Ato político
Essa bestialidade na qual o país foi mergulhado já passou de todos os limites e o aparelho repressor do estado, acostumado a descer o cacete nos trabalhadores e movimentos sociais, fingem que nada acontece nem é com eles.
Nada ficou provado contra Lula. Depois de inúmeras devassas em sua vida, tudo que existe contra ele são as convicções desconexas e fantasiosas de um bando de bunda mole que tem medo de enfrentá-lo nas urnas e chegaram ao absurdo de rasgar o código penal (depois de terem rasgado a constituição), num ato desesperado para tirá-lo do páreo eleitoral.
Mas mesmo que Lula fosse culpado, nada justifica essa selvageria. Por que não agem com a mesma fúria contra Temer, Aécio, Jucá, Serra, Alckmin e cia? Ladrões praticamente confessos, já que entregaram todo o esquema a partir de gravações que foram amplamente divulgadas em todo o país ou foram flagrados com a boca na botija, com seus servos carregando malas abarrotadas de dinheiro ou com a descoberta de contas milionárias em paraísos fiscais.
A briga desses botas lustradas e outras tantos lacaios ou filhinhos de papai nunca foi contra a corrupção. A briga deles é para o Brasil voltar a ser o Brasil de tempos atrás, no qual só esses senhores de escravo tinham voz e vez, com a imensa maioria condenada antes mesmo de nascer a viver nas sombras que existem abaixo da linha da pobreza.

O mais
grave de tudo isto é que estes grupos fascistas, violentos e terroristas contam
com a complacência da grande imprensa, de partidos ditos de centro como o PSDB,
da OAB, do governo Temer, das presidências da Câmara e do Senado, da
presidência do STF e de alguns candidatos à presidência da República. Afinal de
contas, não se ouviu nenhuma dessas vozes condenar a violência contra a
caravana.
Cabe
perguntar: onde estão os editoriais dos grandes jornais contra a violência que
atingiu a caravana de Lula? Jornais que sempre foram ávidos a cobrar posições
das esquerdas contra atos esporádicos de violência de militantes... Será mero
acaso que os grandes jornais deram generosos espaços, no fim de semana, a
generais golpistas, a exemplo do general Antônio Hamilton Martins Mourão?
Por que a
OAB, a presidência da República, a presidência do STF, as presidências das
Casas Legislativas, o Ministério da Justiça, o Ministério da Segurança Pública
e o Ministério Público Federal não se pronunciaram até agora? Por que o "democrata"
Fernando Henrique Cardoso silencia ante esses ataques fascistas? Por que os
pré-candidatos Alckmin e Rodrigo Maia não emitem nenhuma palavra sobre essa
violência política? Onde estão todos? Estão com medo? São coniventes? Ou são
cúmplices? É preciso advertir esses emudecidas personagens acerca de que esse
silêncio conivente de hoje poderá proporcionar que amanhã também se tornem
vítimas dessa violência fascista.
O PT e os
democratas precisam pressionar essas autoridades e esses representantes políticos
para que se pronunciem sobre esta violência fascista. Ou eles se manifestam e
adotam atitudes ou a história os cobrará amanhã acerca do seu covarde silêncio.
Esses grupos e dirigentes políticos, na verdade, abrigaram o fascismo nascente
no processo do golpe que derrubou a presidente Dilma. Desmoralizados, porque
muitos deles se revelaram moralistas sem moral, envolvidos em graves casos de
corrupção, se acovardaram e, agora, por falta de coragem, por covardia ou por
cumplicidade se calam ante a escalada de violência fascista que poderá
mergulhar o Brasil numa guerra civil.
Guerra
civil sim, porque esses grupos fascistas e terroristas estão caminhando
rapidamente para o paramilitarismo. Os defensores da democracia não podem
assistir passivamente a escalada de violência desses grupos. Antes de tudo,
precisam organizar a sua autodefesa porque, como foi visto em São Miguel do
Oeste (SC), as polícias tendem a ser coniventes com esses grupos terroristas.
