Ato político
Insatisfação
é legítima, mas nunca será motivo para derrubar nenhum governo. Fazer oposição
também é legítimo e necessário, desde que se saiba aceitar a derrota e com
respeito às regras do jogo democrático.
O fato
concreto e objetivo é que não há nenhuma razão de ordem jurídica e sequer
motivo político para mobilizar o país na direção do impeachment da presidenta
Dilma.
Ha, mas e
as dificuldades que o país enfrenta atualmente na economia? Dificuldade
econômica afeta o bolso da população e também o desempenho do governo, porém
não motiva impeachment de nenhum governante. Se fosse assim, a maioria dos
governos dos países europeus já teriam sido derrubados, uma vez que a crise por
lá chegou bem mais cedo e com muito mais força que no Brasil.
Ha, mas e a
corrupção na Petrobras? A corrupção na Petrobras foi descoberta a partir de instituições
e mecanismos criados ou fortalecidos pela ação de Lula e depois Dilma. Além
disso, o governo tomou todas as medidas que lhe competiam, de modo a não
proteger os denunciados, colabora intensamente com as investigações e está
adotando medidas concretas para dificultar a ação dos corruptos daqui para
frente, sejam eles agentes públicos ou empresários que mantém contrato com a
administração pública.
Situação bem
diferente da registrada durante os governos tucanos, aonde os muitos escândalos
de corrupção eram abafados, a sujeira toda foi varrida para debaixo do tapete e
os suspeitos de corrupção continuam todos soltos e pousando de bons moços.
Portanto,
ao invés dos xingamentos e vaias, Dilma merece os aplausos das pessoas de bem
que querem o bem do Brasil, pois nossa presidenta vem tendo a cara, a coragem e
a sensibilidade que somente as mulheres sabem ter, de defender o Brasil e o
patrimônio brasileiro, sem abrir mão do dever de arrumar a casa, tanto em
termos econômicos quanto no que se refere ao enfrentamento da corrupção.
Para um
homem talvez fosse mais fácil passar a mão por cima ou deixar para depois,
porém Dilma não foge da raia e passa as denúncias a limpo, mas também não aceita ser
jogada e muito menos jogar o país na boca dos leões, e paga o preço por fazer a
coisa certa e bater de frente com aqueles que sempre se julgaram donos de todos
e tudo por aqui.
No entanto,
os lobos vestidos em pele de ovelha não querem o mesmo que nós e a presidenta
Dilma. Nós queremos um Brasil melhor e mais limpo, enquanto eles querem
derrubar ou sangrar o governo para retomar o poder e fazer o Brasil voltar a funcionar
bem apenas para um terço da população. Nós queremos um clima de paz, prosperidade
e progresso para todos, enquanto eles querem incitar a raiva e atear fogo no
país, pois sabem que um povo dividido e com ânimos acirrados é facilmente
manipulável e aceita cair nas garras de qualquer aventura ou se jogar nos
braços do primeiro aventureiro que aparece.
Neste
sentido, é fundamental a leitura da escrita de Luís Fernando Veríssimo. Ela mostra
um pouco de tudo o que está em jogo e ilumina as trevas lançadas sobre o Brasil
e os brasileiros pelas forças que já nos assombraram tanto no passado e não
aceitam “largar o osso”, nem que seja preciso incitar um golpe.
O fenômeno do ‘espírito golpista dos ricos contra
os pobres’
Luís Fernando Veríssimo

Nada
do que está escrito no parágrafo anterior foi dito por um petista renitente ou
por um radical de esquerda. São trechos de uma entrevista dada à “Folha de São
Paulo” pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que, a não ser que tenha
levado uma vida secreta todos estes anos, não é exatamente um carbonário. Para
quem não se lembra, Bresser Pereira foi ministro do Sarney e do Fernando
Henrique. A entrevista à “Folha” foi dada por ocasião do lançamento do seu novo
livro “A construção politica do Brasil” e suas opiniões, mesmo partindo de um
tucano, não chegam a surpreender: ele foi sempre um desenvolvimentista
nacionalista neokeynesiano. Mas confesso que até eu, que, como o Antônio Prata,
sou meio intelectual, meio de esquerda, me senti, lendo o que ele disse sobre a
luta de classes mal abafada que se trava no Brasil e o ódio ao PT que impele o
golpismo, um pouco como se visse meu avô dançando seminu no meio do salão — um
misto de choque (“Olha o velhinho!”) e de terna admiração. Às vezes, as
melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de
onde menos se espera.
Outro
trecho da entrevista: “Os brasileiros se revelam incapazes de formular uma
visão de desenvolvimento crítica do imperialismo, crítica do processo de
entrega de boa parte do nosso excedente a estrangeiros. Tudo vai para o
consumo. É o paraíso da não nação.”
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