Ato político
Corrupção não se combate apenas com
discurso ou a tentativa desvairada de criminalizar um partido, somente um
lado da política ou a esfera pública de um modo generalizado e irremediável. No momento atual da república brasileira, a reforma política
é uma medida concreta, eficaz e inadiável não apenas para fortalecer a boa
política, mas para combater a corrupção que nasce da relação promíscua entre o
público e privado, e vice-versa.
E Henrique Fontana é uma das vozes mais
lúcidas e fortes em defesa da reforma política, uma luta que vem esbarrando no
jogo de interesses da maioria do Congresso Nacional, cujo resultado é que um
país que avançou tanto nos últimos anos em termos sociais e econômicos, ficou anos luz para trás
de outros países no que se refere às regras do jogo político-eleitoral.
Que em 2015 possamos dar passos largos na
direção de uma reforma política profunda e renovadora, para o bem da política e
de todos nós que, queiramos ou não, somos influenciados pelas jogadas e decisões tomadas no meio político.
A Reforma Inadiável
Por Henrique Fontana

Mas
não é por ausência de propostas e caminhos coerentes que devemos aceitar a
falta de definição do Congresso Nacional a respeito da reforma política. Em
face do imobilismo do parlamento, a proposta de reforma política defendida pela
OAB, CNBB, UNE, em conjunto com mais de 72 entidades representantes da
sociedade civil, é extremamente consistente ao enfrentar os problemas do modelo
vigente: por intermédio de três propostas coerentemente articuladas, o Projeto
de iniciativa destas entidades veda o financiamento das empresas para as
campanhas eleitorais, limita o valor do financiamento das pessoas física se
estabelece um teto dos gastos para cada um dos cargos em disputa.
Para
que a reforma política possa avançar, diante da paralisia do Congresso
Nacional, que tem se negado a promover mudanças profundas no sistema vigente,
três caminhos não excludentes são possíveis: a) o primeiro, tal como defendido
pela presidenta Dilma, desde junho de 2013, é a organização de um plebiscito no
qual a população se manifestaria a respeito do sistema vigente e as melhores
maneiras de alterá-lo; b) o segundo, é a votação de um projeto de lei por
iniciativa do próprio Congresso, que posteriormente passaria por um referendo;
neste caso defendemos que a melhor base é começarmos pela votação do mencionado
projeto de iniciativa da OAB, CNBB, UNE e demais entidades da sociedade civil;
c) a convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva para tratar da reforma
política.
Em
face dos problemas do modelo vigente, qualquer uma das três alternativas
apresenta um caminho viável para sairmos do imobilismo atual. Não podemos
aceitar que uma nova eleição seja disputada com as regras vigentes,
responsáveis por favorecer o abuso do poder econômico, o personalismo dos
candidatos e pela ausência de consistência programática dos partidos políticos.
Também
gostaria de lembrar que, em face da urgência no qual este tema se coloca para
todos aqueles que querem o aperfeiçoamento da democracia brasileira, devemos
acompanhar com atenção o desfecho do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal
de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada pela OAB sobre o
financiamento das pessoas jurídicas nas eleições. Com placar de seis votos a
um, favoráveis à vedação das contribuições das pessoas jurídicas nas campanhas
eleitorais, o julgamento está paralisado,desde abril deste ano, em função do
pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes. Ao ministro Gilmar Mendes fica aqui
meu pedido em nome de milhões de brasileiros que aguardam a conclusão deste
histórico julgamento que poderá ser decisivo para mudar a política brasileira.
Em
síntese, a reforma política que desejamos será gestada na confluência das três
propostas acima e em função das consequências legais do julgamento da ADIN
impetrada pela OAB. Para os que defendem o status quo, não
terá chegado o momento de saírem do silêncio que revela cumplicidade com as
regras vigentes?
* Deputado Federal, PT-RS,
líder do Governo Dilma na Câmara dos Deputados
* Artigo publicado no Portal Sul
21 em
6 de dezembro de 2014
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