Em
segundo lugar, é preciso cobrar do governador de Santa Catarina um
esclarecimento acerca da passividade da polícia em face da violência desses
grupos. Em terceiro lugar, é preciso levar a senadora Ana Amélia Lemos à
Comissão de Ética do Senado por apoiar e estimular a violência política. Em
quarto lugar, é preciso promover uma ampla campanha de esclarecimento da
opinião pública acerca desses grupos violentos e criminosos. Em quinto lugar,
como já sinalizou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é necessário fazer uma
ampla denúncia internacional acerca da existência desses grupos fascistas e
acerca da conivência das autoridades para com os mesmos.
Por outro
lado, já passou da hora de Lula, Ciro Gomes, Guilherme Boulos e Manuela D'Ávila
se reunirem para divulgar um manifesto conjunto em defesa da democracia, da liberdade
e da justiça e de condenação da violência política e social que graça pelo
país. Se não é possível construir uma candidatura de unidade do campo
progressista, os candidatos precisam mostrar uma unidade de propósito neste
momento grave do país: a luta para defender a democracia que não temos.
Ação
fascista: mentiras, violência e covardia
Esses
grupos fascistas brasileiros, que proliferaram nos últimos anos, não fogem à
tipologia clássica de ação dos movimentos totalitários já mapeada e descrita
por vários estudiosos, notadamente por Hannah Arendt. Grupos e movimentos
totalitários, quando ainda não estão no poder, se ocupam, fundamentalmente, da
propaganda dirigida a pessoas externas aos mesmos visando convencê-las. A
característica principal dessa propaganda é a mentira. O contemporâneo fake
news foi largamente utilizado pelos nazistas e, em escala menor, pelos
fascistas de Mussolini. Não há nenhuma novidade nisto. As mentiras monstruosas
que esses movimentos propagam visam entreter o público para convencê-lo e para
aliviar as pressões críticas sobre si mesmos.
Aqui no
Brasil, recentemente, viu-se como o MBL e outros grupos agiam no processo do
golpe. Mentiam sobre a corrupção do governo Dilma enquanto se aliavam e
apareciam em público com os maiores corruptos do país: Eduardo Cunha, Aécio
Neves e outros. Aliás, Aécio e o PSDB patrocinaram esses grupos. Eles mesmos
são integrados por corruptos e, geralmente, por indivíduos enredados em teias
criminosas. E mentem de forma impiedosa e criminosa sobre Marielle quando esta
não pode mais defender-se.
Se,
externamente, esses grupos se dedicam a propaganda, internamente seu objeto é a
doutrinação. Notem o que diz Arendt: "Se a propaganda é integrante da
'guerra psicológica', o terror é-lhes ainda mais inerente". Foi usado em
larga escala pelos nazistas, que definiam o terror como "propaganda de
força". Arendt adverte que ele aumentou progressivamente antes da tomada
do poder por Hitler "porque nem a polícia e nem os tribunais processavam
seriamente os criminosos da chamada Direita". Qualquer semelhança com o
que temos hoje no Brasil não é mera coincidência.
Crimes
contra indivíduos, ameaças e ações violentas contra adversários caracterizam a
propaganda e o terror desses grupos. Tem-se aí o assassinato de Marielle e de
outros líderes sociais e comunitários e a violência contra a caravana de Lula.
Temos a violência verbal nas redes sociais que também é uma forma de
propaganda. Não é possível subestimar esses atos, pois englobam elevado perigo
num mundo anômico e num país com as instituições destruídas. Todos esses atos,
essa violência, esse terrorismo, têm o mesmo pano de fundo: o crescimento do
fascismo no Brasil.
Se a
primeira característica desses grupos é a mentira, se a segunda é a violência,
a terceira é a covardia. Geralmente praticam a violência contra vítimas
indefesas. Veja-se a suprema covardia no assassinato da Marielle. A covardia da
tocaia na execução de líderes sem-terra, líderes indígenas e militantes
ambientalistas. Os agroboys covardes que atacaram a caravana de Lula agrediram
mulheres, inclusive uma mulher que está em tratamento de câncer e que estava
com seu filho de dez anos. São esses covardes que a igualmente covarde senadora
Ana Amélia Lemos exalta. É preciso detê-los. Detê-los com a militância nas
ruas, a exemplo dos atos de protesto contra a execução de Marielle, a exemplo
dos professores paulistanos e exemplo de tantos enfrentamentos pelo Brasil.
Detê-los com as candidaturas de Ciro, de Boulos e de Manuela. E é preciso
detê-los com a candidatura de Lula até o fim.
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