Pensar é preciso!

Foi minha
primeira reflexão depois de ler a transcrição da entrevista.
A edição é
venenosa à sua maneira. A Globo, para se preservar, não grita como a Veja. Só
que cuida de despejar sobre sua audiência o mesmo tipo de veneno, apenas mais
sutilmente, mas com o mesmo resultado e com a mesma finalidade.
O veneno
não estava em Venina. Ela está contando sua história, e cabe averiguar.
A maldade
estava na maneira como Venina foi usada.
Dilma, no
final, é citada – pela Globo. Numa tentativa de desmoralizá-la, a Globo diz que
Dilma afirmou que não existe uma “crise de corrupção”.
No meio de
uma entrevista que trata exatamente de corrupção, a frase de Dilma parece o
triunfo do cinismo.
Mas o
cinismo é da Globo. É mais uma tentativa, como Roberto Marinho fez tantas vezes
primeiro contra Getúlio e depois contra Jango, de rotular como corruptos
regimes que não garantem a manutenção de mamatas e privilégios a um pequeno
grupo.
A Globo faz
assim, tradicionalmente: cala quando a corrupção é amiga. Na ditadura, quando a
empresa virou um gigante, corrupção não existia, numa troca macabra de favores.
Sob Sarney
e FHC, amigos e aliados, também não. Para a Globo, sequer a compra de votos da
reeleição de FHC foi notícia.
Agora, o
amigo Aécio também goza de imunidade. Que cobertura a Globo deu ao aeroporto de
Cláudio? E ao helicóptero com meia tonelada de pó dos Perrelas, amigos
fraternais de Aécio? A Globo é assim: também os amigos dos amigos recebem
tratamento especial.
A este tipo
de comportamento delinquente jornalístico se junta o descaro com que a Globo
sonega – uma forma de corrupção que, se não combatida, destrói a economia de
qualquer país.
Claro que
Lula não poderia também escapar da edição da entrevista.
Venina
repete uma frase segundo a qual seu chefe, em certo momento, teria olhado para
um retrato de Lula e dito que ela estava colocando em risco muita coisa.
Este
alegado olhar numa alegada conversa é o bastante para a Globo, na edição,
incluir Lula na trama.
Lula, o
espectador do Fantástico, não quis conceder entrevista sobre o assunto.
Que a Globo
esperava? Que ele dissesse que aquele não era seu retrato? Que se o presidente
fosse FHC jamais seria citado? Que a Globo devia mostrar o Darf?
Fora isso,
o que se viu foi o jornalismo preguiçoso e declaratória. Venina diz que
contratou os serviços da empresa do então namorado e depois marido porque ela
era realmente “boa”. Foram mais de 7 milhões de reais para a empresa do
namorado, sem licitação. Por que a Globo não foi investigar a suposta
excelência da empresa favorecida?
De novo:
600 milhões por ano em dinheiro público, via propaganda federal, para a Globo
fazer este tipo de jornalismo.
Você
certamente conhece a tese da “servidão voluntária”, de um grande amigo de
Montaigne, La Boetie.
Ele dizia
que povo nenhum estava obrigado a aturar tirania nenhuma. Bastava se insurgir.
O governo
do PT, ao financiar por iniciativa própria a Globo et caterva, pratica
exatamente a servidão voluntária de que La Boetia falava.
Por Paulo Nogueira - jornalista
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