministro do Trabalho e da Previdência
Social, e do Desenvolvimento Agrário.
Publicado em: https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2018/12/bolsonaro-devolve-o-brasil-ao-seculo-19-por-miguel-rossetto/
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